segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Trocando uma Idéia com Maquiavel

Entre um e outro devaneio, uma cuia de chimarrão. A memória falha pelo pessimismo e tento lembrar-me de coisas simples, dessas que já fizeram alguma diferença; Coisas que hoje ocupam algum lugar empoeirado na prateleira, ou em algum cantinho escuro da memória. É engraçado como as lembranças vão se acumulando desordenadas em nosso arquivo mental e mesmo empoeiradas e esquecidas, influenciam nossa vida.

Tudo isso acaba moldando nosso caráter. Apesar da ciência tentar atribuir isso às hereditariedades genéticas, não acredito que caráter seja uma informação latente ao DNA do individuo. Não acredito que as pessoas nasçam boas ou más. Quem faz isso, quem molda essa argila é a vida. Se a física diz que toda ação resulta uma reação, a vida também reflete isso nas pessoas. Mas a vida nunca foi e nem nunca será ciência exata. Das certezas que temos, quem sabe a morte. E ainda assim, da certeza sobre as certezas que temos, ainda questionamos se é possível ir alem da morte.

Entendo onde Maquiavel queria chegar quando disse que é melhor ser temido, que amado. Alimentei inconscientemente essa pratica durante muitos anos. E em algumas situações isso funcionou realmente, pelo ponto de segurança que se cria. Mas o cotidiano vai quebrando a rigidez dos nossos nervos de aço. Ninguém é absolutamente forte pra manter essa armadura espinhosa o tempo todo. E até mesmo eu que sempre me fechei na segurança do casulo, percebi que o mesmo casulo que afasta o perigo, afasta também o afago. Hoje acredito em uma trindade regida basicamente pelo Respeito.

Não quero ser amado por fé cega. Acho muita responsabilidade vestir uma roupa de herói afim de defender os oprimidos. Mesmo que durante anos esse tenha sido meu maior desejo. No fundo colocar-se nessa condição de herói protetor é só reflexo da necessidade de proteção. É quase um apelo de quem se sente tão frágil que precisa acreditar ter força de salvar o mundo, pra assim, salvar a própria pele.

Nunca salvei ninguém, nem a mim mesmo. E acho justo que alimentem ódios e rancores contra mim. Sempre fui humano a ponto de enlouquecer sem me importar com a imagem arranhada. Imagem mais que arranhada é a minha. Aos que alimentam algum ódio por mim, exijo apenas um bom motivo. E pra isso me encarrego de garantir que motivos não faltarão. E ainda assim com um bom motivo, em reciprocidade peço como gesto de cavalheirismo, que respeitem minha condição de humano errante, de caráter duvidoso, de qualidades e defeitos expostos feito carne crua.

No fundo nunca pensei em ser temido, nunca me agradou fazer esse tipo bad boy. Apesar da aparência sempre ter sido favorável, e da minha timidez só aumentar esse mito. Ainda hoje me pergunto se alguém realmente faz idéia de quem é o homem atrás da armadura, quem é a criança escondida no casulo. Mas isso pouco importa, quando as feridas começam a sangrar o seguro é fazer sangrar também quem as causou.

Eu não sei exatamente quem eu sou e se mereço ser temido ou amado. Não acredito que alguém possa responder essa pergunta sem antes ter estado nos mesmos lugares que eu. Ter tido os mesmos sonhos e os diversos pesadelos. Enfim, todos esses caminhos e vivencias que moldaram a ferro e fogo, uma criatura tão estranha. E a sobrevivência de estranhas criaturas depende da infalível capacidade de se isolar, de se esconder e fugir.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

De Volta ao Casulo...

Quem tem verdadeiramente consciência/capacidade de admitir os próprios erros..??? Quem entre nós; Eu, você e aqueles ali do outro lado da rua. Quem verdadeiramente consegue aceitar que é frágil e ingênuo diante dos próprios defeitos.???

Eu queria muito ser assim.

Tenho poucos vícios, assim como tenho poucos amigos. A intensidade sempre foi mais importante que qualquer outra coisa. Por isso afirmo que tenho os melhores amigos e tenho também os mais destrutivos vícios. Meus amigos também têm vícios que certamente vão alem dos vícios de linguagem, e essa característica de sermos humanos e imperfeitos nos aproxima ainda mais. Se sou careta pras chamadas drogas ilícitas, sempre tive um orgulho que beira a ignorância. Orgulho que foi construído pela minha geração de jovens alcoólatras.

Há muitos anos brigo com uma sina quase genética de procurar a melhor companhia, entre meus mais cruéis inimigos. Buscar o isolamento nos dias tristes é como agarrar-se a uma ancora, para salvar-se do naufrágio. Buscar conforto em um bom copo de uísque é a mais patética das fugas. Aquela ilusão nítida e cristalina de liberdade, que na verdade só faz encolher nossa própria jaula. Dizem que a gravidade de um vicio esta na frequencia com que ele coloca em risco as atividades do cotidiano. Eu diria que tambem está na frequencia com que coloca em xeque o nosso carater.

Meus amigos e vícios são responsáveis por grande parte das boas lembranças que tenho na vida. Eles muitas vezes me fizeram ter coragem de dar um passo adiante, ou de recuar quando era o mais sensato. Meus amigos sempre estiveram comigo nos momentos em que eu mais precisei, mesmo que fosse dando a liberdade de escolher o isolamento. Meus amigos, pessoas comuns, que assim como eu tem tantos vícios e defeitos. Amigos que, de fato não sei se mereço.

Meus vícios sempre potencializaram o talento incrível que tenho pra foder com tudo. E se estou escrevendo crônicas hoje, é mais por sorte do que por ter feito boas escolhas.

Mas antes que eu repita isso mais uma vez, e consciente que algumas decisões só chegam tarde demais. Preciso fazer valer esse pouco de caráter que tenho. Apesar de não ter autoestima suficiente pra superar todos os meus defeitos e vícios, há uma encruzilhada vital a minha frente e preciso escolher um caminho. E todos levam a uma grande peleja.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Crônica Anunciada: Muito Alem do Genero...

Para os que preferem a ciência, escreverei sobre o gênero feminino da espécie dos Homo sapiens. Biologicamente cromossomos XX. Assim como as demais criaturas sexuadas, Fêmea; Responsável por produzir gametas femininos e ser o "receptáculo" para a gestação dos filhotes da espécie. Antropologicamente, responsável pela coleta de alimento, pela criação e alimentação da prole. E pelo constante (incessante) enlouquecimento dos machos da espécie.

Mas há quem prefira outra abordagem. Então biblicamente ...

Concebida da costela de um certo boneco de barro chamado Adão. Responsável pela decadência desse mesmo homem, levando com suas voluptuosas formas que Adão caísse na tentação da libertinagem. Infantilmente metaforizada por uma serpente malvada e por uma suculenta maça. Talvez por essa culpa capital, fruto de uma lenga lenga sem fim chamada religião, seja historicamente subjugada como criatura inferior, e até mesmo com capacidade intelectual duvidosa. Já que do ponto de vista religioso, sempre teve um papel secundário ou até mesmo conflituoso.

Historicamente subjugada sem o menor constrangimento. Seja como moeda de troca entre beduínos nômades ou nobres ingleses. Queimada em fogueiras pela inquisição de uma igreja machista e sexista. Impura pela genética de um ciclo menstrual, pecadora por elevar a libido dos homens, e assim, levá-los a cometer loucuras "não inerentes" ao seu caráter.

Em uma crônica, na maioria das vezes, não consigo separar o que é didático do que é lúdico. Mesmo que o tema tenha mais peso pra um ou outro lado na gangorra. Sempre acabo misturando tudo, ironizando o que é didático e exagerando o que é lúdico. Quando aceitei a doce sugestão de escrever sobre um tema tão amplo, tentei imaginar como seria começar a trama dessa conversa. E havia uma idéia que ficava sempre muito clara. "Mulher é algo que vai muito alem do gênero". Ciência e religião são pragmáticos em suas abordagens, e isso deixa toda definição muito extrema. E todo extremismo é patético.

Talvez o melhor seja uma mistura romantizada de tudo que ciência e religião nos impõe. A genética progenitora, protetora ainda que frágil. Essa capacidade de ser mãe, de uma força transbordante, e ser filha, de ternura e graça. A capacidade enlouquecedora de ser a tempestade e ao mesmo tempo ser o melhor abrigo. Ao caralho então, ciência e religião com suas prolixas verdades absolutas. Pois verdadeiramente o único que consegue definir a mulher, é o poeta.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Circulo Vicioso das Coleiras

Há algum tempo presenciei algo que me chamou a atenção. Pelo corredor de um hotelzinho de interior, vi um pai passeando com o filho. Cena corriqueira e bonita, não fosse o gurizinho estar preso por uma coleira. Um tanto quanto assustador pra um cara que até pouco tempo vivia feliz da vida nos confins do interior também. A coleira consistia em uma cordinha amarrada ao pulso do pai e ao pulso do filho. Que pelo tamanho devia ter bem uns quatro anos. Não quero julgar o protecionismo do pai ou a hiperatividade do filho. Nem quero calcular a selvageria que o moleque pudesse causar, colocando em risco outras pessoas. Conheço umas crianças que ficariam muito bem de focinheira, pra evitar maiores danos. Mas o fato é que a cena pareceu pitoresca demais pra mim.

O problema enfim não era a coleira, a focinheira ou a camisa de força. Que seria um caminho natural na sucessão de poder do dominante sobre o dominado. Fato é que no meio do caminho da historia realmente alguém despirocou nessa parada de super proteção. Seja censurando filmes ou vídeo games violentos, seja nessa onda de brinquedos super seguros. Inventaram uma liberdade de expressão para as crianças, que não reflete nenhuma liberdade de ação. Estamos criando uma geração de bonecas de louça incapazes de reagir, interagir e principalmente defender-se de forma natural.

Acredite, o mundo é um lugar perigoso. Sempre foi e sempre será. Por isso tenho algum respeito quanto à coleira do pai com o filho.

Mas vou contar agora outra historinha, essa, bem inusitada também. Há muitos anos eu namorava uma guria deveras ciumenta. Ciúme ingrato, porque sempre fui um cara careta demais pra merecer todas aquelas desconfianças. Certa vez num dos poucos momento de paz, ela me acusou, falando de um nome que eu desconhecia. Lembro bem, Áurea e um telefone. O papelzinho com nome e telefone tava dentro da minha carteira, dobradinho em algum canto. A briga foi grande e eu me neguei a explicar que Áurea era a pessoa de quem tinha comprado o presente de aniversário dela, pela internet. Que o numero de telefone era na verdade um Fax pra onde eu tinha mandado um comprovante de deposito. Não expliquei, como ela não explicaria o porquê de ter ido bisbilhotar nas minhas coisas, na minha carteira.

Enfim, liberdade não é algo pra tirar de alguém que se ama. O pai tira a liberdade do filho com uma coleira e o cara cresce acreditando que quem ama é a pessoa que ta do outro lado da coleira. E assim quer colocar coleiras nas pessoas que ama, e aceita as coleiras que lhe são colocadas "por amor". Criando um circulo vicioso de poder baseado tão erroneamente, num sentimento que não é de posse, não é de domínio. Privacidade é coisa de quem nasce sozinho, Um ovulo, um espermatozóide, um útero. Um ser humano, com uma alma (pra quem acredita), um cérebro (mesmo quem não usa tem um) e uma história de vida. Liberdade é o que temos de mais valioso, não fosse assim, já nasceríamos com coleiras e algemas. Privacidade é ter a liberdade de ser o que quiser ser, sem o julgamento de quem se acha no direito de lhe reprimir, de lhe monitorar ou controlar.

Eu acredito realmente que as pessoas precisam de um pouco mais de liberdade (dar liberdade e receber liberdade). Menos coleiras e mais portas, dessas que se possa decidir quando abrir e quando fechar, quem entra e quem sai das nossas intimidades. Quem nasce e cresce sozinho, acostuma e sabe que isso não muda nunca. Se autoconhecimento é importante, é mais importante ainda ser sua própria melhor companhia. Pra quem não tem fé em divindades, estar sozinho é como fazer uma oração. O encontro com o que se tem de melhor e pior, o confronto da consciência, a peleja da razão com a emoção. Enfim, é parte fundamental da vida.

Portanto, das tantas bobagens que escrevo, e ironicamente busco privacidade publicando crônicas na internet. Por favor, percebam o lado lúdico de tudo isso, que todo poema tem uma metáfora mais forte que nossa pseudo capacidade de entender tudo. Que há muito mais ficção nas crônicas, no amontoado de palavras, que há de fato na vida. Mas que privacidade é tão importante pra mim quanto um copo de uma boa cerveja. "Tira-me o pão, o ar se quiseres, só não tire minha privacidade, sem ela eu morreria."


Dedicado a todos que chegaram aqui, bisbilhotando a vida de alguem que "ama".

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Evolução Humana - Sickness Society

Vivemos em tempos cada vez mais difíceis, ainda que digam que a sociedade esta em franco desenvolvimento. Dizem que isso é evolução; Curar doenças, conquistar a lua, Marte e o universo todo quem sabe. Dizem que em alguns anos a media de vida dos humanos será de 120 anos. Que teremos a cura de doenças que hoje sentenciam de morte nossos corpos frágeis e maltratados pelo ambiente hostil que criamos para viver.

Construímos prédios de concreto e aço armado que prometem tocar as nuvens. A liberdade de ter todo o céu ao nosso alcance, mas acabamos por fazer deles uma masmorra, a torre do castelo que nos aprisiona. Construímos carros cada vez mais velozes, mas incapazes de evitar um acidente. Carros bonitos e velozes incapazes de escapar de um engarrafamento de mais carros bonitos e velozes.

Há um verso da musica "Guitarra Y Vos" do Jorge Drexler que lembrei agora:

" Hay manos capaces de fabricar herramientas
Con las que se hacen máquinas para hacer ordenadores
Que a su vez diseñan máquinas que hacen herramientas
Para que las use la mano "

...Há mãos capazes de fazer ferramentas, Com essas que fazem máquinas para fazer computadores. Que por sua vez desenham máquinas que fazem ferramentas, Para que se usem as mãos...

O fim do controle do clero sobre o conhecimento cientifico e a ruptura definitiva entre e ciência e religião foram preponderantes para a evolução da humanidade. Mas até que ponto podemos chamar isso de evolução? O que diria Darwin de tudo isso, dessa nossa evolução às avessas. Onde nos tornamos cada vez mais frágeis e mais dependentes das estruturas que inventamos a fim de facilitar nossas vidas. Do homem pré histórico que começou a carregar consigo a ferramenta, ao invés de fazer uma sempre que necessário, aos dias de hoje em que, sem ferramenta tornamo-nos infantis, e incapazes. O quanto disso é verdadeiramente evolução?

E assim então, construímos maquinas complexas para tarefas simples. Substituímos a limitação da manufatura pela automatização de todos os processos possíveis. Não há duvidas que nossa intima intenção é de ter maquinas escravas, já que em tempo a escravização do ser humano passou a ser "politicamente incorreto". (Ter sido imoral nunca fez diferença). Temos nossos escravos modernos de aço e parafusos, de circuitos e processadores. E por fim nós é que acabamos escravos da nossa grande criação.

Vivemos em uma sociedade doente, isso é inegável até para os mais otimistas. Uma sociedade cada vez mais ligada às imposições materiais e consumistas. Vivemos em sociedade, ainda que isso signifique só usufruir das qualidades tecnológicas que a "sociedade" proporciona. Das relações humanas só nos interessa aquilo que, direta ou indiretamente nos coloque em vantagem. Que nos de algo de positivo. Não existe altruísmo de verdade, toda relação é feita de trocas de interesses, mesmo que esse interesse seja só o bem estar causado pela sensação de doação, desse elan rotulado de altruísmo.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Onde termina a armadura e começa o homem...

Ignorando certos preconceitos, sobre a capacidade/necessidade masculina de exteriorizar os sentimentos, admito que às vezes sinto vontade de abraçar o mundo. De consolar cada criatura angustiada. Sinto que pra toda falta de esperança, posso ter uma perspectiva otimista, um ponto de vista que influencie e motive. Isso também tem relação com esse espírito revolucionário que tanto falo. Talvez seja um ultimo resquício de humanidade fundamental. Não de humanidade do ponto de vista genético, mas puramente do ponto de vista social. A sociedade de hoje já não é tão humana quanto pensa, talvez porque ser humano demais nos coloque em uma inevitável condição de fragilidade.

Eu não tenho a força que muitos pensam que tenho, nem a confiança. Não sou infalível como esperam que eu seja, nem mesmo sábio como eu gostaria. Eu tenho tantos defeitos quanto gostaria de ter qualidades, mas sou um pouco cético quanto às qualidades que devo ter. E mesmo que às vezes queira abraçar o mundo como se tivesse plena capacidade pra isso, na maioria das vezes, só quero ser abraçado. Ainda que a imagem de um revolucionário não combine com a frágil criatura que se esconde atrás do casulo. O casulo perdura a tantos e tantos anos que já não se sabe o que é carne e pele e o que é exoesqueleto, onde termina o homem e começa a armadura.

Muitas vezes sinto-me instigado pela verdade, a necessidade de ser sincero. Não o tempo todo, mas o maior tempo possível. Ainda que a sinceridade seja uma navalha afiada nas mãos de um barbeiro cego, capaz de cortar qualquer um sem qualquer discriminação. Há que ser criterioso então.??? Talvez; E talvez eu faça isso com algum critério misterioso. Sou sincero na medida em que posso. Auto declarar-me autentico ou sincero provoca sempre opiniões distintas, há quem se entusiasme numa patética alienação pelo politicamente correto, há quem duvide da capacidade de ser sincero, e há ainda quem, de uma forma velada, partilhe da mesma necessidade. Ainda assim, auto rotular-me como um cara honesto, sempre me coloque mais a prova do que qualquer outra coisa.

Eu arriscaria generalizar e dizer que a sinceridade agrada todo mundo. Ao menos na teoria... O problema é que quando a sinceridade nos pega de surpresa com alguma dessas verdades espinhosas, dessas que não são exatamente melodiosas como gostaríamos de ouvir, ela deixa de ser a bela e desejada sinceridade e passa ser a ardilosa critica, o pesado julgamento. A verdade é uma pedra pesada quando cai direto na nossa cabeça, a verdade é uma droga perigosa com que lutamos, sempre no limiar da dose letal. Por isso então algumas verdades sejam melhores quando omitidas, ou manipuladas. A verdade é a lança capaz de perfurar a mais solida armadura e ainda assim, pode ter a sutileza de deixar intacta a fragilidade do homem dentro do casulo de aço.

A verdade é o contraponto da armadura. Ser sincero é quase como indicar ao inimigo, quais os teus pontos fracos. E não é seguro, em situação alguma, deixar explícitos os teus pontos fracos.

Mas às vezes é preciso ignorar certos preconceitos, como essa capacidade/necessidade masculina de exteriorizar os sentimentos. Seja otimista suficiente para abraçar o mundo, ou pessimista ao ponto de admitir que a armadura não é infalível. É preciso acima de tudo, ser humano. Humano de verdade, alem da genética Homo sapiens. Humano a ponto de receber as criticas sinceras sempre que couber espaço pra um elogio. Honesto a ponto de saber a hora certa de mensurar o tamanho da verdade, ou o tamanho do estrago que ela pode provocar. Ser humano e perceber que naturalmente, não somos de escama, casco, casulo ou exoesqueleto. Que qualquer defesa que criamos, é fundamentalmente criada pra proteger-nos dos fantasmas que nós mesmos criamos.

Não sei exatamente onde termina a armadura e começa o homem. Luto diariamente para aprender sobre tudo isso. Mas não me nego a aprender. Se não sirvo hoje de bom exemplo, ao menos de mau exemplo devo servir. E não deixa de ser gratificante, já que pelo que dizem, errar é humano...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

The times they are changin´... Me !!!

Envelhecer é uma tarefa complicada. Inevitável, mas complicada.

Ás vezes penso que sou um revolucionário envelhecido e cansado, tal qual a revolução cubana. Sabe qual o maior problema da revolução cubana..??? Ela ainda não terminou. Nenhuma revolução pode durar 50 anos. A revolução é o ponto de atrito, é a desconstrução pra uma nova construção. Esse processo não pode durar uma vida toda cozinhando em banho maria. Revolução é coisa pra se fazer de pau duro e ninguém consegue uma ereção de 50 anos. A revolução tem data de validade curta, e inevitavelmente, o revolucionário também. Ter mais de 30 anos já não me parece grande coisa, mesmo que há pouco tempo imaginasse coisas diferentes pra mim nessa idade. Imaginava que fisicamente 30 anos pesassem mais do que realmente pesam hoje e até olhava com certa indiferença o fato de que mesmo antes dos 30, alguns pelos brancos insistissem aparecer em minha barba. Envelhecer, definitivamente é uma tarefa complicada, cheia de boas e más surpresas.

Das tantas coisas que o tempo me fez deixar pra traz involuntariamente, estavam lá meu otimismo e minha esperança. Olhando pelo retrovisor, um passado não muito distante, percebo que fui um jovem revolucionário que desconhecia o pessimismo, blindado ao tempo e até certo ponto impedido de envelhecer - Talvez por já ter nascido velho demais. E quando falo de envelhecer não me refiro apenas aos anos que passam. Ao numero sempre crescente de velinhas no bolo de aniversário ou da foto da identidade, que vai perdendo o realismo e amarelando feito uma laranja no pé. Talvez seja essa a ironia da carteira de identidade amadurecendo, conforme nós mesmos deveríamos assumir essa condição de amadurecer.

Mas o tempo é alcalino, enferruja e bla bla bla... Eu já disse isso.

Ainda me assusto quando ouço a idade daquele já tão rodado jogador de futebol no auge dos seus 30 anos, tido como em fim de carreira. Por alguma sorte, minha ou do futebol, não sou jogador. Assim escapo dessa sensação de estar em fim de carreira. Mesmo que em algumas situações meu pessimismo grite mais alto, e sinta alguma falta de esperança com relação ao futuro. Se puder chamar isso de culpa, diria que a culpa dessa falta de esperança vem de uma necessidade de interagir. Minha bipolaridade oscila entre o antisocial e o super social. Mas o tempo me fez evoluir pra um estagio de ser anti-social só com gente chata, gente rasa e sem conteúdo. E assim valorizar a convivência com pessoas que estão no mesmo plano de divagações que eu.

O fato é que encanta-me profundamente conhecer novas mentes, dementes e brilhantes. Esses jovens revolucionários abarrotados de idéias e sonhos, vezes exagerados e vezes ingênuos. Mesmo que às vezes me engane com essas mentes brilhantes, afinal, o diamante e o vidro quebrado se assemelham muito. Consigo assim driblar o envelhecimento. Não consigo fazer mágica com os anos que passam, nem tornar minha figura decadente em um juvenil baby face. Mas consigo nessa interação com jovens mentes revolucionarias, rejuvenescer a minha velha alma revolucionaria.

Para mim é fundamental partilhar desse tesão desmedido que os mais jovens têm; Essa ânsia exagerada de ter tudo que a vida oferece. A ingenuidade de acreditar que não há força maior que a vontade, e que somada a outras vontades, essa força cresce incontrolável. E quando em meio a esse turbilhão de desejo, força e sonhos, há um bom punhado de sensibilidade, somado a capacidade de raciocínio social e critico, eu volto a ter esperança. Essa é a fonte da eterna juventude que encontrei, e sem nenhuma hipocrisia, nenhum falso pudor , ofereço o que tenho de melhor. Porque dessa troca de vivencias me torno uma pessoa melhor.

Aprendi que envelhecer é uma tarefa complicada. Inevitável, e complicada. Mas que é possível rejuvenescer dia a dia novas revoluções. Seja na busca de um novo verso pra um poema, ou de novos acordes pra uma velha canção. Sou sim um barril furado vazando desmedida toda minha esperança. Mas isso não quer dizer que deixarei de buscar formas de abastecer novamente esse barril. Hoje me esbaldo nessa convivencia harmoniosa entre jovens amigos, alguns deles, até mais velhos que eu. Afinal, não somos a revolução cubana em banho maria, somos todas as revoluções e insanidades do mundo e sem data de valiade. Pacientes como velhos e com o tesão de adolescentes.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Apolítico Apocalíptico – Derrapando na curva do mundo

Ta ai uma coisa que o pessoal gosta de discutir... Política. E é divertido até, porque assim como nas discussões de futebol, quase sempre os argumentos são incoerentes e absolutamente passionais. Há alguns dias entrei em um site pra ler as noticias do futebol e esbarrei com comentários políticos absolutamente fora do contexto. Criticas a esse ou aquele partido político, parecia a disputa de um Gre-Nal e a paixão cega falava mais alto.

Um disse que o PT era o que havia de mais podre na política, do outro lado, retrucaram dizendo que o problema era os tucanos. Outro disse que ambos eram vendidos, que quem prestava mesmo era o pessoal do PSOL. Não sei, mas se colocássemos todo mundo trancado numa sala, com uma faca na mão, não sairia ninguém vivo.

Eu até gosto de discutir, gosto mesmo de um bom embate. Mas pra esse GRE-NAL partidário não tenho saco, fico de fora. Há alguns anos voto em branco porque me nego a participar da maldita escolha obrigatória pelo menos pior. Mesmo que digam que é irresponsável da minha parte, me negar a escolher. Prefiro fazer uma campanha fiel ao voto em branco, pois tenho esperança que no dia em que a maioria das pessoas negarem a participar dessa palhaçada, algo mudará. Mas enfim, o que pensei enquanto acompanhava aquela acalorada discussão, foi que precisava voltar às noticias esportivas, e guardar minhas divagações pra outra ocasião.

Talvez essa ocasião...

Não são os partidos políticos que são podres, como afirmavam os exaltados. Podre é o sistema político em que vivemos. Esse sistema que menospreza o caráter e subjuga a capacidade intelectual das pessoas. Que insiste no método da repetição, transformando qualquer mentira em verdade.

Doente sociedade essa, em que somos representados por pessoas que pouco sabem sobre como é de fato a vida da maioria do povo. Porque assim como alguns rockstar vivem em um universo glamoroso, turnê, estúdio, festas, sexodrogasrocknroll, e acabam perdendo a noção de realidade. Esses caras engravatados que representam a honrada democracia (demo=povo/kracia=governo), não sabem como é viver com salário mínimo e com carga horária de 44 horas semanais. Eles não sabem o que é pegar ônibus lotado e bater ponto, porque nós pagamos seus astronômicos salários, e ainda damos o direito de que aumentem o seus salários quando bem entenderem.

"Aos amigos os favores da lei e aos inimigos os rigores da lei".

Acredite, essa frase é de um ex senador. Sim, senador de carreira, desses que passa a vida toda pulando de um cargo pro outro. Hora Deputado federal, hora Senador, vez ou outra governador ou vice. Esse é o pensamento geral dos homens que governam o pais. Eles tem o poder nas mãos, eles viajam as nossas custas e cuidam das gordas verbas geradas com o imposto que pagamos. E pra fechar com chave de ouro, se auto proclamaram intocáveis, quando inventaram a Imunidade Parlamentar. Com a garantia de que em caso de serem julgados, o juiz seja um dos seus e caiba nos seus bolsos.

Mas a culpa disso tudo não é deles, em absoluto, há uma vaga e alguém vai ocupá-la, seja quem for. A culpa é minha e tua, a culpa é toda nossa por se deixar representar sem nenhum critério. Se deixar representar por qualquer zé mané que tenha um bom discurso, ou que nos de uma dentadura ou um copo de pinga.

Esperamos mudanças, esperamos que algo aconteça. E só, esperamos sentados, gozando com o pau dos outros nas novelas da TV. Não conseguimos ser honestos com nosso vizinho e esperamos que sejam com a gente. A ocasião não faz o ladrão, assim como o uso de força bruta não faz um revolucionário. O ladrão não espera a oportunidade, ele inventa uma sempre que necessário. O revolucionário antes de usar a força precisa se esforçar pra ser uma pessoa melhor. O verdadeiro revolucionário é forjado em aço, com uma pesada marreta de CRITERIOS batendo forte sobre uma solida bigorna de CARATER.

Mas esperar é a regra da nossa sociedade doente. Nós vivemos numa constante espera por dias melhores. Sabemos que a sociedade é doente e de olhos fechados seguimos as suas regras. Somos então o vírus, as bactérias nocivas da nossa sociedade. Vemos a doença, ela esta por toda parte. Queremos a cura a todo custo, mas esperamos que a cura venha primeiro do vizinho, e o vizinho espera do outro vizinho, que espera do outro, que ainda não sabe de nada e espera a novela começar, ou vai discutir sobre política nas paginas de esporte.

E você, ta esperando o que..?

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Descobrindo Moacyr Scliar

Uma das minhas maiores decepções quanto a literatura, sempre foi a de não ter um autor brasileiro pra citar entre os meus preferidos. Simples assim, já tinha lido tanta coisa e nada me cativava de fato. Meu ingresso à leitura foi com José de Alencar num livro chamado "Encarnação". Começo complicado que me fez desistir do restante da coleção que ficava na prateleira da casa do meu avô. Depois disso naveguei por outros mares. De Machado de Assis à Paulo Coelho, nada me motivava a continuar com a obra. Me agradava ler os poemas malditos, e o pessimismo obscuro de Augusto dos Anjos e Alvarez de Azevedo, mas não era uma leitura urgente. Devorava Neruda e Saramago como se fosse coisa sagrada, mas Jorge Amado me deixava sonolento. Talvez pela dimensão continental do Brasil, as histórias de uma Bahia contadas por Jorge Amado me pareciam tão estranhas e surreais quanto a Colômbia de Garcia Marquez. Apelei para os regionalismos que sempre dão um tom ameno a leitura, e por isso arrisquei Erico Veríssimo, e apesar de grande admiração pela obra, não passa disso. Mera admiração.

Desconfio de todo mundo que ama autores gringos, e não tem sequer uma paixãozinha tupiniquim. Desconfiava portanto, de mim mesmo. Nunca fui fã de Tolkien ou Camus, de Jung e ou mesmo de Marx. Afinal, literatura é tão visceral. Há de se buscar uma identidade, uma sincronicidade entre leitor e autor. E essa química silenciosa que acontecia naturalmente com alguns autores, simplesmente não acontecia com os caras daqui. Dizem que santo de casa não faz milagres, mas todavia, nunca acreditei em milagres, e um dia isso mudou.

Foi quando descobri Moacyr Scliar...

Tenho todos os discos dos Engenheiros do Hawaii e conheço muito bem cada um deles. Conheço e gosto a ponto de poder criticar cada um dos seus defeitos, assim como quem divaga e critica os próprios defeitos. Com respeito e amor. Curiosamente por conta dessa influencia musical, li muitos bons livros, como "O Estrangeiro" de Albert Camus. Também por causa dessa influencia, resolvi ler Exercito de um Homem Só, do Moacyr Scliar, que da nome a duas belíssimas musicas. (Exercito de um Homem Só 1 e 2).

A leitura de "O exército de um homem só" me surpreendeu pela simplicidade da escrita sem comprometer a profundidade do texto. Ter lido "exercito" foi fundamental pra que me questionasse sobre qual eram as minhas batalhas, e delas quais eu havia de fato vencido ou perdido. Curiosamente no dia em Moacyr Scliar faleceu, 27 de fevereiro desse ano, 2011. Estava bebendo e discutindo com um amigo sobre a importância do autor e de seus livros no atual momento em que eu deixava de lado a constante dedicação aos poemas e voltava ao exercício de escrever crônicas.

Nesse período eu já havia lido outros títulos do autor, e mais que a satisfação pela leitura, havia a satisfação de poder dizer que tenho um autor brasileiro entre os meus prediletos. E das obras que já li alem de "O exército de um homem só", destacaria "A Mulher que escreveu a Bíblia", "Eu vos Abraço, Milhões" e "O Centauro no Jardim". Livros que me ajudaram a consolidar o prazer em escrever crônicas, histórias que me induziram a novos questionamentos, novas viagens à velhos rincões do mesmo ser. Se Neruda me instigou a mastigar toda a palavra e toda metáfora a fim de cuspir poemas, Se Saramago e Garcia Marquez me fizeram ver a ficção, com olhos de ficção, certamente Scliar me influenciou a manter uma tênue linha de realidade em toda ficção que a vida pode ter.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ensaio Sobre Uma Quase Revolução - Capitulo II

"You say you want a revolution
Well, you know
We all want to change the world

You tell me that it's evolution
Well, you know
We all want to change the world"
The Beatles

Ando meio de saco cheio desses caras que vestem camisetas do Che Guevara. Dessas que se encontram a venda em algum shopping, dividindo espaço com camisetas do Michael Jackson e agora também do dono daquela empresa da maçazinha. E sei que corro o risco de estar atirando contra o próprio pé, de estar correndo o risco de me cortar nessa fria navalha de criticas, pois também tenho uma camiseta do Che Guevara. Mais que isso, tenho uma tatuagem do Che no braço direito. Mas o que enche o saco são esses idealistas de fantoche. Esses comunistas de mesa de bar, que ficam tentando empurrar Marx goela abaixo, com muita coca cola pra ajudar a descer. Esses caras cheios de teorias e de idéias revolucionarias, que entre um discurso e outro, alimentam o intenso desejo de no final do ano: Comprar um carro novo. Esses caras que fazem pose de revolucionários mas que no fundo só pensam nos próprios interesses.

O que me enche o saco são esses caras neoliberais, que se metem num terninho e num all star só pra tirar onda de moderninho. Mais que isso, se afogam na dura ironia de ser retro, pra ser moderno e cult. Esses caras que pregam uma liberdade direta e incondicional, mas que se acorrentam firmemente a rótulos. Esses caras que gritam o tempo todo em nossos ouvidos, o direito das pessoas serem o que quiserem ser e que a discriminação é burra. Mesmo que eles sejam os primeiros a atirar pedras nos caras que decidiram não tomar partido, ou que resolveram ficar do outro lado do muro. E assim criam suas tribos. A tribo dentro da tribo, dentro da tribo, dentro da tribo, eis que só resta a tribo do ego. Onde são os reis e os súditos da própria vida, os carrascos e os condenados, o par e o impar. E celebram intensamente dançando em volta do próprio umbigo.

Me tira a paciência esses caras que lêem dois ou três livros de Freud, Jung ou Lacan e começam a pensar que podem explicar o mundo todo. E com varias teorias medíocres começam a traçar perfis, começam a inventar novas regras para o certo e o errado. Esses caras que tiram onda de intelectual porque decoraram um parágrafo de Descartes, ou leram a biografia de Dostoievski na Wikipédia.

E quando fico mesmo sem paciência, chego a conclusão de que estas pessoas viciam em auto rotular-se o tempo todo, pra esconder o casco quebrado que são. E quando saio na rua, me dou conta que vivemos em um Gibi da Marvel, repleto de super heróis bonitos e transbordando super poderes, que vestidos com suas capas e mascaras são o suprasumo da evolução humana. Intocáveis e invencíveis, mas que quando chegam em casa, no escuro de sua solidão, são só carne embalada a vácuo disfarçando milhares de qualidades em um rotulo minuciosamente criado pra seduzir o consumidor alvo.

O que esses caras querem, não é revolução coisa nenhuma. O que esses caras querem é sentar na cadeira mais alta, no trono do Rei. Revolução não é isso, não é vestir uma camiseta ou empunhar uma bandeira. Revolução é ter um objetivo e brigar por ele com coerência, de sangue no olho e faca na bota. Revolução é ser David chamando Golias pra briga, sem medo do cair, sem a segurança de vencer. Sobretudo, com toda paixão que os punhos e dentes serrado consigam gritar.

Esses caras "selados, rotulados e carimbados", como diria Raulzito. A revolução deles só vai acontecer de verdade, no dia em que conseguirem olhar primeiro pro mundo alem de suas cabeças pequenas e autoritárias. Quando sacarem de verdade que o livro não se julga pela capa, nem pela fonética forte do nome gringo do autor. Quando sacarem que camisetas são só camisetas, e que ideologia não se compra em lugar nenhum, tão pouco se rifa sem qualquer critério. Então, nesse dia, teremos verdadeiramente uma baita revolução.! Sem esquecer nunca que toda revolução, seja ela por qual motivo for, sempre começa com a mudança do próprio revolucionário. E ai, alguém se habilita.???

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A Novidade de Ontem, É o Antiquado de Amanha.

Eu não ia postar nada essa semana, porque todos os textos e rascunhos que havia escrito se perderam quando o meu pendrive resolveu parar. Morte do pendrive consumada, ele leva para o tumulo vários dos textos e poemas que eu armazenava ali.

Sem entrar no mérito do backup então...

Comecei a pensar no quanto somos dependentes químicos da tecnologia que nos cerca. Somos viciados (cada um a sua preferência) não só em álcool, cafeína, nicotina, cocaína ou crack. Somos viciados em silício, e tudo que envolve ele com micro circuitos integrados. Somos viciados em megabytes e gigabytes, alguns já nem se contentam com isso, precisam de terabytes, todos eles, a todo o momento. A imagem mais detalhada, os sons mais perfeitos e a conexão mais veloz. Toda informação do mundo na palma da mão, no bolso, no relógio, em 3D, em tempo real. Apressados, cada vez mais urgentes não nos contentamos com fast food, queremos fast information, fast Entertainment, fast peace and love. E queremos sempre mais. A novidade de ontem é o antiquado de amanha.

O que diria Cristovão Colombo disso tudo, navegando em rústicas caravelas, guiado por imprecisos mapas náuticos e usando apenas as estrelas como referencia. Enquanto nós, que nem ao certo sabemos pra onde ir e se realmente queremos ir, temos toda tecnologia a nosso dispor. Somos guiados por satélites, rastreados e vigiados, por nós mesmos e com muito prazer. Redes sociais são nossos portfólios pessoais, e "com a coragem que a distancia dá" criamos nossos personagens pra viver na atmosfera virtual, pra que nossas memórias, nossos dados sobrevivam alem do metal frio dos discos rígidos, e se o céu é o limite, agora, somos todos nuvem.

Seria esta talvez a vitoria do homem, sobre a invenção de deus.??? Aquilo que ele fez com células nós reconstruímos com pixels e algoritmos..? A onipresença divina, compensada pelo homem, que agora também pode estar tecnologicamente em qualquer lugar, há qualquer momento??? E via satélite, somos oniscientes, sabendo em real time tudo que acontece em qualquer parte do mundo.? E no mundo que criamos, dos personagens que criamos no universo virtual, somos onipotentes. Por fim, atingimos a imortalidade, com a certeza de que deixaremos nossos dados armazenados em algum disco rígido, por toda a eternidade.

Ou, até que o disco rígido ou o pen drive, decidam parar de funcionar. Ai, não há deus que recupere o teu DNA virtual.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Exageros e redundâncias de Primavera

(texto escrito entre os dias 27 e 29 de setembro)


A proximidade do mês de outubro me traz uma sensação de introspecção. Setembro definitivamente sempre foi um mês de grandes mudanças, de grandes acontecimentos. E essa busca constante por memórias, para fazer associações históricas aos pensamentos de hoje, deixam no ar uma bruma melancólica que por vezes é saudosista em exagero, e pelo retrospecto, um tanto pessimista.

Pensando bem, talvez eu seja mesmo a pessoa certa pra falar de saudosismos e de exageros, juntos ou separados. Sem importar-me com o pecado da redundância, se fosse necessária a definição com adjetivos (in)diretos para cada um dos meses do ano, melancolia seria palavra certa no descritivo de setembro. Mas talvez eu seja a pessoa errada pra falar ou escrever sobre o mês de setembro, por certo pelo pessimismo quanto ao movimento cíclico das estações, essa transformação inverno/primavera, que me traz sempre lembranças extremas. Quase sempre, melancólicas.

Posso tentar justificar meu pessimismo com eventos históricos talvez, dizendo que em setembro de 1939 a Alemanha invadiu a Polônia e deu início à Segunda Guerra Mundial. e que em 1941 a força aérea inglesa bombardeou Berlin. Em setembro morreram Hendrix, Mao Tse Tung, Lacan e Freud. Mas isso não muda nada, não é reforço significativo aos meus sombrios dias de setembro.

A parte certamente gratificante dessa viagem de ficar em constante auto-analise, é quando aquela bad trip de tantos meses, se desfaz. Como um trem bala que da milhões de voltas em círculos sem chegar a lugar nenhum, até que num certo momento a estação surge de trás de uma montanha e assim sem que ninguém espere, chegamos ao destino.

Engraçado como a vida sempre promete uma nova estação, seja pelo trem que inevitavelmente nos leva a novos destinos, seja pela paisagem do pano de fundo da nossa história. Hora com cores frias e sem brilho, hora verdejante e insinuando renovação, como num teatro em que encenamos nossa vida sempre com um enfoque diferente. A paisagem é o termômetro de tudo que há de vir adiante, a paisagem que muda pouco a pouco pela janela do trem, e que muda pelo seu ciclo natural no horizonte.

Nós todos somos um tanto quanto idiotas às vezes, esperando que o trem chegue logo ao destino final, quando na verdade a paisagem pela janela é definitivamente a melhor parte da viagem. Mas nós mortais de longa vida curta, temos pressa, queremos a velocidade máxima o tempo todo. Tudo com a urgência do condenado a forca. Sem perceber que é possível ser o mais rápido, sem ultrapassar o limite de velocidade.

Setembro é apressado, termina antes que Outubro. Não tão apressado quanto Fevereiro com seus mágicos 28 dias. Setembro é o yin-yang do cinza inverno com a multicolorida primavera. Setembro melancolia é só uma das muitas estações que o trem deixa pra trás, dele levo as inúmeras paisagens na lembrança. Mas talvez eu seja mesmo a pessoa errada pra falar de setembro, afinal ele não deve ser tão melancólico assim, por estas redundâncias e exageros dos quais não fujo, que venha outubro então.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Qual O Sabor Da Liberdade.???

Se há uma prisão, há de existir um jeito de fugir. Se nos puseram algemas, há de se procurar as chaves. A liberdade é sonho eterno da humanidade e a ilusão é o que nos garante suportar as lacunas. Mas não há pior algema, que aquelas que vendam nossos olhos, que calam nosso grito.

Dizem eles, que nascemos homens livres. Negros; Brancos; Pardos. Somos todos iguais e, livres. Mesmo que nós não saibamos ao certo o que fazer com essa liberdade e que sejamos uns mais iguais que os outros,(como diria Orwell). O mercado, este que abomina o tal monopólio, diz que somos livres pra escolher. O que.? A cor da embalagem talvez. Talvez livres pra escolher qual câncer ira nos pegar, se nos pulmões ou nos rins. Livres pra escolher e seguir uma religião, garantem. Mesmo que a escolha nos leve a fé cega ou a morte pela intolerância. Livres pra professar nossa fé custe o que custar. Ainda que isso custe cada vez mais caro. Sem mencionar o fato de que escolher religião nenhuma, te coloca inevitavelmente na primeira classe do trem rumo ao inferno. Vamos nessa então, ver qual é a do inferno... Afinal, somos livres até pelo tal livre arbítrio, ainda que o pecado esteja sempre em nosso pé.

Gritamos o tempo todo, como se tivéssemos absoluta certeza da liberdade que temos, sem perceber que nós mesmos nos escravizamos, seja por relógios ou por politicagens. Nos escravizamos pelas propagandas de TV e pelo sistema monetário que nós faz trabalhar mais e mais, para alimentar nossa necessidade de comprar mais e mais. E num circulo vicioso, corremos feito hamsters girando as engrenagens de um mundo "livre".

A sociedade repreende e instiga a seguir normas e regras. Limita nossa capacidade de produzir e de expressar qualquer devaneio que fuja do padrão, e chamam isso gloriosamente de LIBERDADE. Aqui nesta terra que chamamos de pátria, democracia é palavra que da orgulho, enchemos a boca pra falar dela como uma conquista infinitamente honrosa. Ahhhh democracia, bela e justa. Ela que nos torna livre pra escolher, mesmo que nos obrigue a votar, que nos OBRIGUE a escolher. A mesma democracia que não nos permite dizer NÃO. Não nos permite dizer NÃO para todos os candidatos disponíveis, pois você é OBRIGADO escolhe entre A ou B. Caso vote nulo ou branco, o voto é excluído da decisão, no final da contagem são tidos como votos inválidos. E só os votos validos escolhem candidatos. Em resumo, você é absolutamente livre pra dizer SIM ou... SIM..!!!

Que linda palavra esta, Liberdade. Assim mesmo com letra maiúscula pra ficar ainda mais envaidecida. Até escreveria ela com letras douradas se o editor de texto me permitisse. Pena que essa linda palavra seja apenas mais um engodo, a piada pronta, tão solene e tão sem graça. Assim como aqueles bolos de padaria, que são bonitos e apetitosos quando vistos pela vitrine, mas que depois que desembolsamos uma grana pra levar um misero pedacinho, descobrimos que não tem gosto nenhum.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Só Migalhas de Um Grande Pensamento

Se as pessoas se comunicassem sem verbalizar, só com a sutil intenção de pensar e compartilhar estes pensamentos, as coisas todas como conhecemos, seriam diferentes. Não sei se melhor ou pior, mas com certeza diferentes. Não haveriam mentiras ou mal entendidos. Nenhum sim soaria como não e nenhum sorriso amigo poderia ser disfarçado. Melancolia alguma se esconderia atrás de gestos e conversa alegre. Cada criatura seria exatamente aquilo que pensa, e de nada adiantaria um novo sapato ou uma marca da moda estampada na camisa, pois nada, absolutamente nada disfarçaria o mais simples pensamento.

Pensar parece coisa simples às vezes. Mas há quem nunca tenha tentado de verdade. Não falo desse pensamento cotidiano, de entrar na padaria e ter de pensar pra escolher se o pão será Frances ou italiano. Falo dessa arte silenciosa de edificar sem matéria alguma, os mais absurdos planos. De construir sem nada palpável, castelos suntuosos de pura insanidade. Pensar... Essa coisa que alguns chamam divagar, ou ser criativo, se questionar ou questionar o mundo. A ferramenta que coloca o homem sempre um passo atrás de sua vontade, tornando assim inevitável, o passo adiante.

Então, se nada dessa comunicação ruidosa que fazemos cantando sons de palavras que muitas vezes não dizem nada. Se nada disso fosse preciso pra que uma criatura entenda exatamente o que se passa com a outra. Assim como funciona nisso que alguns chamam de telepatia, onde basta um pensamento direcionado e feito, lá esta o pensamento pulando de uma cabeça para outra. Pensamentos teriam então pernas longas para pular muito alem do que o mais perfeccionista de todos os piolhos, de cabeça em cabeça as conversas seriam assim sutis, pois não haveria motivos pra gritar, mesmo durante a mais ferrenha briga. E nem mesmo haveria motivos pra calar, pois calado esta, naquele ínfimo e quase eterno instante que precede o choro, ou o beijo.

Pensar seria então tarefa pra lá de simples, assim como escovar os dentes. E a falta desse habito, assim como o de escovar os dentes, seria percebido como falta grave. Da higiene os dentes, da falta de pensar veríamos então mentes apodrecidas e atrofiadas.

Percebam a gravidade... Isso nos livraria pra sempre dessa maldita pergunta que vem sempre escaldante justamente quando não queremos nem na mínima intenção, falar coisa alguma. Pois o silencio é o vinho que melhor harmoniza com mais silencio. E ainda assim, Perguntam sedentos, "Em que estamos pensando?"

Não posso me contentar então, em imaginar que esse devaneio de meia tarde chegue até você que esta lendo nesse exato momento, sem ser o faminto da vez e dizer, o que você esta pensando..??? E não há telepatia no mundo que de conta de fazer com cada um destes pensamentos cheguem até mim. Em todo caso, o silencio de agora é quebrado sutilmente pelo som dos dedos batendo leve no teclado, pra que meus pensamentos verbalizados e convertidos aqui nestes símbolos que chamamos de letras, ultrapassem a barreira da minha caixa craniana, a fim de ganhar vida e ir alem.

Escrevi aqui, em mais de 500 palavras, algo que não se parece exatamente com aquilo que eu havia pensando. Pois o trabalho de procurar a palavra certa que encaixe na frase perfeita, faz com que o pensamento se desfaça em migalhas de um texto que, talvez nenhum de nós entenda de verdade. Pois migalhas de um grande pensamento, nunca serão um pensamento de fato.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Ciência (Nada) Exata das Listas Imaginarias

Caso fizesse uma lista, assim sem muito compromisso, de tudo que tenho na vida, tudo que posso indubitavelmente chamar de meu. Começaria inventando duas colunas, distintos grupos tão imaginários quanto as linhas de trópicos e meridianos. De um lado, começando sempre com honrosa letra maiúscula, listaria coisas realmente importantes, destas que não cabem em gavetas, em armários ou contêiner. Do outro lado, algum punhado de coisas materiais.

Entre as coisas materiais listaria alguns singelos objetos, mais pela recordação que trazem que pelo valor monetário. Talvez seja isso que chamam de valor sentimental. Em meados de 98 quando sai do meu segundo emprego, depois de 3 anos ralando pra cacete, toda a grana que recebi, gastei desesperadamente em uma loja de instrumentos musicais. Lembro claramente dos itens na nota; Uma pele de bumbo pra bateria, 2 pares de baquetas, um pandeiro meia lua, uma correia para guitarra/violão da Fender, um case bag para violão e um violão Crafter Classic elétrico. De tudo isso, o violão ainda me acompanha. Por varias vezes tentei vende-lo, trocar por outro instrumento ou por qualquer coisa aleatória. Varias pessoas já tocaram com meu violão, amigos e não amigos. E ele continua lá, firme e forte. Mais que um violão, pra mim ele é o símbolo da resistência de um sonho. Hoje eu toco o violão que comprei a mais de 10 anos, e isso me faz feliz de um jeito peculiarmente especial.

Não sou espiritualizado a ponto de me considerar livre do desejo em bens materiais, mas pratico no dia a dia um certo desapego sincero. Tenho prazer em passar adiante todos os livros que já li ou os discos que já não ouço mais. Se em determinado momento encontro-me em situação privilegiada, não me incomodo em dividir a conta de forma desigual ou mesmo de não dividir a conta. E diferente do que pode parecer a quem não me conhece de fato, faço isso por acreditar na sinceridade e na reciprocidade. Já fui acusado por alguns idiotas de tentar comprar as pessoas e isso soa tão patético que entra na minha Ignored List. Mas até consigo compreender que esse desapego às convenções de propriedade e posse, pode assustar algum desavisado que veja cifrões onde eu não vejo nada. Acho até compreensível que nesse universo capitalista ao extremo, qualquer ação que vá contra esse instinto de posse e mais valia, seja confundido com manipulação. Talvez eu me foda um dia, mas sei que não há de faltar um amigo pra dividir (ou não) uma cerveja. Muitos dirão que fracassei, por não ostentar riquezas e bens materiais que encham os olhos, mas a riqueza que procuro é invisível aos olhos.

De tudo que tenho na vida, nessa lista imaginaria com seus trópicos e meridianos, o lado de itens materiais não seria muito longa. O velho Crafter, alguns livros e um par de gaitas de boca. Alguns LPs antigos que ouço raramente, porque a vitrola quebrou. Minha lista não teria mais linhas que o necessário, sem lacunas a serem preenchidas com sonhos de consumo. Sem essa pressão social por carro do ano e casa própria, muito menos pela corrida incansável pelo primeiro milhão. Talvez eu seja um sujeito simples, sem desejos megalomaníacos. Normalmente os meus desejos e planos, envolvem uma condição irrevogável de ter por perto as pessoas que quero bem. Mas se declarar um sujeito simples nos dias de hoje soa como imensa vaidade, e autopromoção me deixa entediado.

Na realidade a lista que me causaria certo orgulho escrever, seria essa de coisas que os olhos nem sempre podem ver e que tampouco cabem no bolso. Nela colocaria o nome de cada amigo, e mesmo que pudesse generalizar e comprimir isso em uma única linha, uma única palavra. Não seria justo pela importância que cada criatura em especifico tem. Listaria todos eles adjetivando aquilo que lhes considero mais valioso, e por certo, valioso a ponto de sobrepor cada defeito que inevitavelmente terão. Listaria uma porção de boas lembranças, porque bem sei o quanto elas podem ser analgésico em momentos difíceis. Criaria uma confusão mental das mais agradáveis ao tentar explicar essa mistura, que não se sabe onde começa nem onde termina, isso que chamamos amizade e família. Não me deteria a critérios genéticos nessa descrição, pois não sei quem é mais família e quem é mais amigo. Como acabei de dizer, criação insólita essa que não se sabe onde começa nem onde termina, mas que vale mais que todo ouro do mundo.

E se assim, descompromissado, tivesse mesmo a idéia de escrever essa lista, por certo desistiria nas primeiras linhas. Pois não há motivos pra listar aquilo que já se tem. Pela pouca importância dos bens materiais, e pela demasiada e justa importância dos valores sentimentais. A vida é curta demais pra ficar contando nos dedos ou nos milhares de caracteres de uma calculadora, tudo nos traz alguma alegria. Alegria se encontra em garrafas de cerveja e em singelos por do sol. Como mensurar isso.??? Bobagem...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Construindo e Derrubando Muros

A grande muralha da China foi construída bem antes da invenção de Cristo, a principio para conter as invasões mongóis, Mais que uma fortaleza que nunca caiu, continua como grande símbolo de imponência e poder de uma China cada vez mais imponente e poderosa. Em Israel, dos restos de um palácio de Herodes, do que dizem ser o local do ultimo pedaço do templo de Salomão, os judeus rezam diante de um grande muro. Para eles o sagrado Muro das Lamentações. Em novembro de 1979 o Pink Floyd lançava seu 10º álbum, The Wall, uma opera rock que contava metaforicamente das barreiras pessoais de um astro do rock em colapso. Dez anos depois, em novembro de 1989, ocorreu a queda do muro de Berlin. O muro que durante tantos anos dividiu o lado oriental e ocidental da mesma Alemanha. O povo foi às ruas comemorar o momento histórico. O simbolismo da queda do muro, vai alem da barreira física que separava famílias e amigos, enfim, que separava iguais. A queda do muro representava um vida nova, o fim da guerra fria, o fim de um confuso período de pós guerra, de conflitos econômicos e sociais, um fim que explanava um novo começo. Um possível grande passo pra uma humanidade mais humana.

Isso talvez prove o que parece ser a natureza humana em construir muros... Bloqueios; Barreiras; Casulos.

Lá fora, constroem-se muros a fim de proteger a propriedade privada. Muros e cercas cada vez mais altas, cercas afiadas ou eletrificadas, a fim de afastar o conturbador fantasma do desconhecido. Do perigo eminente do agressor imaginário, do potencial usurpador que ira agir contra nossa vontade.

Aqui dentro, construímos muros também. Afastando lembranças do passado, que ferem a ferro nosso bem estar presente. Trancamos todas as portas, algumas pra evitar o que fica lá dentro, outras tantas afim de não deixar que entre o que esta fora. Criamos muros que ao mesmo tempo, alimentam e acalmam o monstro de nossa insegurança.

Lá fora, criamos apegos materiais à custa da idéia de que ter é tão importante quanto ser. Ofende-nos profundamente a idéia de que o alheio se aposse de tudo aquilo que a duras penas conquistamos. Fechamos então as portas e janelas, trancamo-nos então em jaulas aquecidas e acarpetadas que por ironia chamamos de lar.

Aqui dentro, construímos cuidadosamente pedra a pedra, tijolo a tijolo nosso solido e intrasponivel muro. E assim em segurança, do lado de dentro inventamos nosso universo particular, nossos santos e nossas divindades. Tudo que nos livre do terrível monstro que mora do lado escuro, no outro lado da nossa fortaleza. E do lado de dentro, reinventamos um útero artificial onde seremos eternamente protegidos.

Pouco a pouco envoltos em muros, os de dentro e os de fora, perdemos a sensibilidade para a REALIDADE que nos cerca. Cegamos ao que pode ou não nos afetar de verdade e perdemos a capacidade de discernir qual lado da navalha é perigoso. E assim sem que ninguém note, ficamos cada ver mais seguros, cegos e sozinhos.

Mas tão humano quanto construir muros é a necessidade de escapar do cruel monstro de olhos verdes e garras afiadas chamado solidão. E em meio a álcool, distração barata e anti depressivos, eventualmente abrimos o pesado portão dos muros da nossa fortaleza pessoal. Se navegar é preciso, correr riscos é fundamental, e assim, vestimos nossa roupa mais bonita para receber o incógnito visitante que adentra laureado a fortaleza em que fundamos nosso reino de sentimentos e emoções. E pela inocente falta de experiência em recepcionar hospedes, cometemos o compreensível erro de não reconhecer se o visitante é hostil ou não.

Escrevi essa crônica, meio milonga, imaginando o que seria se a China tivesse sucumbido aos mongóis, se em Israel, o muro de lá cansasse de tanto lamento e resolvesse se desfazer em poeira..??? Ou se o muro de Berlin ainda tivesse de pé..??? Se a guerra fria continuasse fria ou se esquentasse, ou se Roger Waters nunca tivesse tido tempo de escrever com esmero o The Wall.??? Mas principalmente imaginando esse risco calculado de "abrir os portões da fortaleza" pra este ou aquele curioso visitante. Se vale a pena ficar babando de medo e rancor evitado que qualquer criatura se aproximasse do trono real do ilusório reino que inventamos.

Com certeza mais uma divagação dessas pro hall de perguntas sem resposta, alias, quantas perguntas sem respostas cabem na muralha da China...??? E no lado B do The Wall..??? Não sei responder essa, mas a cada dia coloco uma pedra nova, um tijolo a mais no meu muro de certeza sobre a necessidade humana de criar muros, mas absolutamente, a necessidade de derrubar todo e qualquer muro que seja possível. E os que não forem possíveis por a chão, ao menos tentaremos pular.!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Crônica empoeirada dos Olhos Azuis

Nunca escrevi em diários apesar de ter uma boa memória pra datas e nomes, é engraçado como eles nunca vem em mente ao mesmo tempo. Lembro, por exemplo, do nome de minha primeira bicicleta, uma Caloi Freestyle azul. Mas não lembro o ano em que aprendi a pedalar nela. Se fizer contas e associar esse ou aquele acontecimento, talvez eu chegue a um valor aproximado, 88 ou 89 talvez. De verdade, não sei dizer. Lembro que a bicicleta era originalmente azul e com o tempo, foi pintada de preto. Ao contrario da minha primeira bateria que originalmente era preta e foi pintada de azul. As lembranças são um pouco assim, mudam de lugar, se reinventam, mas continuam as mesmas. Assim como meu primeiro contra baixo era cinza e foi pintado de preto e azul. Seguir viagem, seja remando ou levado pela correnteza. Essas lembranças nunca cansam. É engraçado como a vida parece mesmo uma roda gigante, com todos esses efeitos cíclicos, que vão e voltam, mas sempre deixando um ou outro detalhe em foco nítido.

Naquela época eu não queria ser médico ou astronauta, queria ser o Indiana Jones. Essa era a profissão dos meus sonhos. Nunca tive talento pro futebol e por isso nunca passou pela minha cabeça ser jogador. Nem era tão fã de futebol também, era difícil esse assunto. Eu já torcia pelo Grêmio, o time que veste azul. Na rua onde eu morava todo mundo torcia pro flamengo, e isso era seguro, não contrariar os mais velhos, (intolerância infantil é sempre grave). Em casa a única pessoa que às vezes falava de futebol era minha mãe, colorada. Lembro vagamente de uma camiseta do Flamengo e uma do Inter na gaveta, mas não lembro de ter usado alguma delas. Memória seletiva talvez, ou alguma predileção misteriosa pelo azul.

Lembro da primeira vez que fui seduzido por uma guria, e seus magnéticos olhos azuis. Era o primeiro dia de aula na 1º serie. Ela chegou atrasada, chamava-se Cecília e tinha um olhar que... Que provavelmente não dizia nada. Era só uma criança de 7 anos, assim como eu. Mas eu lembro, sonhei acordado com Cecília durante algum tempo. Na minha inocente ilusão de criança, pensava que um dia casaria com ela e seriamos felizes pra sempre. Mudei de escola e acabei substituindo Cecília por alguma outra guria, de olhos azuis ou não. Crianças têm planos estranhos às vezes e a ingenuidade os torna preciosos tesouros, mesmo que só na memória.

Os olhos azuis de Cecília se desfizeram da minha memória com o tempo, é justo, o tempo é alcalino sobre nossas lembranças de latão, e assim tudo enferruja até se desfazer. A irracional e involuntária preferência pelo azul ficou. Brincando com as lembranças, recordo de um quadro com a imagem de Jesus na parede do quarto de minha avó. Era a imagem definitiva de um cara realmente poderoso, dono da maior multinacional do mundo. Um tipo sério, com cabelo e barba grande e indefectíveis olhos azuis. Talvez essa seja uma associação perigosa pra uma criança, já que por muito tempo associei olhos azuis a um inexplicável poder.

Uma vez me disseram que eu tinha um olhar igual o do Paul. Se não a única, foi a melhor cantada que já recebi. Mas acho que no fundo não foi uma cantada, então melhor deixar pra lá. Na época não entendi o que tinha de especial em ter um "olhar de Paul", se no fundo, quem saiu ganhando foi meu colega que tinha um olhar de Kurt Cobain. Maldito Cobain... Será que havia alguma coisa nele alem dos olhos azuis.? Pra mim parecia injusto imaginar que meu olhar de Paul não fazia frente ao olhos azuis de Kurt Cobain. Era injusto como entrar a cavalo, em uma corrida de super motos.

Há algum tempo rolou uma brincadeira interessante com uma amiga muito especial. O trato era de que escrevêssemos sobre olhos azuis. Eu havia esquecido do trato, lembrei por acaso lendo textos do Gessinger. O trato era escrever algo pra semana seguinte, mas pelo jeito a semana seguinte não seguiu. Quando comecei escrever esta crônica, não tinha em mente o nosso trato de escrever e cumprir o combinado. Não será um trato justo já que ela, provavelmente não escreveu o texto e muito menos saberá que eu escrevi. Acho que mais importante que cumprir tratos, são todas estas lembranças, a clareza de que minha amiga de olhos azuis não tem o poder do Cristo no quadro da minha avó, tão pouco o simbolismo de Gessinger, Sinatra, Kurt Cobain ou de Cecília. Não foi por força ou poder que mantivemos nossos laços por tanto tempo. Talvez sejam só estas lembranças empoeiradas, que em algum momento mágico da vida, resolvemos compartilhar. Mas o tempo é alcalino demais.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Topicos de Mau Humor Virtual Consciente

Paciencia tem limite e a minha nunca foi grande coisa.

* Acho um absurdo descabido e descarado, que alguem fique lendo este blog, pra falar mal de mim depois. Se não gosta, cai fora.

* Odeio quem avacalha com meu contador do blog. Não adianta vir aqui varias vezes por dia, eu só atualizo uma vez por semana. Avacalhar meu contador sõ serve pra me deixar irritado. E funciona muito bem!

* Acho um absurdo maior ainda, que alguem venha ler o que escrevo, só pra bisbilhotar minha vida privada. FODA-SE você. Ta curioso, vai ver os replays do Big Brother.

* Como já disse e repeti varias vezes, odeio hipocrisia.

* Acho uma imensa cretinice que mintam pra mim, imaginando que serei idiota ou inocente pra acreditar em qualquer bobagem que me digam. Não nasci ontem, e minha cara de bobo não diz quem eu sou.

* Gosto de comentarios, principalmente dos moderados. Eu disse, gosto dos comentarios, ficar dando indiretas no MSN não conta.

* Hipocrisia é hipocrisia e ponto final. E FEDE.! E eu sei que esse cheiro vem de VOCÊ.

* Ainda pela hipocrisia, por favor, não façam do espaço de comentarios, palanque politico pra qualquer falacia escrota.

* Mais uma vez pra esclarecer, hipocrisia é quando você prega uma coisa que não faz. OK..???? Por isso, não venha dissimular e se fazer de santo pro meu lado. Puxa saquismo me irrita mais que qualquer outra coisa.

* Juntar hipocrisia e puxa saquismo é a formula perfeita pra foder com meu melhor humor.

* Se você acha que não se enquadra em nada disso, talvez seja você o hipocrita dissimulado que fica fazendo de conta que meu blog é penico.


Entenda que... Eu sei mais do que parece...!!! Não discuto sobre leis porque não sou advogado. Não discuto sobre saude, não sou medico. Mas por favor, não duvidem das minhas capacidades "informáticas".

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Fétida Hipocrisia

Há algo que me incomoda profundamente, esse cheiro medonho de hipocrisia em todo canto...

Vejo tantas pessoas reclamando feito idiotas de coisas como a sujeira das ruas, o transito lento, a corrupção na política... Enfim, coisas do cotidiano disso que chamamos vida moderna. O fato é que na maioria dos casos, as mesmas pessoas que reclamam do lixo das ruas, não separam o lixo em casa. As mesmas pessoas que reclamam do transito, são as que não vão até a esquina se não for de carro. E as que gritam alto da corrupção nos gabinetes políticos, são as mesmas que adoram dar um jeitinho pra tudo e adoram tirar vantagem de qualquer situação. Hipocrisia medonha essa de criticar, esperando que a mudança caia do céu.

As pessoas falam de racismo, os negros não querem mais ser chamados de negros, querem ser Afro descendentes. Acreditam que a palavra, preto, negro e afro descendente muda a forma como são vistos pela sociedade. Ok... Mas ainda assim, nessa luta de igualdade, aceitam que as universidades determinem cotas para negros. Quase que cuspindo em suas caras que elas precisam de uma ajudinha extra pra entrar, porque não conseguem por conta própria. Os negros sofrem preconceito..? Sim, nas situações mais absurdas, sofrem preconceito histórico e em todas as camadas sociais. Mas estes mesmos negros, muitas vezes são homofônicos, alimentando assim o preconceito contra uma outra classe discriminada. Assim segue, com os judeus chorando eternamente o holocausto e barbarizando os palestinos, por exemplo.

Até esse momento do texto, muita gente (na esperança que muita gente leia), esta concordando com tudo sem vestir a carapuça.

Então vamos lá...

Depois de longas conversas com um casal amigo, conversas individuais e em grupo, percebi uma situação que me agradou muito. Esse jovem casal se ama muito, se respeita e busca a todo custo o crescimento. Individualmente, cada um procura se conhecer com o intuito de oferecer ao parceiro o melhor de si. Há reciprocidade nas atitudes e nas preocupações, mas principalmente, há reciprocidade nos ideais. Esse conhecimento que ambos tem sobre si, e um sobre o outro os blinda de um inimigo cruel de todo relacionamento; O ciúme...

Comento sobre esse casal justamente por ver o ciúme como o um dos pontos cruciais para a falência da tão almejada liberdade. Ser livre é desejo de todo mundo, mas ninguém é livre de verdade se compartilha a vida com alguém que o vê com olhos de posse, de propriedade. Carros tem donos, casas tem donos, celulares, e até cachorros. Pessoas não.!!!

Do meu ponto de vista, esse sentimento de posse que algumas pessoas alimentam umas com as outras, é de uma mediocridade tamanha, que coloca em xeque toda racionalidade humana. Pois como posso eu querer ser aceito como sou, com qualidades e defeitos, se não dou a liberdade de que as outras pessoas sejam o que elas quiserem...??? Como podemos então esperar em nossos relacionamentos pessoais, sermos respeitados, se não conseguimos respeitar a individualidade da pessoa que escolhemos pra conviver na nossa maior intimidade. E como a pessoa subjugada terá segurança em compartilhar de suas mais intimas idéias e sonhos se o companheiro(a) que escolheu, não tem a capacidade de respeitar o direito mais primitivo do ser humano, que é a liberdade.?

É estranho conceber isso com naturalidade, esse desejo que algumas pessoas tem de controlar, dominar e subjugar. Isso independe do caráter da relação, é algo orgânico. Normalmente as pessoas não compreendem o que quero dizer, com "todo homem nasce e morre sozinho". Isso nada tem haver com não se apegar a ninguém, ou não depender de ninguém durante algum período da vida. Nada tem haver com viver sozinho ou em grupo. Essa frase representa pra mim, a idéia que todo mundo é único, carregando por toda vida inúmeros defeitos e qualidades. Mas principalmente, carregando nas mãos as rédeas DA PROPRIA VIDA. Compartilhar é uma das coisas mais bonitas de qualquer relacionamento, mas não há reciprocidade sincera se a partilha for feita debaixo do açoite de posses, ou sob grilhões. Sejamos livres de verdade então, sem essa hipocrisia fedendo ovo podre, de gritar alto a liberdade enquanto carrega alguém pela coleira.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Hiato de Agosto...

Talvez seja mesmo preciosismo acreditar que todo mundo tenha bom senso, ou ao menos coerência nas relações falar/agir. Aceito que seja preciosismo da minha parte, o que não aceito é que me digam que meu preciosismo é burro ou inútil. Talvez seja esse adiantado estado de velhice precoce que tem me deixado cada vez mais rabugento, especialmente com as coisas fúteis. Mas que também tem me deixado cada vez mais nostálgico das coisas simples e honestas. Na verdade, o que quero dizer é que ando muito de saco cheio com as babaquices que as pessoas fazem, pelo avesso do que dizem, com a ilusão de que isso lhes engrandece.

Num outro texto falei de falsos pudores e algumas pessoas concordaram comigo. Acho bacana isso, não pelo fato de concordarem com o que eu disse, não é uma vaidade. Mas é bacana que percebam a bobagem que é, o atraso que alguns pudores nos causam. Mas algumas destas mesmas pessoas que concordaram comigo, se fecham em pudores quando o assunto chega até elas, quando é hora de agir ao invés de só balançar a cabeça pro discurso. Não quero julgar ninguém, não é minha intenção falar disso agora, de certo e errado. Mas coerência, é musica pra qualquer ouvido.

Eu acredito sinceramente que pessoas babacas, idéias idiotas e conceitos toscos sempre existiram. O lance é que a internet deixa isso tão exposto, tão explicito, que fica quase impossível não ver. Tem sempre alguém cuspindo na tua cara idéias cretinas sobre coisas sem importância e fazendo de conta que esse é o segredo do universo, tem sempre alguém subindo na mesa pra gritar uma nova verdade absoluta, mesmo que ela seja absoluta até que alguém grite mais alto outra verdade absoluta. OK! Provavelmente eu esteja nesse mesmo grupo, cuspindo aqui minhas teorias e conceitos. Mas não esperem que eu mude de idéia amanha, só porque o meu café tava mais amargo que o de ontem. Essa coisa de metamorfose ambulante é bem bonito na musica, mas um pouco de convicção é fundamental. Tomar partido sem conhecer um mínimo possível do assunto, é alem de burro, perigoso. Nos meandros da segunda guerra muita gente usava botons com uma suástica, sem fazer a menor idéia da existência dos campos de concentração. Se soubessem, agiriam de forma diferente.???

Não sou judeu, nem messias e infelizmente não transformo água em vinho, mas corro risco de ser crucificado por esperar mais coerência das pessoas. De pequenas bobagens a grandes conceitos filosóficos, a falta de coerência torna tudo pueril. Por exemplo... O que leva alguém ir no twitter pra dizer que não tem tempo nem saco pro twitter.? O que leva alguém passar o mês inteiro com um sapato furado, pra comprar um sapato novo pra uma festa.? Sapato que não vai ser usado denovo, porque repetir roupa em festa é pecado mortal no imaginário feminino. Por que beber tanto naquela festa, a ponto de no outro dia não lembrar de nada da festa.? Por que simular ódio a uma pessoa que você ama, ou amor a uma pessoa que odeia.? E essas são só bobagens, das quais também não escapo.

Há ainda coisas mais sérias, coisas que deveriam ser conceituais de todo ser pensante. A convicção para defender o que acredita ser certo, mesmo que esses ideais encontrem pedras e espinhos pelo caminho. Todo mundo tem opinião sobre tudo; Futebol, religião, política, orientação sexual... Enfim, todo mundo acredita ou não em deus, em papai Noel em E.T ou nos discursos do Obama. Estar certo ou errado é uma eterna variável. Cada um veste a camisa dos que estão certos e deixa pro outro time a camisa dos que estão errados. E pra mim pouco importa em que time vamos jogar, se certos ou errados. O importante é que haja jogo. O que importa é que seja manifestada a opinião independente qual for, contanto que essa mesma opinião venha acompanhada com as ações que ela representa.

Queria poder ter na ponta da língua as respostas pra falta de humanidade, da humanidade. Mas talvez a minha falta de esperança, seja também uma mecanização das perspectivas futuras. Assim, coerentes ou não, criteriosos ou não, categóricos ou não. Sentamos todos em nossas confortáveis poltronas a espera que algo aconteça, mesmo sabendo que a confortável poltrona vai por água abaixo, levada pela maré.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Monologo Obscuro de Um Dia de Sol

Talvez só eu tenha visto este filme repetidas vezes, talvez só eu tenha percebido que em tudo que disse, não houve um momento sequer que não tenha sido sincero. E ainda assim, sei que os únicos que dissimularam toda essa história, continuam carregando uma infinita e gloriosa coroa. Sei que nunca faltei com respeito, ainda que respeito seja moeda de troca. Perpétua via de mão dupla. Se hoje pago é por me permitir viver o que há pra viver. Sem limite de velocidade, sem calcular a altura do vôo ou o tamanho da queda.

Apesar da insistência no lance de autoconhecimento. Na busca da própria essência do bem comum. Preciso dizer, Foda-se se eu to errado, se confundo as coisas e misturo tudo. Eu me permito sentir, me permito exagerar e por tudo isso me permito errar também. Digo coisas de modo impulsivo, tentando explicar o que quase nunca tem explicação. Do mundo todo, mundo de idéias e inquietudes, por vezes sinto-me um conquistador, uma espécie de Vicente Pinzon adentrando o rio amazonas com sua intrépida caravela. Ainda que a expressão "conquistador" tenha sido desvirtuada também, para soar algo negativo. Mas eu sei, não sou nada disso. De canalha, tenho uma camiseta apenas. Mas também não tenho intenções heróicas que me garantam um busto em praça publica. Não dei nome aos bois num momento em que seria o mais fácil. Mas seria inocente da minha parte, já que tudo dito até então soava uma grande mentira. E nesse caso, tudo seria um prolongamento ardil, da mentira. Ainda que ela fosse, minha maior verdade.

Não escolhi o caminho mais curto, nem o mais fácil. Não me castiguei com o caminho mais longo e difícil também. Deve ser isso que os budistas chamam de essência do caminho do meio. Não tive tempo de dizer nada disso, não me dariam ouvidos. Ainda que eu ouça tudo que dizem estes santos que nunca cometem erros. Ouvir calado é um exercício de paciência, digno de quem tem controle sobre a própria vida, essencial para quem anseia inutilmente, controlar o tempo. E em outros tempos tudo isso, toda essa situação, esse xeque sobre meu caráter. Me faria explodir em raiva e violência, contra as pessoas ao meu redor e sobretudo contra mim mesmo. Mas este não sou eu, não mais.

Apesar de tudo, destas viagens agradeço por tudo que senti. Um dia quem sabe, mais alguém entenda.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

De Quebra!

Quebra cabeça
cabeças vão rolar
quebra vento
soprado lento
feito assovio de criança

quebra da bolsa
de valores
sem valores
quebra quebra
Em Londres
e na geral

Quebra do sigilo
telefonico
ou bancario
bancar o otario
e quebrar a cara

quebra nozes
pra lá e pra cá
quebra de pagina
e a vida segue no proximo capitulo
ou até a banca quebrar

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Nem Tudo É o Que Parece

Numa dessas madrugadas de insônia, tava sentado na sacada bebendo uma cerveja, tranqüila madrugada eu diria. Do lado de fora um frio de rachar, do lado de dentro o aquecedor garantia algum conforto. O vidro embaçado fazia a cidade parecer uma infinita fornalha. A luz laranja dos postes somada à distorção do vapor no vidro criava esse efeito de "cidade em Chamas". Aos meus ébrios olhos, naquele instante a cidade ardia. Aos meus olhos, somente. Mas nem tudo é o que parece, a vida é cheia dessas miragens e pode ser perigoso acreditar em tudo logo na primeira olhada, às vezes é preciso dar uma segunda olhada, uma terceira e até uma quarta. Os olhos enganam nossa expectativa, e essa armadilha pode ser perigosa.

Meu calcanhar de Aquiles talvez seja essa miopia na hora de olhar as pessoas. Pra mim, na primeira olhada todo mundo tem um potencial incrível. E por isso muitas vezes me engano, muitas vezes mesmo. Mas há algo de emocionante em correr esse risco. Saltar de para quedas ou se aventurar em novos relacionamentos pode ser arriscado, pode ser fatal até. Mas fora isso, há sempre o risco de sobreviver e gozar de tudo que há de positivo. A vida é uma arvore alta e cheia de espinhos, mas tem muitos frutos, tem muito a oferecer. E são justamente nas pessoas que estão os melhores frutos. E acho que todo mundo sabe o quão saborosa é uma amizade.

O lado negativo disso tudo, é a falta de clareza com que as pessoas vêem este tipo de atitude. Talvez pelo velho e maldito pudor, de acreditar que todo mundo se aproxima com algum interesse. Como as gurias que pensam que todo cara se aproxima com algum interesse sexual. Limitando as relações entre homem e mulher, a uma figura tosca de carne crua e fera faminta. Assim como aqueles caras que tem muita grana e entram numa paranóia de que todos se mantem a sua volta, por algum interesse financeiro. Na realidade tudo isso só materializa esse muro imaginário, que criamos desde a infância, com a finalidade de nos proteger do mundo. Fato é que, do lado de dentro do muro a diversão é limitada. E do lado de fora, o mundo não para um milésimo de segundo sequer, nem pra gente recuperar o fôlego. Saber encontrar o ponto de equilíbrio, parece ser o verdadeiro segredo do universo. A tênue linha que separa o Yin do Yang.

Essa ânsia por conhecer mais pessoas, e de querer conhecer cada vez mais das pessoas que já conheço, leva a algumas conclusões interessantes. Infelizmente algumas vezes um pouco decepcionantes. Como por exemplo a intenção que algumas pessoas têm em parecer o que de fato não são. Alguns chamam isso de falsidade, não acredito que seja exatamente isso em todos os casos. Algumas pessoas são assim porque precisam ser aceitas, porque não tem auto estima ou confiança suficiente para levar adiante o caráter, ou a personalidade que realmente lhes cabe. Assim como as luzes laranjadas, que através do vidro embaçado da janela criam essa ilusão de que a cidade queima numa grande fogueira. Algumas pessoas precisam parecer fogueira, pela dificuldade que tem de aceitar que são na verdade, icebergs. O dínamo dessas questões todas, são as expectativas que criamos. E é inevitável criar expectativas, apesar de ser um pouco infantil acreditar cegamente nelas.

Em uma outra madrugada, pela mesma janela da mesma sacada, via-se uma imensa nuvem de neblina que cobria tudo que ia alem de alguns metros dos olhos. Não era possível ver absolutamente nada alem daquela imensa massa de algodão cinzento. Colando a testa no vidro, a impressão que eu tinha era que o prédio todo estava envolto naquela massa disforme. Era um pouco assustador imaginar que nada poderia escapar dali, ao mesmo tempo em que era tentador imaginar a queda livre. E na confiança da peça que os olhos pregavam, a queda seria calmamente amparada pelo universo macio que o nevoeiro oferecia. Esse é um eterno risco a correr, saber quando a cidade realmente queima, ou quando o nevoeiro é solido suficiente pra amparar qualquer queda. Saber quando as pessoas são luzes laranjadas imitando fogo ardente, ou quando são nevoeiro, enganando nossos olhos. Talvez o único jeito seja arriscar, ou não...???

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Free As a Bird

Há coisas na vida que não são justificáveis. Que fogem do racional poder de escolha. Sentimentos como medo, afeto, simpatia ou desejo. Não há como designar se alguém vai preferir o azul ou o verde. Preferir cães ou gatos. Todo homem carrega o carma de ser irremediavelmente instintivo. Mas há coisas que devem ser levadas em conta: Mesmo que o instinto grite forte que devemos fazer algo, é preciso fazer valer toda racionalidade humana antes de explodir a fera que a genética animal nos deu. Talvez por isso, tantas vezes me esforço pra entender o mundo, procurando motivos factuais e relevantes pra que as coisas aconteçam. As engrenagens por traz de cada movimento, cada pensamento coletivo. A essência pura e simples de cada decisão.

Sou bom observador e isso pode ser um defeito grave pra quem se perde facilmente em devaneios. E desses tantos devaneios, ultimamente tenho percebido como as pessoas solidificam os relacionamentos, seja familiar, de amizades ou amorosos. E me assusta um pouco perceber que a base de tudo, parece ser reflexo dos extremos do egoísmo e da possesividade. Não quero parecer pessimista ou simplista com as minhas conclusões e teorias. Mas a impressão que tenho é de que as pessoas esperam cada vez mais retribuição pelas coisas que fazem. Doação virou negocio, serviço prestado a certo preço a ser cobrado posteriormente, de forma indefinida e quase sempre desmedida e injusta.

Não quero que isso soe como uma indireta, pois não sou disso. O que direi é só uma maneira de usar exemplos práticos pra justificar minha teoria. Todos temos defeitos e qualidades e isso forma nosso caráter. Feito um lego, montado peça a peça. O que aos olhos de uns parece grande virtude, pode expressar indiferença pra outros, e até mesmo um grande defeito. Tudo é questão de ponto de vista e de como se dão as trocas de cada relacionamento. Tenho amigos que só me procuram quando precisam de alguma coisa, sabem disso e continuam nesse estranho habito de acreditar que eu não percebo o claro interesse que rege essa amizade. Em alguns casos obviamente me afasto, não acredito que relacionamentos baseados em interesses unilaterais sejam saudáveis. Mas em alguns casos eu tolero, pois numa balança imaginaria, os bons momentos passados juntos acabam compensando.

Amizades são relacionamentos complexos onde reciprocidade nem sempre é fundamental. Falo de reciprocidade do ponto de vista de que um carinho, um gesto de afeto não deve ser medido ou comparado com um gesto de igual importância. Indiferença e descaso não combinam com amizade. Por isso usei o exemplo dos amigos que só me procuram quando precisam de alguma coisa. Alguns fazem isso por inocência, ou justamente por saber que podem contar comigo nos momentos de necessidade. Outros fazem isso porque nos outros momentos é indiferente o contato. Chamo todos de amigos e de certo cometo uma injustiça com isso, já que não seria prudente colocar no mesmo coração cansado, os bons e os maus amigos. Mas a vida me ensinou coisas importantes, entre elas a não guardar magoas. Quanto menos magoas guardar comigo mais amigos posso carregar pela vida.

Tenho um certo orgulho em falar dos meus amigos. Orgulho também em dizer que muitas das minhas amizades ultrapassam a barreira de décadas. E por mais que isso pareça pouco, uma década é tempo suficiente pra que muita coisa aconteça. Mas amizades são relacionamentos que exigem menor "manutenção" do que um namoro por exemplo. É possível passar meses sem trocar uma idéia com aquele amigo da faculdade. E quando ocorre o encontro geralmente a alegria transforma qualquer tempo em areia. Mas isso não é possível com um relacionamento amoroso, um namoro. E analisando isso, lembro inevitavelmente daquela minha amiga que sempre me chama no MSN quando precisa de uma consultoria de informática. Mas que nunca lembra de me perguntar como esta a vida. Será que ela usa os mesmos critérios, a mesma dedicação egoísta com seus relacionamentos amorosos? Se a resposta for sim, que lastima.

Já disse isso em algum texto passado, ou em algum outro lugar. Os seres humanos nascem sozinhos e morrem sozinhos. Mas vivem muito melhor em bando, em sociedade. Cada ser humano é único, cheio de detalhes que lhe colocam nessa condição. Todo ser humano é livre, ou ao menos deveria ser. Ninguém tem dono, seja amigo, família ou amante. Ninguém pode ser subjugado ou subjugar seus desejos e vontades, pela ditadura imposta por outro ser humano. Principalmente se isso for feito erroneamente em nome do amor. Amor não é isso, amor é outra coisa.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Que Dia é Hoje..??? Tanto Faz.

Não comemorei o dia do Rock e não foi porque não gosto de Rock, mas há em mim algum pessimismo que me faz descrente em relação a datas comemorativas. Pra ser direto, não gosto de datas comemorativas. Talvez exista uma explicação pra tudo isso nos distantes dias de minha infância. Nascer no dia das crianças talvez possa parecer divertido pra algumas pessoas, pra uma criança é um tanto quanto frustrante. Apesar de fazer piada com isso hoje em dia, demorei a entender o motivo de todas as crianças da rua ganharem presentes no dia do meu aniversário, mas eu não ganhar presente no dia do aniversário delas. Hoje em dia acho bacana não precisar trabalhar no dia do meu aniversário, mas quando era criança, queria estar na escola pra receber o cumprimentos de todo mundo. Achava legal quando a professora pedia que ficássemos em pé pra cantar os parabéns pra algum colega. Mas eu nunca fui o alvo desse coro de parabéns. No dia 13 ou no dia 11, ninguém lembrava.

Dia dos pais sempre foi um pouco estranho pra mim. Não só o dia exatamente, mas as prévias dessa data também. Na escola era uma época em que rolavam sempre apresentações dos alunos para os pais, até mesmo nas aulas de Educação Artística, éramos obrigados a fazer algum artesanato para presentear nossos progenitores. Mas duas coisas me deixavam absolutamente irritado com isso. A primeira, a minha total falta de habilidade com artesanatos. A segunda e talvez crucial, eu não tinha o que fazer com o tal artesanato de dia dos pais. Não morava com meu pai e não tinha nenhum contato com ele. Diziam pra entregar pra minha mãe e era o que eu fazia, mas, geralmente o objeto artesanalmente produzido nada serviria pra uma mãe. Alem do mais, ela já tinha recebido o artesanato dela de dia das mães. Por isso dia dos pais, o famoso segundo domingo de agosto, pra mim não representava nada alem de um domingo muito chato pra ver TV.

Talvez a escola represente 90% da vida social de qualquer criança. E por isso é nela que se formam muitos dos conceitos de certo e errado, muitas manias e hábitos e de certo muitos traumas. O 7 de Setembro não é um trauma pra mim, de forma alguma, mas também não representa nada muito agradável. Hoje em dia me alegra o fato de ser feriado e por tal tenho o dia livre. Quando criança era feriado, mas o dia livre começava normalmente cedo, já que era obrigação de todos os alunos de ir até a Avenida 7 de Setembro pra assistir o desfile de, 7 de Setembro. Não tenho más lembranças dessa época, gostava de ver o desfile. Gostava também do chapeuzinho verde que as professoras ensinavam a gente fazer, numa alusão ao "marcha soldado cabeça de papel".

E assim seguia o calendário com varias outras datas de menor importância, e digo isso, menor importância unicamente pelo tom de feriado nacional ou não feriado nacional. Dia do índio todo mundo se vestia de índio, dia da arvore todo mundo ganhava uma arvore pra plantar. Dia dos namorados não era significante naquela época. Mas em resumo, as datas comemorativas eram muito ligadas a vida escolar, talvez numa tentativa de fazer valer o real motivo da data e incrustar isso no caráter da molecada. Coisas como, o dia do índio serve pra lembrar dos índios que morreram durante a colonização, no dia da arvore, lembramos a importância das arvores, essas coisas que hoje parecem bobagem mas que são conceitos importantes a serem passados as crianças.

Algumas datas tinham um apelo mais intenso, eram essas as de cunho religioso. A páscoa da escola era a do coelhinho e dos ovos de chocolate. A páscoa de casa era a de ir na missa e de entrar num processo meio louco de jejum e não jejum. O que mais me atormentava na páscoa era a encenação da paixão de cristo que faziam pela rua. Nunca fui seguindo aquelas pessoas e quando o "cortejo" passava pela minha casa eu me escondia. Era um clima tenso que me deixava com muito medo. Não sei explicar o que rolava na época, hoje vejo como uma grande bobagem celebrar a crueldade, repetindo a crueldade. Seja ela verdadeira ou não.

Mas todo ano terminam sempre com um gran finale, dois feriados em duas semanas, Natal e Ano Novo. Pra mim sempre foram um pé no saco. Ok, eu curtia ganhar presentes de natal, mas as circunstancias pra isso eram sempre muito complicadas. Sempre morei com minha mãe e meus avos e como todo mundo sabe, casa de avos é o centro do universo familiar no Natal/Ano Novo. Isso quer dizer que minha casa era o centro de convenções escolhido pra reunião de uma imensa família composta de tios, tias e primos. Tudo começava errado pra mim, já que minha cama era a primeira a ser destituída pra algum visitante. Visita dorme na cama, eu no chão. E não quero parecer egoísta com tudo isso, mas, crianças têm um tom muito pessoal com seus brinquedos, porque sabem da dificuldade de consegui-los. E os brinquedos deixavam de ser os meus, passavam a ser brinquedos da casa da vó, ou seja, pertenciam a todo mundo. Sim, sou um comunista e não ligo pra isso hoje em dia, mas na época eu me irritava profundamente em ver meus primos destruindo os meus brinquedos sem o menor pudor. Na realidade o Natal e o Ano Novo eram pra mim um momento de destituição de todos os meus direitos habituais. Coisas simples como comer sentado a mesa, passavam a ser privilegio de adulto. Criança come em qualquer lugar. Usar o banheiro também, sempre a prioridade é das visitas. Quando tudo terminava e as visitas partiam para seus lares, restava sempre uma imensa bagunça e um tom melancólico no ar.

Quando disse que não comemorei o dia do Rock, talvez alguém tenha pensado que tipo de reacionário eu sou. Mas nessa luta pessoal pelo desapego a tudo que é inútil, tudo que só serve pra nos rotular socialmente ou nos prender a hábitos de mercado. Não comemoro dia de nada e faço questão de evitar trocas de presentes com data marcada. Presente legal é aquele que chega desinteressado e de surpresa. Mais que isso, os melhores normalmente não vem em caixas embrulhadas com papel de presente.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Síndrome de Peter Pan.

Não tenho medo de envelhecer, mesmo que isso inevitavelmente remeta a morte. Sempre imaginei que só tem medo de morrer, quem não teve coragem de viver. Mas concordo que envelhecer é para poucos. Procuro entender isso já há algum tempo, até tentando me convencer que este caminho natural e inevitável possa trazer algo de positivo. Crescer foi inevitável ainda que um processo doloroso. Os cada vez mais insistentes pelos brancos na minha barba, dizem que envelhecer também será um processo lento e cruel. Como ver a vida cozinhando em banho maria. Remar contra a correnteza da vida pode ser perigoso e frustrante, pela cruel realidade de ser inútil. Mas de olhos fechados, é possível remar contra a corrente, criando uma fantasia de que é possível driblar o tempo.

A vida é um faz de contas que ás vezes acontece. Fantasiar é fundamental em qualquer situação.

Ainda em meio a um interminável ciclone de novidades, tenho pensado em como seria voltar. Como seria começar denovo, reinventar uma vida que até bem pouco tempo era tão estranha e áspera. Começar denovo é uma das mentiras que inventamos pra tentar tornar a vida menos dura. A imagem do recomeço, a idéia dessa possibilidade deixa uma margem de esperança pra acreditar que qualquer erro pode ser superado, que nada é definitivo. Mas estas são idéias tão utópicas, como se fossem universos paralelos. E é um pouco desesperador não conseguir ver espaço em dois mundos distintos, tão sedutores e tão cheios de miragens. Pra mim, as distintas faces opostas da mesma moeda. Ser o homem adulto, carregado de virtudes e de futuro otimista. Ou ser o herói de fins de semana, de uma juventude de faz de conta, sem saber até quando isso pode durar.

Há um termo em latim que é "Conjunctio Oppositorum" [União de Opostos], os alquimistas adoravam essa expressão porque define bem uma porção de coisas, químico/físicas/filosóficas, que hoje a ciência dissecou e perdeu a graça. Em resumo, é a idéia de que qualquer coisa é composta de partes absolutamente diferentes, que se completam. Como o dia e a noite, pra formar um dia completo, ou a lua com sua face iluminada e sua face obscura. Talvez o conjunctio oppositorum do ser humano, é ser jovem e velho, bom e mal... Honestamente, não sei, é um assunto do qual preciso de mais horas de divagação.

Mas é profundamente sedutor imaginar que exista um lugar onde é possível ser um pouco Peter Pan, onde aqueles fios brancos em minha barba não representam a idade que corroí. Um lugar onde meu discurso faça tanto sentido e minha musica desafinada seja tão importante. Mesmo que só pra mim. Esse é o meu lar, meu castelo e minha fortaleza. Mas infelizmente é inocente acreditar que esse lugar exista alem da minha fértil imaginação. Alem do desejo puro e sincero de viver a vida a todo vapor, sem que façam diferença os números da minha carteira de identidade.

Dia desses lendo uma revista de nome estranho, descreviam isso como Síndrome de Peter Pan. O medo masculino de envelhecer, a idéia de ser sempre o adolescente invencível. De ser sempre heróico, bravo e forte. Na matéria dessa revista, às criticas a estes tipos de atitudes eram abominadas. Descrita como irresponsável e até doentia. O homem adulto que apresenta constantes lapsos de irresponsabilidade não tem espaço na sociedade moderna, concluíam.

Enfim, descubro que sofro de mais uma patologia. Sou Peter Pan de fim de semana, na distante e mágica, terra do nunca.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Façamos Silencio Pra Ouvir o Ultimo Suspiro...

Meu desejo maior nestes últimos dias, tem sido um pouco de silencio. Curioso pensar que é o mesmo silencio que me fez praguejar durante os últimos meses. Curioso e irônico, como escapar da morte num deserto escaldante pra morrer afogado ao encontrar um oasis. Talvez seja essa coisa que o Gessinger queira dizer com "Qual a droga que salva, qual a dose letal". Nos últimos meses, escrevi inúmeros poemas e crônicas. Algumas cartas também (dessas que nunca são enviadas ao destinatário). Os motivos que me levaram a escrever sempre foram extremos. Na maioria das vezes pra expressar a represa que se forma quando varias perguntas ficam sem resposta. Hora escrevi com amor, hora com medo, com saudades e com esperança. Não escrevia pensando em mudar o mundo, mas confesso o desejo de mudar o que sinto. Talvez mudar o que sentem algumas pessoas.

Tantas vezes escrevi em tom revolucionário, às vezes até sem acreditar no que escrevia. Na ânsia de contar histórias e vivencias; Milhares e milhares de devaneios de quem nunca fugiu do perigoso ato de pensar. Invoquei Marx (nunca Engels), quando queria entoar com dedo em riste, os discursos calados que me proibiram de fazer. Discursos raivosos de quem têm tanto a dizer, mas já não tem paciência pra "desenhar" suas teorias. Encarnei Che Guevara diante de uma platéia imperialista e capitalista, disfarçando ter forças sobre humanas pra sobreviver ao paredão de fuzilamento, dos olhares acusadores e das línguas afiadas. Sobrevivi, é o que parece, mas já não posso afirmar com total certeza.

Um dia me disseram que uma folha de papel rasgada, sempre será uma folha de papel rasgada. Mesmo que colada, ela nunca volta a ser papel intacto. É uma forma diferente de dizer aquilo que já disse aqui, sobre um homem nunca entrar duas vezes no mesmo rio. Hora muda o homem, hora muda o rio.

Durante os últimos meses, vivi situações novas e inusitadas até. Trilhos de uma estrada que em tantos anos ainda não tinha percorrido. Polaróides especiais de uma vida que, em tantos anos, eu ainda não havia vivido. Conheci pessoas e lugares. Sabores e sensações. O cheiro de novidade, definitivamente, foi uma constante nos últimos meses. Mas o cheiro de mofo, do velho e áspero silencio, das perguntas sem resposta, nunca se foi. Sempre escondido pelos cantos e pairando sorrateiro pelo ar na calada da noite. Não sou tão pessimista quanto pareço, acho até que sou otimista demais em situações extremas. Mas, minha sina sempre será a de acreditar que cedo ou tarde, o passado volta pra te cobrar dividas esquecidas. Não é medo, é força do habito. Eu tenho alguma coragem que me faz seguir desejando os rios de maior correnteza, mesmo sem saber nadar. Eu sei disso, sei que cedo ou tarde vou me foder pelas escolhas que faço, mas deixar de escolher seria deixar de viver.

Então, pra tentar acalmar toda essa angustia por tantas questões, tantas perguntas sem resposta, tantos paradigmas que caem do céu. O melhor seria mesmo um pouco de silencio. Desses de ficar quieto no escuro, mastigando cacos de vidro de um espelho retrovisor da história. Mas o mundo não para pra esperar que a gente resolva sair da cama, ou levantar da lona. Silencio é coisa rara, jóia preciosa que só tem valor, pra quem realmente precisa. O antídoto só salva, depois de ter sido envenenado.

No final de um e-mail que recebi há alguns dias, tinha essa frase:

"A águia voa sozinha, os corvos voam em bando, o tolo tem necessidade de companhia, e o sábio necessidade de solidão"

É bonito... Belas figuras de linguagem essas de águias, corvos, sábios e tolos. Mas é uma puta bobagem. Se em algum momento na vida me senti sábio, certamente não foi sozinho. E apesar de desejar imensamente um pouco de paz, de silencio. Nunca senti tanta necessidade de voltar ao bando. Paradoxal isso. Talvez eu fosse dessa vez, o calado do bando. Esse que busca o quarto mais escuro, pra clarear as idéias.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Inquisição aos Falsos Pudores

Existem coisas que o tempo nos faz deixar pra trás, algumas pela obrigação de crescer, de evoluir. Outras pela cruel circunstancia de não caber mais no casulo de nossas vidas. Assim como um sapato, que aperta os dedos porque ficou pequeno demais, e a gente abandona em algum canto. Com minha memória super sônica, consigo imaginar a vida como uma timeline e nela até reconhecer algumas coisas que deixei pelo caminho.

Um desses pacotes perdidos, com certeza é o apego a certos pudores. Não me privo em falar e discutir abertamente sobre temas que a maioria das pessoas esconde, seja por respeito excessivo, ou por medo. Não driblo, nem fecho os olhos pra libertinagem que vaga solta por toda cabeça humana em perfeito estado de funcionamento. Honestamente acho que alguns pensamentos/sentimentos, acorrentam o homem a um estagio de neandertalismo, impedindo que se liberte definitivamente rumo a uma evolução de verdade.

Procuram vida inteligente em outros planetas, sem se dar conta de que não conhecem a vida inteligente desse nosso planetinha Terra - Curiosamente pintado de Azul água. Seres humanos em sociedade, não são como uma matilha de lobos seguindo o macho Alpha. Ao menos, não deveriam ser. Mas o homem, criatura complexa, é animal instintivo em algumas situações, e forçadamente racional em outras. O desejo humano é nato e instintivo. Os pudores, são culturais, são forçados. O que difere um homem de uma tribo isolada da África, de um homem tido como civilizado, é única e exclusivamente a influencia cultural que a sociedade impõe. Os pudores são desses fatores que influenciam. Um homem civilizado não anda pelado pela rua, mesmo que sinta necessidade ou prazer com isso. Porque culturalmente isso é errado. O homem da tribo isolada anda nu quando quer, e se não quiser, se protege de acordo com a necessidade.

Mas não são só estes pudores de que falo. São pudores que em minha analítica opinião, ancoram o ser humano na correnteza da historia. Não é sobre a moda pelado/vestido que falo. São pudores sociais e ideológicos. Por exemplo, render-se de olhos fechados às regras que a sociedade empurra goela abaixo, pela simples razão de não querer destoar do "grupo", é um pudor social. O pudor de não se rebelar. E de braços dados a esse pudor vem a hipocrisia e a demagogia.

As pessoas fazem sexo, imaginam e sonham com sexo. Nascem por causa de uma trepada, da qual se recusam a considerar. Tem desejos e taras, algumas mais extravagantes que outras. A vida como conhecemos, em sua maioria, depende do sexo pra ter continuidade. Mas em algum momento histórico alguém inventou a religião e com ela o céu e o inferno. Com o céu e o inferno vieram as definições de certo e errado. E assim criou-se a primitiva imagem do PECADO. E ai vem a grande e histórica demagogia da humanidade. O sexo virou pecado, mesmo que a vida dependa dele. O pudor sobre o sexo veio justamente com essa limitação social de ditar que o errado, que o pecado te leva para o inferno. Então se evita falar sobre um assunto tão complicado, um assunto inevitável, que não sai das nossas cabeças, mas que nos leva a uma eternidade de sofrimento.

Eu poderia ficar por muito tempo falando disso, dos vários pudores que amarram a sociedade. De como eles são mesquinhos e medíocres, mas principalmente, frutos de uma sociedade doente e que carrega pelos séculos essas idéias ornadas de ignorância. Machismo e feminismo, dizem que há assuntos que podem ser tratados livremente pelos homens, mas que tornam-se absurdos nas bocas femininas. O moleque não veste rosa, porque alguém inventou que é cor de menina, cor de menino é azul. O cara não fala que o amigo cheira coca, porque tem alguma vergonha disso, mas esquece que Freud indicava cocaína aos pacientes, e que era remédio legal no inicio do século passado. Bobagens gigantescas. Pudores, falsos e mentirosos, que devem ser deixados pra trás, como pacotes desnecessários na timeline da nossa história, das nossas vidas. Carregando esses pudores, seremos pra sempre barcos ancorados na calmaria de lugar nenhum.