sexta-feira, 20 de julho de 2012

Memórias de Minhas Tristes Cordas de Nylon

Ontem entre um gole e outro de café, trocava as cordas daquele velho violão Crafter de quase 20 anos, de qual já falei por aqui. Pensava então que não gosto do meu café, e que cordas de nylon são um pouco como a vida. Eis minha tentativa humana e por isso, abundante de opiniões pessoais e pequenas ignorâncias, de tentar explicar como nosso lado "corda de nylon" se adéqua a vida.

Quando a gente troca as cordas de nylon de um violão, elas demoram um tempo até aceitar a tensão. Então você afina determinada corda e minutos depois ela cede e muda o tom da afinação. A corda é tensionada com perfeição num Sol e daqui a pouquinho ela já tá num esculhambado Fá sustenido. Até que com o tempo ela aceita a condição de ter sido criada para tal e acaba mantendo a afinação.

Mas não pra sempre... Quando envelhece ela volta a bagunçar as idéias, fica rouca e já não sabe quando é hora de ser Sol ou de ser Fá sustenido.

O individuo que pela própria definição é singular. O ser humano, portanto, é individuo.

Singular em cada uma de suas mais sutis características e único em cada detalhe de sua essência. Capaz de se relacionar com o meio ambiente e inclusive, com outros seres humanos. O individuo que pode ser homem ou mulher. Homem com sentimentos femininos ou mulher com sentimentos masculinos. Seres humanos, de desejos e sonhos; De medos e esperanças; Únicos porem, todos iguais.

E assim como uma corda de nylon, poucas coisas nesse individuo humano, são natas. Quase tudo na personalidade é adquirido pelas experiências de vida, pelas tensões e afinações que lhe foram atribuídas com o passar dos anos, por bem ou por mal. Por isso esse individuo não pode ser julgado pela cor, pelo credo, pelas preferências sexuais e muito menos pela posição que decide tomar perante este ou aquele assunto.

Isso irremediavelmente me lembra um trecho do livro "Memórias de Minhas Putas Tristes", de Gabriel García Marquez. Que diz:

"No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem."

"Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno."

Eis que a corda antes fielmente afinada, caduca suas frequencias, em suas definições mais intimas de certo e errado. E o individuo humano carregado de valores, muda.!!! Isso porque nada consegue ser definitivo quanto são as freqüências de um Sol ou de um Fá sustenido e como é minha falta de talento pra fazer café.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Memórias Afetivas e Sabores Artificiais

Quer ouvir uma grande ironia.? Maça verde. Maça verde é uma das grandes ironias do mundo. Porque uma bala de maça verde tem gosto de qualquer coisa, menos de uma verdadeira maça verde. Eu gosto do sabor artificial de maça verde e até acho bacana que tenha esse apelido. Mas isso nunca conseguiu me aproximar a lembrança do sabor  expressivo de uma verdadeira maça. Curioso também porque o sabor de maça verde, esse artificial, me lembra muito a Argentina. Lá tudo que tem sabor ou aroma de maça verde, é bom. Inclusive, as próprias maças.

Outra coisa curiosa e menos superficial que sabores e aromas de fruta, são as lembranças que se associam diretamente há um detalhe especifico. Assim como uma música que toca e ressuscita um exercito de sentimentos, ou um poema que sempre carrega o peso de uma pata de elefante sobre o peito, apertando em saudade numa força que não cansa. Deve ser isso que chamam memória afetiva.

Memórias afetivas e sabores artificiais são os motivos que me fizeram escrever essa crônica. Mas é tão fácil confundir isso com sabores afetivos e memórias artificiais...

Acho que na maioria das vezes, essa minha curiosidade de conhecer gente nova, nasce de uma seqüência de memórias afetivas que os hábitos ou as semelhanças me remetem a outras pessoas. Como uma guria que gosta de Engenheiros do Hawaii ou um cara com a camiseta do Che Guevara, sempre vão me trazer lembranças de grandes amigos distantes. Ou até mesmo, da distancia daquilo que já fui há muito tempo.

Um aspirante jogador de basquete, vai me lembrar de toda a minha trajetória frustrada. E ao invés disso ser trazer dolorosas lembranças, me faz ter o entusiasmo de ver nesse moleque a minha realização. Não que isso seja uma regra, senão deixaria de viver minha vida pra ser o positivista da vida dos outros. Mas de todo modo, sou sempre entusiasta de qualquer um que lembre um pouco o que fui quando jovem. E isso acaba trazendo conseqüências extremas, grandes amigos e grandes desafetos.

E mesmo que algumas pessoas sejam como o agradável sabor artificial das maças verdes, não consigo evitar o contato. Frustração é absolutamente aceitável nesses casos, e acho que isso eu tiro de letra. Não que não me surpreenda quando descubro que alguém que eu imaginava ser uma autentica maça verde, tinha só uma embalagem bonita e atrativa. A vida segue, sempre segue. Em algum lugar ficam essas lembranças e isso não significa nem de perto, que outras pessoas, com o mesmo sabor, com o mesmo aroma, serão artificiais ou não. Cada maça guarda uma surpresa, há que prová-las então.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Minha "quase" Revolução Cervejeira

Quase fui geógrafo, por uma frustração com a oceanografia. Na verdade queria oceanografia porque em um dos filmes do Jacques Cousteau, (dos que passavam na sessão da tarde era um dos meus preferidos), alguém dizia que o homem sabe mais sobre o universo, que sabe sobre o fundo do mar. Naquele tempo decidi que queria ser astronauta do fundo do mar. Sonho que terminou num vestibular frustrado, muita nota e pouca atenção. Uma prova sem assinatura invalida o gabarito diziam eles. Enfim, astronauta do fundo do mar era mesmo um exagero de quem ainda tem pânico de água.

Sempre gostei de história, mas não era esse o curso. Tentei jornalismo por birra. E numa metódica tentativa de ironizar a oceanografia, tentei geografia. Mas minha paciência tava longe de ser rocha basáltica ou calcaria. Eu desisti da geografia também. Nessa época era mais importante subir degraus na carreira profissional e pela situação do momento não era possível conciliar trabalho e faculdade. Há quem diga que a culpa foi do bar do Padilha, que ficava ao lado da faculdade. Eu nego, sem muita insistência.

Com o tempo comecei a sacar que não eram mais terra ou mar que me seduziam, não eram unicamente minerais ou conceitos biológicos. Eram sim as pessoas, a convivência e interação (De novo o bar?). Mas nunca tive coragem/paciência pra fazer psicologia e tão pouco fé e talento pra ser um religioso. Minha ciência nada exata sempre foi essa de ficar olhando o mundo, tentando entender os detalhes, filosofando sem compromisso madrugada adentro, quase sempre bebendo.

Por esse gosto de beber e por essa sina de revolucionario sem causa, um dia me vi fazendo cerveja.

Fazer cerveja é mais que um hobby, mais que uma pratica de ambição comercial ou uma satisfação de ego. Fazer cerveja é perpetuar um dos rituais mais antigos da humanidade, que é o de reunir o bando para celebrar e beber. Não é só pelo álcool que ao entrar na corrente sanguínea começa a libertar todos os nossos demônios, a romper as nossas mais intensas correntes. É o prazer de compartilhar desse exorcismo coletivo sem a urgência de que termine logo. É a liberdade extrema de compartilhar, histórias, vivencias, alegrias ou tristezas e principalmente, garrafas.

Seguindo então um ditado que gosto de repetir nos momentos de euforia etílica, "Só o álcool liberta.!" Sendo assim, fazer cerveja é subverter. É criar o túnel de fuga para os prisioneiros do sistema. É ter o poder de compartilhar o elixir que da forças ao oprimido. Ser o xamã pronto pra acalmar todos os demônios humanos.

Fazer cerveja, portanto, é ser um pouco Freud e um pouco Papa. Sem compromisso nenhum com a dialética ou com a 'subverciencia' de mitos. O que prevalece é somente o prazer de beber uma boa cerveja na companhia de quem gostamos. Dinheiro eu ganho como puder... A satisfação pessoal fica acima do bem e do mal.

terça-feira, 27 de março de 2012

Muito Alem do Muro

Roger Waters...

Domingo. 25 de Março de 2012. Estádio Beira Rio.

11:00hs da manha de um domingo ensolarado...

Não moro em Porto Alegre mas guardo boas recordações dessa cidade que não parece com qualquer outra cidade. Digo que, sempre me causa boas impressões. Justamente por não conhecer a cidade, rumei ao estádio Beira Rio logo cedo. Por um afobamento inexplicável, antes das 12hs já estava na fila. Portões abertos às 17hs como previsto. Fila segue, tudo como previsto. Rumo ao palco, rumo a grade. Menos de 10m separavam o microfone no palco do cansado e agora bronzeado espectador.

Pequenos inconvenientes...

Lentamente foi se espalhando a informação de que, por conta das obras do estádio Beira Rio, pessoas que compraram ingresso para o setor de cadeiras estavam recebendo pulseiras pra ir pra área de pista. Sim, aconteceu, jogo sujo com quem se esforçou pra comprar um ingresso melhor.

O horário marcado para iniciar o show não foi cumprido. Pelos alto falantes a explicação de que haveria um atraso por conta do grande numero de pessoas do lado de fora. As informações extra oficiais davam conta de um grande numero de catracas com defeito na hora de validar o ingresso. Outra reclamação comentada foi a lentidão do transito nas imediações do estádio.

Pra mim, um inevitável regozijo de quem encarou sol e longas horas de espera. Mas não passou por nenhum problema.!

O Show...

Enfim com mais de 40 minutos de atraso, um anuncio de que fotos com flash deveriam ser evitadas, pois não captariam as imagens do imenso muro. In the Flesh? começa a tocar em meio a fogos de artifício. Não parecia de verdade que aquela fita VHS que eu assistia quando era guri, tomava aquelas proporções. As projeções realmente criavam um universo paralelo muito especial, em torno da genialidade musical do disco de capa dupla e do filme. No palco Roger Waters não era um músico do Pink Floyd, não era apenas o mito que comandou durante anos a maior banda de rock progressivo de todos os tempos. Roger era um ator representando todos os demônios daquele atormentado personagem.


O primeiro ato do show se desenhava exatamente como no lendário filme. O atormentado Pink crescendo alimentado por medos e fantasmas. E a cada música o muro ganhava novos tijolos, até que se encerrava com o ultimo tijolo em Goodbye Cruel World.

Um intervalo de 20 minutos pra respirar... Era mesmo necessário. Não é possível deixar de associar os fantasmas de Pink, o personagem do filme, com os pesadelos que cada um. Esses demônios que nos fazem realmente criar muros, ou casulos, dependendo da proporção da fera.

Hey You abre o segundo ato do show. No palco, Roger encarna definitivamente o personagem cada vez mais envolto em seus medos. Trancado dentro de seu muro. A critica social do show contrasta uma multidão de capitalistas, todos nós. Tijolos do mesmo muro, porcos amontoados diante de um ditador intolerante. E assim, somos metralhados enquanto o porco inflável sobrevoa o publico. O Gran finale se aproxima, o publico pede a queda do muro... E assim se faz.

A sensação de ter vivido uma vida toda em menos de duas horas é intensa. Vitimas de guerra, vitimas do capitalismo, e nós as vitimas do nosso próprio egoísmo. Trancados e confortavelmente anestesiados dentro de nossos muros. Teremos força pra derrubar estes muros também..???






segunda-feira, 5 de março de 2012

Comparando Gerações

Vou começar de um jeito bem direto: Tenho 30 anos e tenho barba. Sim, simples assim. Particularmente, posso dizer que a barba faz parte da minha personalidade. Não uso barba de acordo com as correntes da moda, e sim, porque eu gosto de ter barba.

Precoce, já tinha fortes indícios de barba com 16 anos, talvez o que tenha me privilegiado a nunca ter que mostrar carteira de identidade pra entrar em lugares proibidos para menores. Com 19 anos já tinha uma barba fechada que me dava uma cara de pelo menos 25, o que era bem legal numa idade que eu queria ser levado a sério. De uma forma geral, desde essa idade, nunca passei períodos muito longos de cara limpa.

Onde isso influenciava.? Certamente em tudo. Com exceção do período em que trabalhei com pessoas culturalmente abertas. Normalmente o cara de barba feita e camisa, ganhava mais que o cara barbudo de camiseta.

Nessa época havia outra coisa que pegava bastante; As gurias não gostavam de caras barbudos. E isso aliado a minha natural falta de aptidões físicas, sempre me deixou em desvantagem nas conquistas amorosas. E eis o ponto em que quero chegar com esse papinho bobo de barba...

Hoje em dia as gurias reclamam muito da falta de, digamos, masculinidade dos caras. Na real, reclamam dizendo que os homens de hoje são uns frescos. Não discordo. Um cara de 20 anos é uma moça perto de um ogro de 30 como eu. Mas a parada que ninguém fala é que a culpa disso, é justamente das mulheres da minha geração.

Quando eu era um moleque barbudo e cabeludo louco pra pegar uma menininha, o estilo que hoje é idolatrado; Jeans rasgado, all star sujo, cabelo e barba descuidados, era completamente absurdo. Os caras que se davam bem com as gurias, eram os que usavam roupinhas alinhadas, com tênis bonitinho e andavam barbeados e com gelzinho no cabelo. Os caras que passavam cremes nas mãos e passavam base nas unhas. Ironicamente, esses caras que nós ogros chamávamos de viadinhos, eram os caras que pegavam todas as gurias.

Penso nisso toda vez que vejo as gurias de hoje pagando um pau enorme pra caras com barba. Pois há pouco tempo, o que elas queriam era exatamente o oposto disso. Pra esses caras que deram origem à expressão "mauricinho". E eram justamente os mauricinhos que escolhiam a dedo as gurias que queriam ou não.

Mas as leis de dois caras que nunca falha, Darwin e Murphy. Então os projetos de viadinho de antes "evoluiram". E por conta das infalíveis leis de Murphy, transformam-se nessa geração de donzelas. Que se emplumam feito pavões, se adjetivando como metrossexuais.

Então, gurias, a próxima vez que o namoradinho de vocês pedir alface ao invés de bacon. Um drink de kiwi, ao invés de cerveja. A próxima vez que eles pedirem pra que vocês passem base nas suas unhas, ou que eles demorem tanto quanto vocês pra se preparar pra sair (Mulher tem todo direito de demorar). Entendam que a culpa não é do seu namoradinho bonequinha de louça, a culpa disso é daquela sua tia trintona, que por um capricho criou esse monstro vaidoso. Enquanto isso, o velhote aqui, segue economizando uma grana com essas frescuras e lamina de barbear, e curtindo uma tardia massagem no ego, pelas gurias que curtem a essa barba de Neandertal.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Metas

Já que assumimos essa condição, de que em terras tupiniquins o ano só começa depois do carnaval. Vou com minhas considerações pra esse 2012, sem o pudor de traçar metas e planos que eu não possa falhar. Porque falhar é sempre mais provável.

Todo ano eu encaro com normalidade a mesma pergunta, e com uma eloqüência que faria de mim um esplêndido político, respondo com a certeza de quem passou dias traçando planos. "Quais as minhas metas pra esse ano?"

Criatividade pra respostas nunca me faltam... Cada uma de acordo com a expectativa do interlocutor...

Mas... Francamente! Ora senhores, a única e verdadeira meta certamente é de viver. E entupido de algum otimismo, arriscaria dizer, de viver melhor. Cometer exageros e arriscar tudo por um singelo punhado de boas lembranças. Viver, do jeito que cada um define isso. Melhor, porque em algum momento trágico da evolução, desenvolvemos esse desapego pelo presente e passamos a desejar o futuro. De algum modo, o presente nunca é adequado, nunca é bom o suficiente. Queremos o futuro como se nele estivesse escondido um novo mundo, melhor que o atual.

Mas na maioria das vezes a gente não tem a menor idéia do que é mesmo melhor...

Mas cá pra nos, qual é a importância de ter metas..? De um ano que tanto faz se começa em janeiro ou em março.??? Ler mais, ter mais saúde, passar mais tempo com os amigos ou com a família. Economizar dinheiro pra isso ou pra aquilo. O quanto é importante "disso ou daquilo", ou a saúde ou os livros..?

Na maioria das vezes a gente não sabe mesmo se tem metas, tão pouco sabe mensurar a importância que elas tem ou deixam de ter...

Nesse ano, que começa então com o fim do carnaval, a meta mais honesta que pude definir, foi a de não ter meta nenhuma. Não quero começar nada em nenhuma próxima segunda feira e nem quero abandonar nenhum vicio. Não tenho dietas em mente, não tenho planos de viagem e muito menos intenção de resolver pendências antigas. Acho que a única perspectiva de futuro a se importar, é a previsão do tempo. E mesmo assim, só pra fazer o contrario e pegar chuva quando eles dizem que vai fazer sol.

Minhas metas pra 2012 pós carnaval, é de me surpreender sempre que possível... Vamos.?

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

My Blue Suede Shoes ou Quase Isso.!

As pessoas riem do meu sapato azul de cadarço branco. Eu não ligo. Eu já usava esse sapato azul de cadarço branco muito antes de ter um sapato azul, de cadarço branco. É um pouco irônico, pois tem gente que acha super cool se ao invés do meu sapato, eu usar um all star azul. Tem até música que fala disso, e o moderno da vez é ser old school. Vintage, dizem eles. Bobagem...

Até uso o tal all star azul, porque é coisa da minha infância. Lá naquela época - e sempre soa tão medieval - O all star era o tênis barato que a galera podia usar. Essas babaquices de tênis importado não existia. O melhor tênis do mercado era um Rainha Sistem com amortecedor e com uma paradinha que girava, ao invés do cadarço. E custava pelo menos uns 10 pares de all star. Acho que em toda minha vida, só vi um desses. Era mais ou menos a Ferrari dos tênis, hoje ultrapassado. Ou vintage.

Não gosto de rótulos, e se dizem q sou old school porque bebo cerveja ao invés de uísque com energético, até entendo. Talvez porque em tempos de bue-ray eu penso com ganas em um super tocador de vinil. Mas vinil também voltou a moda, o tal vintage de novo, de novo os rótulos...

No show do Ringo, no ano passado, havia uma multidão de adolescentes. Contraste interessante com os senhores de cabelos brancos. Eu não era de turma nenhuma, de all star azul e ensaiando uns fios brancos na barba. Fiquei de olho num trio que sentou na minha frente. Eram vintage dos pés a cabeça. Embalados e rotulados. Pena não conhecerem absolutamente nada de Beatles. Sei lá, deduzo que ter ido ao show do velhote Ringo Starr seja uma credencial bem bacana na tribo deles. Sei lá que tribo, se é vintage, old school ou só da moda mesmo.

É engraçado como as pessoas se ofendem com julgamentos e rótulos. Mas quase nunca percebem que são elas mesmas que se colocam em situações de julgamento. E são elas que vivem buscando incessantemente um rotulo que as coloque em algum lugar distinto nos grupos sociais. Os rotulados se agrupam, e seguem nessa briga por ter o "rotulo" mais bonito.

Quando eu era moleque e jogava basquete, os caras usavam camisetas do Bulls e do Lakers. Eu usava uma camiseta do Guns n´Roses que tinha o numero pintado com Spray. O mesmo spray de tinta azul que usei pra pintar um tênis velho. Meu primeiro sapato azul de cadarço branco. Aquilo sim era motivo pra que rissem de mim.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Uma Cara Nova na Tua Camiseta

Ainda me impressiono como as pessoas se deixam enganar pelos personagens que a mídia cria. Até entendo isso vindo de adolescentes aficionados por astros de rock ou por artistas de cinema. Mas quando vejo adultos, inteligentes e capazes, num lance que beira a adoração de uma divindade. A fé cega de admirar sem conseguir aceitar defeitos e potencializando ao Maximo características simples e até grotescas. Isso me assusta.!

A mídia precisa criar personagens cativantes, assim eles atingem sua principal meta, que é vender. Vender um filme ou uma musica. Vender um produto ou um conceito. A mídia sobrevive disso, e criar esses personagens é seu maior trunfo.

O mocinho da vez é Steve Jobs. Citam frases dele como se fosse o próprio Buda reencarnado. Sobram adjetivos: Gênio; visionário; O cara que revolucionou o mundo digital. Em resumo, ele é o novo supra sumo de ser humano. Pena que ninguém lembra de coisas simples.

Steve Jobs foi só um milionário excêntrico que quase faliu a própria empresa. E quando dizem que ele fundou a Pixar, esquecem que ele só patrocinou os caras que tiveram a idéia. Ele também não inventou nada, como dizem. Ele só incorporou conceitos a um conceito maior que já existia. E por mais genial que ele pareça ser, sua empresa corresponde a uma ínfima fatia do mercado de computadores, dominada por dispositivos do padrão PC e com sistemas operacionais Microsoft. E o ser humano perfeito é o mesmo que possui fabricas na China usando de mão de obra barata, de trabalhadores em condições sub humanas. O mesmo que se auto creditou criação e o desenvolvimento de todos os seus novos produtos, ignorando completamente a equipe de projetistas. Os caras que realmente tiveram a idéia, desenvolveram e executaram. Enfim, ele assume o filho que não é dele.

No fundo, o que o Sr. Steve Jobs tinha, era muito dinheiro e uma boa equipe de marketing. Que fez dele o contrario do que representava o seu concorrente, Bill Gates, que possui a imagem de ganancioso e monopolizador. Criou-se assim o mito de vilão e mocinho. Numa história onde não tem mocinho algum...

Não há nada de novo nisso. Somos dados a divindades e ídolos. E esquecemos que qualquer ser humano tem defeitos e qualidades. E que focado num defeito ou em uma qualidade, podemos criar uma imagem positiva ou negativa de alguém. Assim como Lennon que é símbolo da pacificação dos anos 70. Mas que na verdade era um viciado em heroina que batia na mulher e que rejeitou o filho. Ou Che Guevara, que é símbolo da revolução pela liberdade, mas mandava fuzilar qualquer um que fosse contra o que ele acreditava ser a revolução. E assim segue...

Dia desses fiz um teste e citei frases ditas por Hitler, dando créditos a esses caras. Steve Jobs e John Lennon... Todo mundo acha o Maximo e segue a correnteza. E isso só demonstra como é fácil criar uma fantasia e um mito. Se o cara que estampa as camisetas era herói ou vilão, pouco importa. Importa o que a mídia quer que ele seja.!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Os Imortais do Ctrl C - Ctrl V

Ainda sobre a internet, um pouco das Celebridades do Mundo Virtual...

É tudo mais ou menos assim:

O cara tem um blog de humor, machista de mau gosto e repetitivo. Ou seja, um blog de sucesso.! Há também um outro que faz muito sucesso publicando fotos cheias de sangue e carne crua. Gente morta e violência pra todo lado. Quase um filme de terror, só que de verdade. A antítese do humor talvez. Pão e circo.? Então daremos ao povo o que o povo quer.

Os blogs aos poucos saem de moda, porque afinal, ler é um saco. (muita letra e pouca foto e pronto, já fechou sem ler) Então vamos facilitar tudo fazendo um vídeo. Feliz pra quem quer felicidade ou todo putinho pra quem quer rebeldia... Um vídeo ninguém resistirá...

Assim a guria posta vídeos na internet, e ainda que seja uma graça falando de um jeito descontraído, é só mais uma moralista ancorada em pudores. Fazendo de conta que é de verdade, o personagem que criou. Um outro moleque fala de música como se tivesse sido parido nalgum canto de Woodstock. O outro reclama da vida e xinga todo mundo com a urgência de quem nunca saiu sozinho do próprio prédio.

Do outro lado, nós, o publico que recebe isso de braços abertos.!

A criatividade quase sempre gira em torno de Ctrl C - Ctrl V nesse fabuloso mundo virtual. E ganha quem tiver o maior numero de adeptos, ou que tiver o maior numero de adeptos fervorosos. Pra isso o velho Goebbels tinha razão, a propaganda e a retórica tem uma força inimaginável.

Há ainda os filósofos de frases feitas, que adoram citar defuntos famosos. Que tiveram um puta trabalho pra escrever obras intensas e contundentes. Pra que algum gênio moderno, fatiasse, picasse, resumisse tudo em 140 caracteres e recebesse os louros pelo melhor ressumo da obra.

Nosso futuro... Um triste breve futuro. Talvez seja de ter na já tão avacalhada Academia Brasileira de Letras, esse pessoal que esbanja talento em copiar e colar. Serão eles os Imortais da Academia. Os formadores de opinião do futuro. Estes retrógrados escribas, incapazes de criar, mas com habilidade única em reproduzir toda merda que acham pelo caminho. E francamente, quanta merda há no caminho heim!!!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Fogos de Artifício não Fazem a Revolução

Há alguns dias, conversando com uma pessoa dessas que não desgruda o celular por conta do facebook. Perguntei se ela tinha mesmo aqueles 2mil e tantos amigos se no aniversário dela não tinham mais do que 10 pessoas.? Acho que ela não gostou. Acho até que teria me excluído da sua lista de amigos. Mas como nesse mundo "facebookiano" estatística é tudo, provavelmente não faria nada p/ perder um adepto. Sei que fui grosseiro da forma como me expressei e fico até um pouco envergonhado com isso. Mais pela falta de sensibilidade na hora de me expressar do que pela idéia que tenho sobre o assunto. Nesse caso, o paradoxo de ter um avatar muito popular, mas de ser um pé no saco na hora de jogar conversa fora.

Não sou filho dessa geração FaceBook. Dentro e fora da internet sou um dinossauro sobrevivente. Mas aprendi a me alimentar somente das poucas coisas boas que surgem nesse meio. Sei que há mais gente assim, mas até quando resistiremos, não sei. Acho que o segredo é parar de fazer cabo de guerra contra as tendências e se deixar levar com mais naturalidade, mas principalmente, sem levar tudo tão a sério. A ferramenta não pode domar o artesão, e a internet é só mais uma ferramenta.

Nessa coisa de escrever e publicar num blog sou meio dinossauro. Peguei o inicio dessa mania lá pelo final do século passado, Sim, o século passado, 1999/2001. Naquela época a onda era meio underground, escrever nesse "diários virtuais" era quase como fazer punk rock. O lance "Do it yourself" (faça-você-mesmo) era bastante libertador. Confesso que era muito mais pé no saco que hoje, sim, mas ao mesmo tempo era muito mais intimista. Permitindo quase sempre uma aproximação maior entre leitor e autor. Não existiam ainda essas sub celebridades de internet, que todo mundo conhece, mas que ninguém nunca viu. Havia também uma estranha reciprocidade em que o leitor também era autor e o autor era lido por outro autor/leitor. Enfim, uma “pagação de pau” cíclica ad infinitum.

Eu comecei a escrever num blog porque, desde a maquina de escrever Olivetti, aos rabiscos nos cadernos e apostilas do cursinho, escrever era a minha praia. Jogar na rede esses textos era inevitável. Havia uma busca por reconhecimento e com certeza "blogar" era o caminho mais curto. Penso, logo existo. Escrevo, logo penso, logo existo -Logo Blogo. Acho que era essa a grande viagem de quase todo mundo que entrou nessa.

Peguei o inicio de quase tudo dessa internet comercial dos últimos 15 anos. E como tudo tem data de validade curta, muitas das novidades que vi nascer já nem existem mais. Peguei o trem andando com o Mirc e ICQ, mas tava ligado quando o Napster estourou. Quando fechou também. Quando o Kazaa tomou conta das redes P2P no compartilhamento de dados. E com o tempo até o ruído do modem U.S Robotics de 33kbps deu lugar a outras formas de conexão. Banda larga eu vi nascer como esperança de redenção. Vi também ela ir ficando cada vez mais larga e deixando a gente mais exigente.

As pessoas não acreditam quando digo que sou avesso a tecnologias. Eu tento explicar que é meu ganha pão, até porque faço isso muito bem. Mas gostar pra valer, eu gosto de pensar bobagem, bater papo e beber cerveja. Peguei o começo de tanta coisa, que agora espero a tecnologia criar forma, pra ver se é a minha praia mesmo ou se posso deixar passar batido.

Das redes sociais, sempre tive pé atrás. Acho até que sou anti social demais pra alimentar esse monstro com minha própria carne. Mas isso é pessoal, acho bacana quem tem saco pra aprender e aproveitar essa ferramenta. O problema das redes sociais é que fizeram delas o suprassumo da sociedade moderna, e decadente. As pessoas usam seus perfis como portfólio de personalidade, como se não bastasse o que são de coração, mas a imagem que querem vender. Vale mais o rotulo criado do que o que são de verdade.

Em tempos onde a informação é tão perigosa quanto laminas afiadas. Ter personalidade é quase como polvora. Há quem use pra fazer fogos de artificio, e há quem use pra detonar o canhão.!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Metralhadora

Das muitas coisas loucas com que sonho, noite dessas sonhei que era perseguido por um maluco com uma metralhadora igual a do Rambo. E eu tentava escapar no meio do transito de uma cidade apocalíptica. Lembrei disso porque me dei conta de que a vida tem sido assim, metralhando informações e conceitos sem o menos pudor sobre nossos olhos e ouvidos indefesos. E quase tudo, enlatado e pronto para o consumo, temperado com muito Pré Conceito.

Podemos dizer que a culpa disso tudo é da mídia, mas seria simplista demais. Não seria exagero generalizar dizendo que todo mundo quer ser um pouquinho formador de opinião. Desde o cara que publica vídeos engraçados no youtube, até o cara que escreve crônicas pra um blog de nome estranho, toda segunda feira. Todos querem super valorizar esse quinhão de idéia que acreditam ser capaz de revolucionar o mundo. Muito bem, muito bom... Não fosse a nossa inegável mania de forçar a barra com conceitos pré fabricados.

Recentemente estive na Argentina e pude comprovar algo que já havia percebido nas outras vezes que estive lá. É inegável a gentileza e a riqueza no tratamento deles para com os brasileiros. E isso me deixa profundamente envergonhado, pelo tratamento grosseiro e preconceituoso que os brasileiros têm com os hermanos. Rivalidade é difícil de explicar e o futebol é algo muito ligado a isso, a rivalidade das equipes, das torcidas. Brasil e Argentina representam um pouco disso sem duvidas. A rivalidade histórica que vai muito alem do futebol, mas como pouca gente sabe de historia, acaba ficando só com a parte do circo, só com a metáfora lúdica.

Mas então, se os hermanos são tão gentis, de onde surgiu essa eterna propaganda de que eles nos odeiam..? Honestamente, não sei, mas ela continua sendo metralhada por todos os lados. E até mesmo quem nunca conheceu um argentino, aceita essa idéia sem nenhum critério.

E estes preconceitos não precisam necessariamente sair das fronteiras do pais. Pois existe também uma idéia errada de quem os gaúchos não gostam dos nordestinos, e que os nordestinos não gostam dos gaúchos. Existe uma idéia equivocada de que os cariocas são todos malandros e que os bahianos são todos preguiçosos. Como se latitude e longitude ou a posição geográfica definisse o caráter das pessoas. Uma imensa bobagem que é vendida, comprada e por fim adotada como regra universal, sem sequer cogitar a possibilidade de engano.

Estive duas vezes em São Paulo este ano e nas duas oportunidades fui passado pra trás pelos taxistas. Que alem de tirar minha grana, eram extremamente mal educados. Curioso, mas nunca tive problemas em nenhuma das vezes em que estive na Argentina. Engraçado, como tenho tantos amigos nordestinos quanto tenho amigos gaúchos. Engraçado como os cariocas que conheço, tem um coração enorme. Engraçado também como, os mesmos amigos paulistas, sempre passam apertos entre os próprios paulistas. E que quem assalta o curitibano, é o próprio curitibano...

Enfim, onde está o erro nesse preconceito todo.???

Vamos jogar então toda culpa na mídia, e deixar que esse preconceito crie raízes. E depois de enraizado, vamos usar esse nosso pequeno espaço como "formadores de opinião", pra metralhar de olhos fechados todas essas idéias mesquinhas, todas essas teorias medonhas. Vamos lá, que essa metralhadora de merda, esta em nossas mãos. Ahhh, vale lembrar que nessa brincadeira, é impossível não se sujar.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Os Maias e as Boas Novas de 2012

Não sei responder quando começa o ano. Se nos primeiros segundos do dia 1º ou na manha que segue. Se no dia 2, 3 ou 4 ou no primeiro dia util. Aqui nessa terra de Cabral, dizem que o ano só começa depois do carnaval, e perdoem o trocadilho, mas tudo soa assim mesmo, uma grande bobagem sem muita graça.

E tudo segue como sempre. Os astrólogos inventando novas conjunções planetárias e interestelares, pra falar de milhões de novas teorias. E pragmáticos predizem o que será do próximo ano, como se fosse possível enxergar com clareza tudo que esta escondido sob a nevoa do futuro. Pré dizer é coisa que encanta muito o ser humano. Não é por nada que Nostradamus faz tanto sucesso, há tanto tempo. Acho que essa, nem ele próprio conseguiu imaginar. E assim todo misticismo envolvendo a troca do calendário, vira um grande mercado de adivinhações. Pai de santo, astrólogo, vidente, tarólogo, xamã, babalorixa, cabalistas, enfim, todo mundo chutando o que vai rolar no ano que nasce, claro, em troca de alguns trocados.

Na rotina diária entra um clima inevitável de festa, que se mistura ao espírito natalino. Que é cada vez mais impregnado de um espírito consumista. Mas essa eu também consigo prever, no próximo ano, seremos ainda mais consumistas, baby. E a parentada se junta e faz de conta que se gosta de verdade. Ficamos então tentando mensurar os sentimentos avaliando o valor do presente que vamos dar ou ganhar. Portanto, se você ganhou um pijama é porque não gostam tanto assim de ti. Mas se você foi o felizardo que ganhou a TV de plasma ou o Ipad, então é porque gostam pra caralho de ti.

No Réveillon começam a pipocar todos os tipos de superstições. E ninguém escapa de se meter numa roupinha branca, nem que seja só pra não destoar do resto do bando. E assim segue uma série de rituais que começam pela escolha da cor da cueca. Afinal, escolher a cor errada da cueca pode arruinar o teu ano todo. Então antes de cometer esse erro fatal, melhor seria não usar cueca. Fato é que ano pós ano desde que se inicia a fase pré adulta da vida, o primeiro dia de Janeiro, esse que no calendário é oficial, 01/01, quase sempre começa com a primeira ressaca do ano. Porque é no ultimo/primeiro dia do ano que se extravasa a tensão dos outros 364 dias passados. E é isso mesmo, final do ano é feito pra isso, pra cometer monumentais exageros. Muita comida, muita bebida e muita grana gasta sem precaução. Nessas horas exageramos até em otimismo, até os pessimistas crônicos conseguem ter alguma esperança de dias melhores.

E esse ciclo segue, sem muitas alterações.

Ops... Perai. No próximo ano não teremos natal, e nem Réveillon. Sim, os Maias, que também gostavam de fazer uma fézinha e apostar no futuro, e que não tinham nada a ver com a economia interna do Pólo Norte. Disseram que o mundo acaba dia 21 de Dezembro desse 2012. Ou seja, sem Natal esse ano. Enfim uma boa noticia...