Acho que o homem dividiu o tempo em Passado; Presente; Futuro; imaginando uma forma de justificar suas saudades. E desde então não cansamos de criar expectativas com relação ao futuro, baseado nas perspectivas que temos sobre o passado. Dia desses, zapeando com o controle remoto, me chamou a atenção um programa que falava sobre aspectos e características das civilizações antigas. Esse assunto sempre prende minha atenção, principalmente porque quase tudo é baseado em pequenas deduções de "achismo". E assim esses grandes homens da ciência, criam verdades, e suas verdades dão embasamento para que outros homens criem outras verdades. Quase tudo é dedução, hipótese.
Uma verdade: No final da década de 90, o telescópio Hubble captou imagens de uma galáxia 13 bilhões de anos luz da Terra. Veja que irônico, pois se a luz dessa galáxia demorou 13 bilhões de anos pra chegar até as lentes do telescópio, estávamos então observando o passado de estrelas e planetas que possivelmente não existiam mais. A ironia de contemplar cientificamente uma saudade, sem deduções rasas.
Contemplar o passado é especialmente gratificante. Olhando as estrelas no céu à noite, ou um álbum de fotografias da infância. Das pinturas rupestres de uma caverna ou do sorriso e seus motivos, publicado ontem em alguma rede social. Esse é o nosso ponto de ligação ao passado, às memórias afetivas. Astrólogos calculam mapas astrais, astrônomos observam o passado longínquo de galáxias mortas. Que curiosa saudade daquilo que não vivemos.
Ironicamente, às vezes sentimos saudades das expectativas que criamos com um possível futuro. E pra isso o homem ainda não inventou um local no tempo/espaço. Um passado paralelo sobre um futuro imaginado. Mas isso são deduções, dessas que grandes homens se utilizam pra criar verdades cientificamente hipotéticas.
Ainda sobre estrelas:
Quando eu era criança gostava de olhar as estrelas. Não lembro exatamente se pensava em viagens espaciais em uma roupa de astronauta, mas lembro de sentar em frente a minha casa com uma pequena caderneta, e anotar tudo que eu via de diferente. Eu sabia o horário e os dias da semana dos vôos comerciais, sabia o horário e o local onde poderia ver o movimento de um ou outro satélite. E havia uma inocente e sincera esperança de que os pedidos feitos pra alguma estrela cadente se realizasse.
Sinto saudades dessa sincera esperança.
Curioso, a palavra 'sincero' também é de origem latina. Quando os artistas esculpiam na rocha, usavam uma espécie de cera pra corrigir as eventuais falhas. Uma escultura perfeita, sem nenhuma falha, era uma escultura sem cera. Assim, fica mais difícil calcular, sem deduções e hipóteses, se a saudades de agora são realmente sinceras...