sexta-feira, 15 de julho de 2011

Inquisição aos Falsos Pudores

Existem coisas que o tempo nos faz deixar pra trás, algumas pela obrigação de crescer, de evoluir. Outras pela cruel circunstancia de não caber mais no casulo de nossas vidas. Assim como um sapato, que aperta os dedos porque ficou pequeno demais, e a gente abandona em algum canto. Com minha memória super sônica, consigo imaginar a vida como uma timeline e nela até reconhecer algumas coisas que deixei pelo caminho.

Um desses pacotes perdidos, com certeza é o apego a certos pudores. Não me privo em falar e discutir abertamente sobre temas que a maioria das pessoas esconde, seja por respeito excessivo, ou por medo. Não driblo, nem fecho os olhos pra libertinagem que vaga solta por toda cabeça humana em perfeito estado de funcionamento. Honestamente acho que alguns pensamentos/sentimentos, acorrentam o homem a um estagio de neandertalismo, impedindo que se liberte definitivamente rumo a uma evolução de verdade.

Procuram vida inteligente em outros planetas, sem se dar conta de que não conhecem a vida inteligente desse nosso planetinha Terra - Curiosamente pintado de Azul água. Seres humanos em sociedade, não são como uma matilha de lobos seguindo o macho Alpha. Ao menos, não deveriam ser. Mas o homem, criatura complexa, é animal instintivo em algumas situações, e forçadamente racional em outras. O desejo humano é nato e instintivo. Os pudores, são culturais, são forçados. O que difere um homem de uma tribo isolada da África, de um homem tido como civilizado, é única e exclusivamente a influencia cultural que a sociedade impõe. Os pudores são desses fatores que influenciam. Um homem civilizado não anda pelado pela rua, mesmo que sinta necessidade ou prazer com isso. Porque culturalmente isso é errado. O homem da tribo isolada anda nu quando quer, e se não quiser, se protege de acordo com a necessidade.

Mas não são só estes pudores de que falo. São pudores que em minha analítica opinião, ancoram o ser humano na correnteza da historia. Não é sobre a moda pelado/vestido que falo. São pudores sociais e ideológicos. Por exemplo, render-se de olhos fechados às regras que a sociedade empurra goela abaixo, pela simples razão de não querer destoar do "grupo", é um pudor social. O pudor de não se rebelar. E de braços dados a esse pudor vem a hipocrisia e a demagogia.

As pessoas fazem sexo, imaginam e sonham com sexo. Nascem por causa de uma trepada, da qual se recusam a considerar. Tem desejos e taras, algumas mais extravagantes que outras. A vida como conhecemos, em sua maioria, depende do sexo pra ter continuidade. Mas em algum momento histórico alguém inventou a religião e com ela o céu e o inferno. Com o céu e o inferno vieram as definições de certo e errado. E assim criou-se a primitiva imagem do PECADO. E ai vem a grande e histórica demagogia da humanidade. O sexo virou pecado, mesmo que a vida dependa dele. O pudor sobre o sexo veio justamente com essa limitação social de ditar que o errado, que o pecado te leva para o inferno. Então se evita falar sobre um assunto tão complicado, um assunto inevitável, que não sai das nossas cabeças, mas que nos leva a uma eternidade de sofrimento.

Eu poderia ficar por muito tempo falando disso, dos vários pudores que amarram a sociedade. De como eles são mesquinhos e medíocres, mas principalmente, frutos de uma sociedade doente e que carrega pelos séculos essas idéias ornadas de ignorância. Machismo e feminismo, dizem que há assuntos que podem ser tratados livremente pelos homens, mas que tornam-se absurdos nas bocas femininas. O moleque não veste rosa, porque alguém inventou que é cor de menina, cor de menino é azul. O cara não fala que o amigo cheira coca, porque tem alguma vergonha disso, mas esquece que Freud indicava cocaína aos pacientes, e que era remédio legal no inicio do século passado. Bobagens gigantescas. Pudores, falsos e mentirosos, que devem ser deixados pra trás, como pacotes desnecessários na timeline da nossa história, das nossas vidas. Carregando esses pudores, seremos pra sempre barcos ancorados na calmaria de lugar nenhum.

3 comentários:

  1. Eu ainda acredito, que algum dia, quem sabe milhares de anos, quem sabe outra dimensão, ainda irá existir uma sociedade onde esses parâmetros não sejam levados em consideração, já dizia Raul "faz o que tu queres, há de ser tudo da lei". òtimo texto.

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  2. pagamos um preço por sermos conhecedores de nos mesmos, de nossas ideias, de nossas vidas e de nossos medos. sinto, da mesma forma que voce, que este mundo nao é o meu. sim, este é [mais] um comentário vazio.

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  3. Gostei, só fico pensando que os 'pre-conceitos' impostos pela sociedade são os pilares de nossos pudores. O que me leva a crer que jamais seremos homens livres, pois somos socialmente constituidos de valores inversos aos nossos ideais, e enquanto nossos ideais buscam liberdade e a sociedade impõe a padronização, nós então buscamos a calmaria para não entrarmos em conflito neste mundo que achamos que não nos encaixamos.

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