sexta-feira, 22 de julho de 2011

Síndrome de Peter Pan.

Não tenho medo de envelhecer, mesmo que isso inevitavelmente remeta a morte. Sempre imaginei que só tem medo de morrer, quem não teve coragem de viver. Mas concordo que envelhecer é para poucos. Procuro entender isso já há algum tempo, até tentando me convencer que este caminho natural e inevitável possa trazer algo de positivo. Crescer foi inevitável ainda que um processo doloroso. Os cada vez mais insistentes pelos brancos na minha barba, dizem que envelhecer também será um processo lento e cruel. Como ver a vida cozinhando em banho maria. Remar contra a correnteza da vida pode ser perigoso e frustrante, pela cruel realidade de ser inútil. Mas de olhos fechados, é possível remar contra a corrente, criando uma fantasia de que é possível driblar o tempo.

A vida é um faz de contas que ás vezes acontece. Fantasiar é fundamental em qualquer situação.

Ainda em meio a um interminável ciclone de novidades, tenho pensado em como seria voltar. Como seria começar denovo, reinventar uma vida que até bem pouco tempo era tão estranha e áspera. Começar denovo é uma das mentiras que inventamos pra tentar tornar a vida menos dura. A imagem do recomeço, a idéia dessa possibilidade deixa uma margem de esperança pra acreditar que qualquer erro pode ser superado, que nada é definitivo. Mas estas são idéias tão utópicas, como se fossem universos paralelos. E é um pouco desesperador não conseguir ver espaço em dois mundos distintos, tão sedutores e tão cheios de miragens. Pra mim, as distintas faces opostas da mesma moeda. Ser o homem adulto, carregado de virtudes e de futuro otimista. Ou ser o herói de fins de semana, de uma juventude de faz de conta, sem saber até quando isso pode durar.

Há um termo em latim que é "Conjunctio Oppositorum" [União de Opostos], os alquimistas adoravam essa expressão porque define bem uma porção de coisas, químico/físicas/filosóficas, que hoje a ciência dissecou e perdeu a graça. Em resumo, é a idéia de que qualquer coisa é composta de partes absolutamente diferentes, que se completam. Como o dia e a noite, pra formar um dia completo, ou a lua com sua face iluminada e sua face obscura. Talvez o conjunctio oppositorum do ser humano, é ser jovem e velho, bom e mal... Honestamente, não sei, é um assunto do qual preciso de mais horas de divagação.

Mas é profundamente sedutor imaginar que exista um lugar onde é possível ser um pouco Peter Pan, onde aqueles fios brancos em minha barba não representam a idade que corroí. Um lugar onde meu discurso faça tanto sentido e minha musica desafinada seja tão importante. Mesmo que só pra mim. Esse é o meu lar, meu castelo e minha fortaleza. Mas infelizmente é inocente acreditar que esse lugar exista alem da minha fértil imaginação. Alem do desejo puro e sincero de viver a vida a todo vapor, sem que façam diferença os números da minha carteira de identidade.

Dia desses lendo uma revista de nome estranho, descreviam isso como Síndrome de Peter Pan. O medo masculino de envelhecer, a idéia de ser sempre o adolescente invencível. De ser sempre heróico, bravo e forte. Na matéria dessa revista, às criticas a estes tipos de atitudes eram abominadas. Descrita como irresponsável e até doentia. O homem adulto que apresenta constantes lapsos de irresponsabilidade não tem espaço na sociedade moderna, concluíam.

Enfim, descubro que sofro de mais uma patologia. Sou Peter Pan de fim de semana, na distante e mágica, terra do nunca.

Nenhum comentário:

Postar um comentário