segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ensaio Sobre Uma Quase Revolução - Capitulo II

"You say you want a revolution
Well, you know
We all want to change the world

You tell me that it's evolution
Well, you know
We all want to change the world"
The Beatles

Ando meio de saco cheio desses caras que vestem camisetas do Che Guevara. Dessas que se encontram a venda em algum shopping, dividindo espaço com camisetas do Michael Jackson e agora também do dono daquela empresa da maçazinha. E sei que corro o risco de estar atirando contra o próprio pé, de estar correndo o risco de me cortar nessa fria navalha de criticas, pois também tenho uma camiseta do Che Guevara. Mais que isso, tenho uma tatuagem do Che no braço direito. Mas o que enche o saco são esses idealistas de fantoche. Esses comunistas de mesa de bar, que ficam tentando empurrar Marx goela abaixo, com muita coca cola pra ajudar a descer. Esses caras cheios de teorias e de idéias revolucionarias, que entre um discurso e outro, alimentam o intenso desejo de no final do ano: Comprar um carro novo. Esses caras que fazem pose de revolucionários mas que no fundo só pensam nos próprios interesses.

O que me enche o saco são esses caras neoliberais, que se metem num terninho e num all star só pra tirar onda de moderninho. Mais que isso, se afogam na dura ironia de ser retro, pra ser moderno e cult. Esses caras que pregam uma liberdade direta e incondicional, mas que se acorrentam firmemente a rótulos. Esses caras que gritam o tempo todo em nossos ouvidos, o direito das pessoas serem o que quiserem ser e que a discriminação é burra. Mesmo que eles sejam os primeiros a atirar pedras nos caras que decidiram não tomar partido, ou que resolveram ficar do outro lado do muro. E assim criam suas tribos. A tribo dentro da tribo, dentro da tribo, dentro da tribo, eis que só resta a tribo do ego. Onde são os reis e os súditos da própria vida, os carrascos e os condenados, o par e o impar. E celebram intensamente dançando em volta do próprio umbigo.

Me tira a paciência esses caras que lêem dois ou três livros de Freud, Jung ou Lacan e começam a pensar que podem explicar o mundo todo. E com varias teorias medíocres começam a traçar perfis, começam a inventar novas regras para o certo e o errado. Esses caras que tiram onda de intelectual porque decoraram um parágrafo de Descartes, ou leram a biografia de Dostoievski na Wikipédia.

E quando fico mesmo sem paciência, chego a conclusão de que estas pessoas viciam em auto rotular-se o tempo todo, pra esconder o casco quebrado que são. E quando saio na rua, me dou conta que vivemos em um Gibi da Marvel, repleto de super heróis bonitos e transbordando super poderes, que vestidos com suas capas e mascaras são o suprasumo da evolução humana. Intocáveis e invencíveis, mas que quando chegam em casa, no escuro de sua solidão, são só carne embalada a vácuo disfarçando milhares de qualidades em um rotulo minuciosamente criado pra seduzir o consumidor alvo.

O que esses caras querem, não é revolução coisa nenhuma. O que esses caras querem é sentar na cadeira mais alta, no trono do Rei. Revolução não é isso, não é vestir uma camiseta ou empunhar uma bandeira. Revolução é ter um objetivo e brigar por ele com coerência, de sangue no olho e faca na bota. Revolução é ser David chamando Golias pra briga, sem medo do cair, sem a segurança de vencer. Sobretudo, com toda paixão que os punhos e dentes serrado consigam gritar.

Esses caras "selados, rotulados e carimbados", como diria Raulzito. A revolução deles só vai acontecer de verdade, no dia em que conseguirem olhar primeiro pro mundo alem de suas cabeças pequenas e autoritárias. Quando sacarem de verdade que o livro não se julga pela capa, nem pela fonética forte do nome gringo do autor. Quando sacarem que camisetas são só camisetas, e que ideologia não se compra em lugar nenhum, tão pouco se rifa sem qualquer critério. Então, nesse dia, teremos verdadeiramente uma baita revolução.! Sem esquecer nunca que toda revolução, seja ela por qual motivo for, sempre começa com a mudança do próprio revolucionário. E ai, alguém se habilita.???

Um comentário:

  1. me sinto um pouco parte deste texto. como vc mesmo disse irmão, eu vivi uma 'revolução' e você (como se estivesse ligado ao acontecimento), maravilhosamente a descreveu!!

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