sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Construindo e Derrubando Muros

A grande muralha da China foi construída bem antes da invenção de Cristo, a principio para conter as invasões mongóis, Mais que uma fortaleza que nunca caiu, continua como grande símbolo de imponência e poder de uma China cada vez mais imponente e poderosa. Em Israel, dos restos de um palácio de Herodes, do que dizem ser o local do ultimo pedaço do templo de Salomão, os judeus rezam diante de um grande muro. Para eles o sagrado Muro das Lamentações. Em novembro de 1979 o Pink Floyd lançava seu 10º álbum, The Wall, uma opera rock que contava metaforicamente das barreiras pessoais de um astro do rock em colapso. Dez anos depois, em novembro de 1989, ocorreu a queda do muro de Berlin. O muro que durante tantos anos dividiu o lado oriental e ocidental da mesma Alemanha. O povo foi às ruas comemorar o momento histórico. O simbolismo da queda do muro, vai alem da barreira física que separava famílias e amigos, enfim, que separava iguais. A queda do muro representava um vida nova, o fim da guerra fria, o fim de um confuso período de pós guerra, de conflitos econômicos e sociais, um fim que explanava um novo começo. Um possível grande passo pra uma humanidade mais humana.

Isso talvez prove o que parece ser a natureza humana em construir muros... Bloqueios; Barreiras; Casulos.

Lá fora, constroem-se muros a fim de proteger a propriedade privada. Muros e cercas cada vez mais altas, cercas afiadas ou eletrificadas, a fim de afastar o conturbador fantasma do desconhecido. Do perigo eminente do agressor imaginário, do potencial usurpador que ira agir contra nossa vontade.

Aqui dentro, construímos muros também. Afastando lembranças do passado, que ferem a ferro nosso bem estar presente. Trancamos todas as portas, algumas pra evitar o que fica lá dentro, outras tantas afim de não deixar que entre o que esta fora. Criamos muros que ao mesmo tempo, alimentam e acalmam o monstro de nossa insegurança.

Lá fora, criamos apegos materiais à custa da idéia de que ter é tão importante quanto ser. Ofende-nos profundamente a idéia de que o alheio se aposse de tudo aquilo que a duras penas conquistamos. Fechamos então as portas e janelas, trancamo-nos então em jaulas aquecidas e acarpetadas que por ironia chamamos de lar.

Aqui dentro, construímos cuidadosamente pedra a pedra, tijolo a tijolo nosso solido e intrasponivel muro. E assim em segurança, do lado de dentro inventamos nosso universo particular, nossos santos e nossas divindades. Tudo que nos livre do terrível monstro que mora do lado escuro, no outro lado da nossa fortaleza. E do lado de dentro, reinventamos um útero artificial onde seremos eternamente protegidos.

Pouco a pouco envoltos em muros, os de dentro e os de fora, perdemos a sensibilidade para a REALIDADE que nos cerca. Cegamos ao que pode ou não nos afetar de verdade e perdemos a capacidade de discernir qual lado da navalha é perigoso. E assim sem que ninguém note, ficamos cada ver mais seguros, cegos e sozinhos.

Mas tão humano quanto construir muros é a necessidade de escapar do cruel monstro de olhos verdes e garras afiadas chamado solidão. E em meio a álcool, distração barata e anti depressivos, eventualmente abrimos o pesado portão dos muros da nossa fortaleza pessoal. Se navegar é preciso, correr riscos é fundamental, e assim, vestimos nossa roupa mais bonita para receber o incógnito visitante que adentra laureado a fortaleza em que fundamos nosso reino de sentimentos e emoções. E pela inocente falta de experiência em recepcionar hospedes, cometemos o compreensível erro de não reconhecer se o visitante é hostil ou não.

Escrevi essa crônica, meio milonga, imaginando o que seria se a China tivesse sucumbido aos mongóis, se em Israel, o muro de lá cansasse de tanto lamento e resolvesse se desfazer em poeira..??? Ou se o muro de Berlin ainda tivesse de pé..??? Se a guerra fria continuasse fria ou se esquentasse, ou se Roger Waters nunca tivesse tido tempo de escrever com esmero o The Wall.??? Mas principalmente imaginando esse risco calculado de "abrir os portões da fortaleza" pra este ou aquele curioso visitante. Se vale a pena ficar babando de medo e rancor evitado que qualquer criatura se aproximasse do trono real do ilusório reino que inventamos.

Com certeza mais uma divagação dessas pro hall de perguntas sem resposta, alias, quantas perguntas sem respostas cabem na muralha da China...??? E no lado B do The Wall..??? Não sei responder essa, mas a cada dia coloco uma pedra nova, um tijolo a mais no meu muro de certeza sobre a necessidade humana de criar muros, mas absolutamente, a necessidade de derrubar todo e qualquer muro que seja possível. E os que não forem possíveis por a chão, ao menos tentaremos pular.!

Nenhum comentário:

Postar um comentário