segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Onde termina a armadura e começa o homem...

Ignorando certos preconceitos, sobre a capacidade/necessidade masculina de exteriorizar os sentimentos, admito que às vezes sinto vontade de abraçar o mundo. De consolar cada criatura angustiada. Sinto que pra toda falta de esperança, posso ter uma perspectiva otimista, um ponto de vista que influencie e motive. Isso também tem relação com esse espírito revolucionário que tanto falo. Talvez seja um ultimo resquício de humanidade fundamental. Não de humanidade do ponto de vista genético, mas puramente do ponto de vista social. A sociedade de hoje já não é tão humana quanto pensa, talvez porque ser humano demais nos coloque em uma inevitável condição de fragilidade.

Eu não tenho a força que muitos pensam que tenho, nem a confiança. Não sou infalível como esperam que eu seja, nem mesmo sábio como eu gostaria. Eu tenho tantos defeitos quanto gostaria de ter qualidades, mas sou um pouco cético quanto às qualidades que devo ter. E mesmo que às vezes queira abraçar o mundo como se tivesse plena capacidade pra isso, na maioria das vezes, só quero ser abraçado. Ainda que a imagem de um revolucionário não combine com a frágil criatura que se esconde atrás do casulo. O casulo perdura a tantos e tantos anos que já não se sabe o que é carne e pele e o que é exoesqueleto, onde termina o homem e começa a armadura.

Muitas vezes sinto-me instigado pela verdade, a necessidade de ser sincero. Não o tempo todo, mas o maior tempo possível. Ainda que a sinceridade seja uma navalha afiada nas mãos de um barbeiro cego, capaz de cortar qualquer um sem qualquer discriminação. Há que ser criterioso então.??? Talvez; E talvez eu faça isso com algum critério misterioso. Sou sincero na medida em que posso. Auto declarar-me autentico ou sincero provoca sempre opiniões distintas, há quem se entusiasme numa patética alienação pelo politicamente correto, há quem duvide da capacidade de ser sincero, e há ainda quem, de uma forma velada, partilhe da mesma necessidade. Ainda assim, auto rotular-me como um cara honesto, sempre me coloque mais a prova do que qualquer outra coisa.

Eu arriscaria generalizar e dizer que a sinceridade agrada todo mundo. Ao menos na teoria... O problema é que quando a sinceridade nos pega de surpresa com alguma dessas verdades espinhosas, dessas que não são exatamente melodiosas como gostaríamos de ouvir, ela deixa de ser a bela e desejada sinceridade e passa ser a ardilosa critica, o pesado julgamento. A verdade é uma pedra pesada quando cai direto na nossa cabeça, a verdade é uma droga perigosa com que lutamos, sempre no limiar da dose letal. Por isso então algumas verdades sejam melhores quando omitidas, ou manipuladas. A verdade é a lança capaz de perfurar a mais solida armadura e ainda assim, pode ter a sutileza de deixar intacta a fragilidade do homem dentro do casulo de aço.

A verdade é o contraponto da armadura. Ser sincero é quase como indicar ao inimigo, quais os teus pontos fracos. E não é seguro, em situação alguma, deixar explícitos os teus pontos fracos.

Mas às vezes é preciso ignorar certos preconceitos, como essa capacidade/necessidade masculina de exteriorizar os sentimentos. Seja otimista suficiente para abraçar o mundo, ou pessimista ao ponto de admitir que a armadura não é infalível. É preciso acima de tudo, ser humano. Humano de verdade, alem da genética Homo sapiens. Humano a ponto de receber as criticas sinceras sempre que couber espaço pra um elogio. Honesto a ponto de saber a hora certa de mensurar o tamanho da verdade, ou o tamanho do estrago que ela pode provocar. Ser humano e perceber que naturalmente, não somos de escama, casco, casulo ou exoesqueleto. Que qualquer defesa que criamos, é fundamentalmente criada pra proteger-nos dos fantasmas que nós mesmos criamos.

Não sei exatamente onde termina a armadura e começa o homem. Luto diariamente para aprender sobre tudo isso. Mas não me nego a aprender. Se não sirvo hoje de bom exemplo, ao menos de mau exemplo devo servir. E não deixa de ser gratificante, já que pelo que dizem, errar é humano...

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  2. O melhor. Vou deixar o elogio por aí, antes que saia algum palavrão de exortação... Não sei qual o pior, a verdade ou o "sincero" que a deixou escapar. Medir a sinceridade com fita métrica pra saber se tá de bom tamanho ou não é meio foda, mas seria o prudente a se fazer, já diria o atingido. Quase sempre, a sinceridade excessiva vem da empolgação e do pouco pensar. Fala-se o q se pensa, sem pensar nas consequencias. Muitas vezes, atingimos o bravo cavaleiro em sua armadura, e, pela falta de "medição", certas sinceridades atingem algum ponto no cavaleiro desprevenido q não queríamos atingir. Mas daí já era. Carne é carne, se rompe, rasga, machuca, sangra, e o sangue não volta pras veias, assim como não volta pra boca do sincero, a arma do crime, mesmo q ele queira.

    ResponderExcluir