quarta-feira, 27 de julho de 2011

Que Dia é Hoje..??? Tanto Faz.

Não comemorei o dia do Rock e não foi porque não gosto de Rock, mas há em mim algum pessimismo que me faz descrente em relação a datas comemorativas. Pra ser direto, não gosto de datas comemorativas. Talvez exista uma explicação pra tudo isso nos distantes dias de minha infância. Nascer no dia das crianças talvez possa parecer divertido pra algumas pessoas, pra uma criança é um tanto quanto frustrante. Apesar de fazer piada com isso hoje em dia, demorei a entender o motivo de todas as crianças da rua ganharem presentes no dia do meu aniversário, mas eu não ganhar presente no dia do aniversário delas. Hoje em dia acho bacana não precisar trabalhar no dia do meu aniversário, mas quando era criança, queria estar na escola pra receber o cumprimentos de todo mundo. Achava legal quando a professora pedia que ficássemos em pé pra cantar os parabéns pra algum colega. Mas eu nunca fui o alvo desse coro de parabéns. No dia 13 ou no dia 11, ninguém lembrava.

Dia dos pais sempre foi um pouco estranho pra mim. Não só o dia exatamente, mas as prévias dessa data também. Na escola era uma época em que rolavam sempre apresentações dos alunos para os pais, até mesmo nas aulas de Educação Artística, éramos obrigados a fazer algum artesanato para presentear nossos progenitores. Mas duas coisas me deixavam absolutamente irritado com isso. A primeira, a minha total falta de habilidade com artesanatos. A segunda e talvez crucial, eu não tinha o que fazer com o tal artesanato de dia dos pais. Não morava com meu pai e não tinha nenhum contato com ele. Diziam pra entregar pra minha mãe e era o que eu fazia, mas, geralmente o objeto artesanalmente produzido nada serviria pra uma mãe. Alem do mais, ela já tinha recebido o artesanato dela de dia das mães. Por isso dia dos pais, o famoso segundo domingo de agosto, pra mim não representava nada alem de um domingo muito chato pra ver TV.

Talvez a escola represente 90% da vida social de qualquer criança. E por isso é nela que se formam muitos dos conceitos de certo e errado, muitas manias e hábitos e de certo muitos traumas. O 7 de Setembro não é um trauma pra mim, de forma alguma, mas também não representa nada muito agradável. Hoje em dia me alegra o fato de ser feriado e por tal tenho o dia livre. Quando criança era feriado, mas o dia livre começava normalmente cedo, já que era obrigação de todos os alunos de ir até a Avenida 7 de Setembro pra assistir o desfile de, 7 de Setembro. Não tenho más lembranças dessa época, gostava de ver o desfile. Gostava também do chapeuzinho verde que as professoras ensinavam a gente fazer, numa alusão ao "marcha soldado cabeça de papel".

E assim seguia o calendário com varias outras datas de menor importância, e digo isso, menor importância unicamente pelo tom de feriado nacional ou não feriado nacional. Dia do índio todo mundo se vestia de índio, dia da arvore todo mundo ganhava uma arvore pra plantar. Dia dos namorados não era significante naquela época. Mas em resumo, as datas comemorativas eram muito ligadas a vida escolar, talvez numa tentativa de fazer valer o real motivo da data e incrustar isso no caráter da molecada. Coisas como, o dia do índio serve pra lembrar dos índios que morreram durante a colonização, no dia da arvore, lembramos a importância das arvores, essas coisas que hoje parecem bobagem mas que são conceitos importantes a serem passados as crianças.

Algumas datas tinham um apelo mais intenso, eram essas as de cunho religioso. A páscoa da escola era a do coelhinho e dos ovos de chocolate. A páscoa de casa era a de ir na missa e de entrar num processo meio louco de jejum e não jejum. O que mais me atormentava na páscoa era a encenação da paixão de cristo que faziam pela rua. Nunca fui seguindo aquelas pessoas e quando o "cortejo" passava pela minha casa eu me escondia. Era um clima tenso que me deixava com muito medo. Não sei explicar o que rolava na época, hoje vejo como uma grande bobagem celebrar a crueldade, repetindo a crueldade. Seja ela verdadeira ou não.

Mas todo ano terminam sempre com um gran finale, dois feriados em duas semanas, Natal e Ano Novo. Pra mim sempre foram um pé no saco. Ok, eu curtia ganhar presentes de natal, mas as circunstancias pra isso eram sempre muito complicadas. Sempre morei com minha mãe e meus avos e como todo mundo sabe, casa de avos é o centro do universo familiar no Natal/Ano Novo. Isso quer dizer que minha casa era o centro de convenções escolhido pra reunião de uma imensa família composta de tios, tias e primos. Tudo começava errado pra mim, já que minha cama era a primeira a ser destituída pra algum visitante. Visita dorme na cama, eu no chão. E não quero parecer egoísta com tudo isso, mas, crianças têm um tom muito pessoal com seus brinquedos, porque sabem da dificuldade de consegui-los. E os brinquedos deixavam de ser os meus, passavam a ser brinquedos da casa da vó, ou seja, pertenciam a todo mundo. Sim, sou um comunista e não ligo pra isso hoje em dia, mas na época eu me irritava profundamente em ver meus primos destruindo os meus brinquedos sem o menor pudor. Na realidade o Natal e o Ano Novo eram pra mim um momento de destituição de todos os meus direitos habituais. Coisas simples como comer sentado a mesa, passavam a ser privilegio de adulto. Criança come em qualquer lugar. Usar o banheiro também, sempre a prioridade é das visitas. Quando tudo terminava e as visitas partiam para seus lares, restava sempre uma imensa bagunça e um tom melancólico no ar.

Quando disse que não comemorei o dia do Rock, talvez alguém tenha pensado que tipo de reacionário eu sou. Mas nessa luta pessoal pelo desapego a tudo que é inútil, tudo que só serve pra nos rotular socialmente ou nos prender a hábitos de mercado. Não comemoro dia de nada e faço questão de evitar trocas de presentes com data marcada. Presente legal é aquele que chega desinteressado e de surpresa. Mais que isso, os melhores normalmente não vem em caixas embrulhadas com papel de presente.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Síndrome de Peter Pan.

Não tenho medo de envelhecer, mesmo que isso inevitavelmente remeta a morte. Sempre imaginei que só tem medo de morrer, quem não teve coragem de viver. Mas concordo que envelhecer é para poucos. Procuro entender isso já há algum tempo, até tentando me convencer que este caminho natural e inevitável possa trazer algo de positivo. Crescer foi inevitável ainda que um processo doloroso. Os cada vez mais insistentes pelos brancos na minha barba, dizem que envelhecer também será um processo lento e cruel. Como ver a vida cozinhando em banho maria. Remar contra a correnteza da vida pode ser perigoso e frustrante, pela cruel realidade de ser inútil. Mas de olhos fechados, é possível remar contra a corrente, criando uma fantasia de que é possível driblar o tempo.

A vida é um faz de contas que ás vezes acontece. Fantasiar é fundamental em qualquer situação.

Ainda em meio a um interminável ciclone de novidades, tenho pensado em como seria voltar. Como seria começar denovo, reinventar uma vida que até bem pouco tempo era tão estranha e áspera. Começar denovo é uma das mentiras que inventamos pra tentar tornar a vida menos dura. A imagem do recomeço, a idéia dessa possibilidade deixa uma margem de esperança pra acreditar que qualquer erro pode ser superado, que nada é definitivo. Mas estas são idéias tão utópicas, como se fossem universos paralelos. E é um pouco desesperador não conseguir ver espaço em dois mundos distintos, tão sedutores e tão cheios de miragens. Pra mim, as distintas faces opostas da mesma moeda. Ser o homem adulto, carregado de virtudes e de futuro otimista. Ou ser o herói de fins de semana, de uma juventude de faz de conta, sem saber até quando isso pode durar.

Há um termo em latim que é "Conjunctio Oppositorum" [União de Opostos], os alquimistas adoravam essa expressão porque define bem uma porção de coisas, químico/físicas/filosóficas, que hoje a ciência dissecou e perdeu a graça. Em resumo, é a idéia de que qualquer coisa é composta de partes absolutamente diferentes, que se completam. Como o dia e a noite, pra formar um dia completo, ou a lua com sua face iluminada e sua face obscura. Talvez o conjunctio oppositorum do ser humano, é ser jovem e velho, bom e mal... Honestamente, não sei, é um assunto do qual preciso de mais horas de divagação.

Mas é profundamente sedutor imaginar que exista um lugar onde é possível ser um pouco Peter Pan, onde aqueles fios brancos em minha barba não representam a idade que corroí. Um lugar onde meu discurso faça tanto sentido e minha musica desafinada seja tão importante. Mesmo que só pra mim. Esse é o meu lar, meu castelo e minha fortaleza. Mas infelizmente é inocente acreditar que esse lugar exista alem da minha fértil imaginação. Alem do desejo puro e sincero de viver a vida a todo vapor, sem que façam diferença os números da minha carteira de identidade.

Dia desses lendo uma revista de nome estranho, descreviam isso como Síndrome de Peter Pan. O medo masculino de envelhecer, a idéia de ser sempre o adolescente invencível. De ser sempre heróico, bravo e forte. Na matéria dessa revista, às criticas a estes tipos de atitudes eram abominadas. Descrita como irresponsável e até doentia. O homem adulto que apresenta constantes lapsos de irresponsabilidade não tem espaço na sociedade moderna, concluíam.

Enfim, descubro que sofro de mais uma patologia. Sou Peter Pan de fim de semana, na distante e mágica, terra do nunca.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Façamos Silencio Pra Ouvir o Ultimo Suspiro...

Meu desejo maior nestes últimos dias, tem sido um pouco de silencio. Curioso pensar que é o mesmo silencio que me fez praguejar durante os últimos meses. Curioso e irônico, como escapar da morte num deserto escaldante pra morrer afogado ao encontrar um oasis. Talvez seja essa coisa que o Gessinger queira dizer com "Qual a droga que salva, qual a dose letal". Nos últimos meses, escrevi inúmeros poemas e crônicas. Algumas cartas também (dessas que nunca são enviadas ao destinatário). Os motivos que me levaram a escrever sempre foram extremos. Na maioria das vezes pra expressar a represa que se forma quando varias perguntas ficam sem resposta. Hora escrevi com amor, hora com medo, com saudades e com esperança. Não escrevia pensando em mudar o mundo, mas confesso o desejo de mudar o que sinto. Talvez mudar o que sentem algumas pessoas.

Tantas vezes escrevi em tom revolucionário, às vezes até sem acreditar no que escrevia. Na ânsia de contar histórias e vivencias; Milhares e milhares de devaneios de quem nunca fugiu do perigoso ato de pensar. Invoquei Marx (nunca Engels), quando queria entoar com dedo em riste, os discursos calados que me proibiram de fazer. Discursos raivosos de quem têm tanto a dizer, mas já não tem paciência pra "desenhar" suas teorias. Encarnei Che Guevara diante de uma platéia imperialista e capitalista, disfarçando ter forças sobre humanas pra sobreviver ao paredão de fuzilamento, dos olhares acusadores e das línguas afiadas. Sobrevivi, é o que parece, mas já não posso afirmar com total certeza.

Um dia me disseram que uma folha de papel rasgada, sempre será uma folha de papel rasgada. Mesmo que colada, ela nunca volta a ser papel intacto. É uma forma diferente de dizer aquilo que já disse aqui, sobre um homem nunca entrar duas vezes no mesmo rio. Hora muda o homem, hora muda o rio.

Durante os últimos meses, vivi situações novas e inusitadas até. Trilhos de uma estrada que em tantos anos ainda não tinha percorrido. Polaróides especiais de uma vida que, em tantos anos, eu ainda não havia vivido. Conheci pessoas e lugares. Sabores e sensações. O cheiro de novidade, definitivamente, foi uma constante nos últimos meses. Mas o cheiro de mofo, do velho e áspero silencio, das perguntas sem resposta, nunca se foi. Sempre escondido pelos cantos e pairando sorrateiro pelo ar na calada da noite. Não sou tão pessimista quanto pareço, acho até que sou otimista demais em situações extremas. Mas, minha sina sempre será a de acreditar que cedo ou tarde, o passado volta pra te cobrar dividas esquecidas. Não é medo, é força do habito. Eu tenho alguma coragem que me faz seguir desejando os rios de maior correnteza, mesmo sem saber nadar. Eu sei disso, sei que cedo ou tarde vou me foder pelas escolhas que faço, mas deixar de escolher seria deixar de viver.

Então, pra tentar acalmar toda essa angustia por tantas questões, tantas perguntas sem resposta, tantos paradigmas que caem do céu. O melhor seria mesmo um pouco de silencio. Desses de ficar quieto no escuro, mastigando cacos de vidro de um espelho retrovisor da história. Mas o mundo não para pra esperar que a gente resolva sair da cama, ou levantar da lona. Silencio é coisa rara, jóia preciosa que só tem valor, pra quem realmente precisa. O antídoto só salva, depois de ter sido envenenado.

No final de um e-mail que recebi há alguns dias, tinha essa frase:

"A águia voa sozinha, os corvos voam em bando, o tolo tem necessidade de companhia, e o sábio necessidade de solidão"

É bonito... Belas figuras de linguagem essas de águias, corvos, sábios e tolos. Mas é uma puta bobagem. Se em algum momento na vida me senti sábio, certamente não foi sozinho. E apesar de desejar imensamente um pouco de paz, de silencio. Nunca senti tanta necessidade de voltar ao bando. Paradoxal isso. Talvez eu fosse dessa vez, o calado do bando. Esse que busca o quarto mais escuro, pra clarear as idéias.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Inquisição aos Falsos Pudores

Existem coisas que o tempo nos faz deixar pra trás, algumas pela obrigação de crescer, de evoluir. Outras pela cruel circunstancia de não caber mais no casulo de nossas vidas. Assim como um sapato, que aperta os dedos porque ficou pequeno demais, e a gente abandona em algum canto. Com minha memória super sônica, consigo imaginar a vida como uma timeline e nela até reconhecer algumas coisas que deixei pelo caminho.

Um desses pacotes perdidos, com certeza é o apego a certos pudores. Não me privo em falar e discutir abertamente sobre temas que a maioria das pessoas esconde, seja por respeito excessivo, ou por medo. Não driblo, nem fecho os olhos pra libertinagem que vaga solta por toda cabeça humana em perfeito estado de funcionamento. Honestamente acho que alguns pensamentos/sentimentos, acorrentam o homem a um estagio de neandertalismo, impedindo que se liberte definitivamente rumo a uma evolução de verdade.

Procuram vida inteligente em outros planetas, sem se dar conta de que não conhecem a vida inteligente desse nosso planetinha Terra - Curiosamente pintado de Azul água. Seres humanos em sociedade, não são como uma matilha de lobos seguindo o macho Alpha. Ao menos, não deveriam ser. Mas o homem, criatura complexa, é animal instintivo em algumas situações, e forçadamente racional em outras. O desejo humano é nato e instintivo. Os pudores, são culturais, são forçados. O que difere um homem de uma tribo isolada da África, de um homem tido como civilizado, é única e exclusivamente a influencia cultural que a sociedade impõe. Os pudores são desses fatores que influenciam. Um homem civilizado não anda pelado pela rua, mesmo que sinta necessidade ou prazer com isso. Porque culturalmente isso é errado. O homem da tribo isolada anda nu quando quer, e se não quiser, se protege de acordo com a necessidade.

Mas não são só estes pudores de que falo. São pudores que em minha analítica opinião, ancoram o ser humano na correnteza da historia. Não é sobre a moda pelado/vestido que falo. São pudores sociais e ideológicos. Por exemplo, render-se de olhos fechados às regras que a sociedade empurra goela abaixo, pela simples razão de não querer destoar do "grupo", é um pudor social. O pudor de não se rebelar. E de braços dados a esse pudor vem a hipocrisia e a demagogia.

As pessoas fazem sexo, imaginam e sonham com sexo. Nascem por causa de uma trepada, da qual se recusam a considerar. Tem desejos e taras, algumas mais extravagantes que outras. A vida como conhecemos, em sua maioria, depende do sexo pra ter continuidade. Mas em algum momento histórico alguém inventou a religião e com ela o céu e o inferno. Com o céu e o inferno vieram as definições de certo e errado. E assim criou-se a primitiva imagem do PECADO. E ai vem a grande e histórica demagogia da humanidade. O sexo virou pecado, mesmo que a vida dependa dele. O pudor sobre o sexo veio justamente com essa limitação social de ditar que o errado, que o pecado te leva para o inferno. Então se evita falar sobre um assunto tão complicado, um assunto inevitável, que não sai das nossas cabeças, mas que nos leva a uma eternidade de sofrimento.

Eu poderia ficar por muito tempo falando disso, dos vários pudores que amarram a sociedade. De como eles são mesquinhos e medíocres, mas principalmente, frutos de uma sociedade doente e que carrega pelos séculos essas idéias ornadas de ignorância. Machismo e feminismo, dizem que há assuntos que podem ser tratados livremente pelos homens, mas que tornam-se absurdos nas bocas femininas. O moleque não veste rosa, porque alguém inventou que é cor de menina, cor de menino é azul. O cara não fala que o amigo cheira coca, porque tem alguma vergonha disso, mas esquece que Freud indicava cocaína aos pacientes, e que era remédio legal no inicio do século passado. Bobagens gigantescas. Pudores, falsos e mentirosos, que devem ser deixados pra trás, como pacotes desnecessários na timeline da nossa história, das nossas vidas. Carregando esses pudores, seremos pra sempre barcos ancorados na calmaria de lugar nenhum.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Paradigmas da Sociedade Moderna, Salve-se Quem Puder!

A revolução francesa mudou o mundo, isso a gente aprende na escola. Quem frequentou esse lugar santo por algum motivo, alem da merenda ou do papo furado com os colegas, sabe do que se trata. Foi o fim de um período obscuro, a queda da monarquia e o enfraquecimento do clero. O inicio de novos tempos. A frase de Jean-Jacques Rousseau, "Liberté, Egalité, Fraternité" (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) ecoava entre o povo oprimido, que ansiava pelo fim da servidão, do corpo e da mente. Ninguém usa camisetas do Jean-Jacques Rousseau, mas usam camisetas do Renato Russo, que só é russo, por causa do Rousseau.

Eu tenho uma camiseta do Che Guevara, mas muita gente tem camisetas do Che Guevara. O que pouca gente sabe, é que em 1959, as tropas guerrilheiras de Fidel Castro, Ernesto e Camilo Cienfuegos, conseguiram por fim derrubar o governo omisso e corrupto de Fulgencio Batista. Instituíram uma ditadura militar, sim, sobre outra ditadura militar. A ditadura de Fulgencio beneficiava os ricos e prostituia Cuba aos prazeres estadosunidenses. A ditadura de Fidel matou a fome do povo, educou e cuidou dos doentes. Che era médico, argentino, morreu na Bolivia lutando pela liberdade de um povo que não era o seu. Ao inferno com essa de patriotismo, opressão, fome e violência não têm pátria, assim como o direito a liberdade. Che tem uma legião de seguidores, com camisetas e frases feitas, mas os seus idéias ficam na maioria das vezes, em alguma gaveta empoeirada.

Não quero falar de história, por isso a superficialidade na narrativa dos fatos. A intenção é somente usar o exemplo.

Usar uma camiseta do Che pode ser tão mentiroso quanto usar uma camiseta do Pink Floyd, sem saber quem foi Syd Barrett. Assim como pode ser mentiroso cantar Sociedade Alternativa, a todo pulmão, logo depois de usar um falso poder a fim de oprimir uma minoria. Fico meio de saco cheio, quando ouço pessoas que se apóiam em discursos de idéias que não seguem. Repetindo como papagaios teorias e divagações pré fabricadas, que na grande maioria das vezes, sequer fazem idéia do que realmente se trata. Fico angustiado como as pessoas se prendem a rótulos. Seja rotulando as pessoas que estão a sua volta, seja se auto rotulando. Ultimamente tenho visto uma insistência em repetir a pratica do desapego, que é tão mentirosa que me faz perder um pouco da esperança na capacidade de auto critica, e de bom senso de algumas pessoas.

A revolução industrial mecanizou a manufatura. Mas em que ponto da história o ser humano foi mecanizado? Será que é esperar demais das pessoas, bom senso e sensibilidade para raciocinar??? Não deveria ser. Mas talvez seja preciosismo da minha parte.

Mas minha irritação não tem fim. Todo dia vejo isso: A moda, a sociedade, os padrões, as opiniões mesquinhas rotulando as pessoas. Um cara usa um Kilt, sem saber qual é a diferença de um escocês, de um bretão e de um irlandês. Não faz a menor idéia da importância tribal de um tartan, mas usa orgulhoso o seu kilt. Com o único objetivo de chamar a atenção. Uma guria com a maior pinta de riponga fica tirando onda numa vida anos 60. Tudo muito bom, tudo muito bem, não fosse a total incapacidade que ela tem de viver em sociedade pacificamente. Não tem problema, o que vale é a imagem que tá sendo vendida. Lennon cantava Imagine, pregava uma vida pacifica e simples. Longe dos holofotes, gastava mais de 5 mil dólares por dia com heroína, e batia na mulher.

Tanto faz, o importante é manter uma imagem. Seja popular, dizem os enlatados americanos. Seja Nerd, dizem os seriados da TV. Um saco... Lá do outro lado um cara recita sempre o mesmo trecho de um livro do Dostoievski, e nem é porque ele gosta de Dostoievski, mas ele acha que faz uma moral do caralho recitando o único trecho, do único livro que ele leu. Pra garantir em sua testa o carimbo "Cult", fala de Descartes como se fossem íntimos de uma vida toda. Colecionando frases feitas e de impacto. Assim como eu colecionava latinhas de cerveja quando criança; Vazias, sem conteúdo. Bebidas por alguém que, não era eu.

Enfim, to cansado desse papo furado. Vou me fechar um pouco nesse mundo bonito que criei na minha cabeça. Garantirei minha segurança, cerca elétrica e cachorro bravo. Fuck Off pra essa gente escrota, à la puta madre de mierda pra estes rotulados mesquinos e mediocres.
E só pra quebrar minhas proprias teorias sobre frases feitas;

"Let it Be" diria Paul, o bom moço. Que tem o triste defeito de achar que é o ultimo Beatle vivo. "Fé cega e pé atrás", diria Gessinger, que tem o triste defeito de achar que é o ultimo engenheiro hawaiiano vivo.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

E Agora Darwin..???

Eu nasci no século passado, e mais que isso, cheguei a maioridade no século passado. Sei de coisas que só sabe quem nasceu na mesma época que eu. Eu vi um pogobol pessoalmente. Não que isso seja uma grande vantagem, mas, só viu um quem assim como eu, nasceu no século passado. Eu via ursinhos gummy na TV e pedia comandos em ação de aniversário. Não é grande coisa, mas, eu estava lá. Não quero de forma alguma parecer arrogante contando de coisas que nem tenho como provar, afinal de contas, muita gente pode se perguntar que diabos é um pogobol.

Ainda que hoje eu conte com certo orgulho das coisas do meu tempo, as coisas das quais eu mais me orgulho, definitivamente vieram muito antes de mim. Guitarras elétricas e bumbo duplo são como coração batendo e o sangue percorrendo cada milímetro do corpo. Rock n Roll não é do meu tempo, quando nasci a onda era a discoteca. Madonna e Michael Jackson eram os reis do pop. Eu que sempre fui torto, escolhi uma fita do Elvis. Tutty frutty era muito mais interessante que Thriller. Quando eu nasci, os heróis do Cazuza já tinham morrido de overdose há tempos. Acabei encarnando com o único que ainda era vivo, Raulzito. E com um violãozinho sem cordas, eu ensaiava um "mamãe não quero ser prefeito", que fazia mais sentido que um dançante "no se reprima". Azar o meu, que lembro da noticia da morte do Raul, no longínquo ano de 89. Mas eu não sacava das coisas, e no ano seguinte tinha copa do mundo, e não que o futebol fosse uma paixão, mas, as figurinhas da copa do mundo que vinham no chicletes ping pong, eram.

Pensando bem, que sorte não ter nascido em tempos de funk carioca e sertanejo universitário. Que afinal de contas, é universitário por que.? Se o sertanejo é universitário, o meu velho e demente rock n roll é PHD, é doutor, mestre Jedi.

Mas voltando ao centro da questão, que é a evolução das espécies. E dos distantes anos 80 da minha tenra infância, vou mencionar situações que destoam da infância de louça das crianças desse século.

Antes de completar 10 anos, eu já tinha acumulado mais de 10 tombos de bicicleta. Afinal, aprender a andar de bicicleta era uma grande aventura, ainda não tinha essa onda de rodinhas. A pratica era simples, ou anda ou cai. Eu caia, muito. Nunca quebrei nada, e só passei uma noite no hospital. Antes de completar 10 anos, eu já tinha um canivete, e ele era fundamental pra abrir bombinhas e tirar a pólvora. Eu pisei em pregos pelo menos umas 5 vezes, talvez mais. Martelo, serrote e pregos eram muito úteis, não eram brinquedo, mas faziam brinquedos. Nenhum adulto ajudava a fazer casas nas arvores, a gente se virava. E se a casa caísse, a culpa era absolutamente nossa. Fazer uma fogueira era tão corriqueiro que nem tinha graça. Jogar bola descalço num campinho de terra ou jogar bets no meio da rua era programa certo nos dias de verão. Caçar e pescar não soava como coisa de índio, soava como coisa de um baita fim de semana. Era assim na minha infância, e era assim a infância de quase todo mundo que nasceu no século passado. E acreditem, estamos vivos.

Antes que eu perca de vez o rumo dessa conversa, vou explicar o que isso tem a ver com Darwin e a evolução das espécies.

A Teoria da evolução das espécies de Darwin diz que na natureza, só sobrevive o mais forte. A grosso modo, quer dizer que a espécie menos preparada para as dificuldades do mundo, não perpetua. Os seres humanos se diferenciam dos outros animais, por um polegar e uma serie de conjunções neurais, que dizem, nos torna mais inteligentes. Deve ser verdade, já que ainda não fomos extintos. Mas as novas gerações caminham inevitavelmente para um caminho obscuro e perigoso. Tudo porque no meio do caminho, alguém inventou uma história de que as crianças precisam de super proteção. E a partir disso, os brinquedos passaram a ser super seguros, as brincadeiras precisam ser mais seguras ainda. As crianças causam menos problemas aos pais jogando futebol no vídeo game, do que num campinho de terra em algum lugar qualquer. No campinho, elas podem se machucar, me diria alguma mãe amarga. Pescar e caçar são ecologicamente incorretos. E acabou a festa.

As crianças de hoje crescem num mundo cada vez mais perigoso, e por isso crescem numa redoma de vidro que as impede de aprender a conviver com estes perigos. As crianças são frágeis, física e emocionalmente. Tem dificuldade de relacionamento e de comunicação. Não sabem superar adversidades com naturalidade, a super proteção impede que criem casca, e por isso, crescem sem nunca sair desse casulo invisível criado por estes pais medíocres que não imaginam que um dia, essas crianças serão os adultos que tomarão as rédeas do mundo. Ou seja, o mundo em que vivemos, estará sob o comando de um bando de bananas de pijamas. Crianças grandes, de fina porcelana. Capazes de ter idéias geniais, mas frágeis como casca de ovo.

E isso quer dizer que, alguém quer mesmo derrubar Darwin e sua teoria, ou estamos no inevitável caminho da extinção.