sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Nem Tudo É o Que Parece

Numa dessas madrugadas de insônia, tava sentado na sacada bebendo uma cerveja, tranqüila madrugada eu diria. Do lado de fora um frio de rachar, do lado de dentro o aquecedor garantia algum conforto. O vidro embaçado fazia a cidade parecer uma infinita fornalha. A luz laranja dos postes somada à distorção do vapor no vidro criava esse efeito de "cidade em Chamas". Aos meus ébrios olhos, naquele instante a cidade ardia. Aos meus olhos, somente. Mas nem tudo é o que parece, a vida é cheia dessas miragens e pode ser perigoso acreditar em tudo logo na primeira olhada, às vezes é preciso dar uma segunda olhada, uma terceira e até uma quarta. Os olhos enganam nossa expectativa, e essa armadilha pode ser perigosa.

Meu calcanhar de Aquiles talvez seja essa miopia na hora de olhar as pessoas. Pra mim, na primeira olhada todo mundo tem um potencial incrível. E por isso muitas vezes me engano, muitas vezes mesmo. Mas há algo de emocionante em correr esse risco. Saltar de para quedas ou se aventurar em novos relacionamentos pode ser arriscado, pode ser fatal até. Mas fora isso, há sempre o risco de sobreviver e gozar de tudo que há de positivo. A vida é uma arvore alta e cheia de espinhos, mas tem muitos frutos, tem muito a oferecer. E são justamente nas pessoas que estão os melhores frutos. E acho que todo mundo sabe o quão saborosa é uma amizade.

O lado negativo disso tudo, é a falta de clareza com que as pessoas vêem este tipo de atitude. Talvez pelo velho e maldito pudor, de acreditar que todo mundo se aproxima com algum interesse. Como as gurias que pensam que todo cara se aproxima com algum interesse sexual. Limitando as relações entre homem e mulher, a uma figura tosca de carne crua e fera faminta. Assim como aqueles caras que tem muita grana e entram numa paranóia de que todos se mantem a sua volta, por algum interesse financeiro. Na realidade tudo isso só materializa esse muro imaginário, que criamos desde a infância, com a finalidade de nos proteger do mundo. Fato é que, do lado de dentro do muro a diversão é limitada. E do lado de fora, o mundo não para um milésimo de segundo sequer, nem pra gente recuperar o fôlego. Saber encontrar o ponto de equilíbrio, parece ser o verdadeiro segredo do universo. A tênue linha que separa o Yin do Yang.

Essa ânsia por conhecer mais pessoas, e de querer conhecer cada vez mais das pessoas que já conheço, leva a algumas conclusões interessantes. Infelizmente algumas vezes um pouco decepcionantes. Como por exemplo a intenção que algumas pessoas têm em parecer o que de fato não são. Alguns chamam isso de falsidade, não acredito que seja exatamente isso em todos os casos. Algumas pessoas são assim porque precisam ser aceitas, porque não tem auto estima ou confiança suficiente para levar adiante o caráter, ou a personalidade que realmente lhes cabe. Assim como as luzes laranjadas, que através do vidro embaçado da janela criam essa ilusão de que a cidade queima numa grande fogueira. Algumas pessoas precisam parecer fogueira, pela dificuldade que tem de aceitar que são na verdade, icebergs. O dínamo dessas questões todas, são as expectativas que criamos. E é inevitável criar expectativas, apesar de ser um pouco infantil acreditar cegamente nelas.

Em uma outra madrugada, pela mesma janela da mesma sacada, via-se uma imensa nuvem de neblina que cobria tudo que ia alem de alguns metros dos olhos. Não era possível ver absolutamente nada alem daquela imensa massa de algodão cinzento. Colando a testa no vidro, a impressão que eu tinha era que o prédio todo estava envolto naquela massa disforme. Era um pouco assustador imaginar que nada poderia escapar dali, ao mesmo tempo em que era tentador imaginar a queda livre. E na confiança da peça que os olhos pregavam, a queda seria calmamente amparada pelo universo macio que o nevoeiro oferecia. Esse é um eterno risco a correr, saber quando a cidade realmente queima, ou quando o nevoeiro é solido suficiente pra amparar qualquer queda. Saber quando as pessoas são luzes laranjadas imitando fogo ardente, ou quando são nevoeiro, enganando nossos olhos. Talvez o único jeito seja arriscar, ou não...???

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