segunda-feira, 23 de abril de 2012

Memórias Afetivas e Sabores Artificiais

Quer ouvir uma grande ironia.? Maça verde. Maça verde é uma das grandes ironias do mundo. Porque uma bala de maça verde tem gosto de qualquer coisa, menos de uma verdadeira maça verde. Eu gosto do sabor artificial de maça verde e até acho bacana que tenha esse apelido. Mas isso nunca conseguiu me aproximar a lembrança do sabor  expressivo de uma verdadeira maça. Curioso também porque o sabor de maça verde, esse artificial, me lembra muito a Argentina. Lá tudo que tem sabor ou aroma de maça verde, é bom. Inclusive, as próprias maças.

Outra coisa curiosa e menos superficial que sabores e aromas de fruta, são as lembranças que se associam diretamente há um detalhe especifico. Assim como uma música que toca e ressuscita um exercito de sentimentos, ou um poema que sempre carrega o peso de uma pata de elefante sobre o peito, apertando em saudade numa força que não cansa. Deve ser isso que chamam memória afetiva.

Memórias afetivas e sabores artificiais são os motivos que me fizeram escrever essa crônica. Mas é tão fácil confundir isso com sabores afetivos e memórias artificiais...

Acho que na maioria das vezes, essa minha curiosidade de conhecer gente nova, nasce de uma seqüência de memórias afetivas que os hábitos ou as semelhanças me remetem a outras pessoas. Como uma guria que gosta de Engenheiros do Hawaii ou um cara com a camiseta do Che Guevara, sempre vão me trazer lembranças de grandes amigos distantes. Ou até mesmo, da distancia daquilo que já fui há muito tempo.

Um aspirante jogador de basquete, vai me lembrar de toda a minha trajetória frustrada. E ao invés disso ser trazer dolorosas lembranças, me faz ter o entusiasmo de ver nesse moleque a minha realização. Não que isso seja uma regra, senão deixaria de viver minha vida pra ser o positivista da vida dos outros. Mas de todo modo, sou sempre entusiasta de qualquer um que lembre um pouco o que fui quando jovem. E isso acaba trazendo conseqüências extremas, grandes amigos e grandes desafetos.

E mesmo que algumas pessoas sejam como o agradável sabor artificial das maças verdes, não consigo evitar o contato. Frustração é absolutamente aceitável nesses casos, e acho que isso eu tiro de letra. Não que não me surpreenda quando descubro que alguém que eu imaginava ser uma autentica maça verde, tinha só uma embalagem bonita e atrativa. A vida segue, sempre segue. Em algum lugar ficam essas lembranças e isso não significa nem de perto, que outras pessoas, com o mesmo sabor, com o mesmo aroma, serão artificiais ou não. Cada maça guarda uma surpresa, há que prová-las então.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Minha "quase" Revolução Cervejeira

Quase fui geógrafo, por uma frustração com a oceanografia. Na verdade queria oceanografia porque em um dos filmes do Jacques Cousteau, (dos que passavam na sessão da tarde era um dos meus preferidos), alguém dizia que o homem sabe mais sobre o universo, que sabe sobre o fundo do mar. Naquele tempo decidi que queria ser astronauta do fundo do mar. Sonho que terminou num vestibular frustrado, muita nota e pouca atenção. Uma prova sem assinatura invalida o gabarito diziam eles. Enfim, astronauta do fundo do mar era mesmo um exagero de quem ainda tem pânico de água.

Sempre gostei de história, mas não era esse o curso. Tentei jornalismo por birra. E numa metódica tentativa de ironizar a oceanografia, tentei geografia. Mas minha paciência tava longe de ser rocha basáltica ou calcaria. Eu desisti da geografia também. Nessa época era mais importante subir degraus na carreira profissional e pela situação do momento não era possível conciliar trabalho e faculdade. Há quem diga que a culpa foi do bar do Padilha, que ficava ao lado da faculdade. Eu nego, sem muita insistência.

Com o tempo comecei a sacar que não eram mais terra ou mar que me seduziam, não eram unicamente minerais ou conceitos biológicos. Eram sim as pessoas, a convivência e interação (De novo o bar?). Mas nunca tive coragem/paciência pra fazer psicologia e tão pouco fé e talento pra ser um religioso. Minha ciência nada exata sempre foi essa de ficar olhando o mundo, tentando entender os detalhes, filosofando sem compromisso madrugada adentro, quase sempre bebendo.

Por esse gosto de beber e por essa sina de revolucionario sem causa, um dia me vi fazendo cerveja.

Fazer cerveja é mais que um hobby, mais que uma pratica de ambição comercial ou uma satisfação de ego. Fazer cerveja é perpetuar um dos rituais mais antigos da humanidade, que é o de reunir o bando para celebrar e beber. Não é só pelo álcool que ao entrar na corrente sanguínea começa a libertar todos os nossos demônios, a romper as nossas mais intensas correntes. É o prazer de compartilhar desse exorcismo coletivo sem a urgência de que termine logo. É a liberdade extrema de compartilhar, histórias, vivencias, alegrias ou tristezas e principalmente, garrafas.

Seguindo então um ditado que gosto de repetir nos momentos de euforia etílica, "Só o álcool liberta.!" Sendo assim, fazer cerveja é subverter. É criar o túnel de fuga para os prisioneiros do sistema. É ter o poder de compartilhar o elixir que da forças ao oprimido. Ser o xamã pronto pra acalmar todos os demônios humanos.

Fazer cerveja, portanto, é ser um pouco Freud e um pouco Papa. Sem compromisso nenhum com a dialética ou com a 'subverciencia' de mitos. O que prevalece é somente o prazer de beber uma boa cerveja na companhia de quem gostamos. Dinheiro eu ganho como puder... A satisfação pessoal fica acima do bem e do mal.