segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Descobrindo Moacyr Scliar

Uma das minhas maiores decepções quanto a literatura, sempre foi a de não ter um autor brasileiro pra citar entre os meus preferidos. Simples assim, já tinha lido tanta coisa e nada me cativava de fato. Meu ingresso à leitura foi com José de Alencar num livro chamado "Encarnação". Começo complicado que me fez desistir do restante da coleção que ficava na prateleira da casa do meu avô. Depois disso naveguei por outros mares. De Machado de Assis à Paulo Coelho, nada me motivava a continuar com a obra. Me agradava ler os poemas malditos, e o pessimismo obscuro de Augusto dos Anjos e Alvarez de Azevedo, mas não era uma leitura urgente. Devorava Neruda e Saramago como se fosse coisa sagrada, mas Jorge Amado me deixava sonolento. Talvez pela dimensão continental do Brasil, as histórias de uma Bahia contadas por Jorge Amado me pareciam tão estranhas e surreais quanto a Colômbia de Garcia Marquez. Apelei para os regionalismos que sempre dão um tom ameno a leitura, e por isso arrisquei Erico Veríssimo, e apesar de grande admiração pela obra, não passa disso. Mera admiração.

Desconfio de todo mundo que ama autores gringos, e não tem sequer uma paixãozinha tupiniquim. Desconfiava portanto, de mim mesmo. Nunca fui fã de Tolkien ou Camus, de Jung e ou mesmo de Marx. Afinal, literatura é tão visceral. Há de se buscar uma identidade, uma sincronicidade entre leitor e autor. E essa química silenciosa que acontecia naturalmente com alguns autores, simplesmente não acontecia com os caras daqui. Dizem que santo de casa não faz milagres, mas todavia, nunca acreditei em milagres, e um dia isso mudou.

Foi quando descobri Moacyr Scliar...

Tenho todos os discos dos Engenheiros do Hawaii e conheço muito bem cada um deles. Conheço e gosto a ponto de poder criticar cada um dos seus defeitos, assim como quem divaga e critica os próprios defeitos. Com respeito e amor. Curiosamente por conta dessa influencia musical, li muitos bons livros, como "O Estrangeiro" de Albert Camus. Também por causa dessa influencia, resolvi ler Exercito de um Homem Só, do Moacyr Scliar, que da nome a duas belíssimas musicas. (Exercito de um Homem Só 1 e 2).

A leitura de "O exército de um homem só" me surpreendeu pela simplicidade da escrita sem comprometer a profundidade do texto. Ter lido "exercito" foi fundamental pra que me questionasse sobre qual eram as minhas batalhas, e delas quais eu havia de fato vencido ou perdido. Curiosamente no dia em Moacyr Scliar faleceu, 27 de fevereiro desse ano, 2011. Estava bebendo e discutindo com um amigo sobre a importância do autor e de seus livros no atual momento em que eu deixava de lado a constante dedicação aos poemas e voltava ao exercício de escrever crônicas.

Nesse período eu já havia lido outros títulos do autor, e mais que a satisfação pela leitura, havia a satisfação de poder dizer que tenho um autor brasileiro entre os meus prediletos. E das obras que já li alem de "O exército de um homem só", destacaria "A Mulher que escreveu a Bíblia", "Eu vos Abraço, Milhões" e "O Centauro no Jardim". Livros que me ajudaram a consolidar o prazer em escrever crônicas, histórias que me induziram a novos questionamentos, novas viagens à velhos rincões do mesmo ser. Se Neruda me instigou a mastigar toda a palavra e toda metáfora a fim de cuspir poemas, Se Saramago e Garcia Marquez me fizeram ver a ficção, com olhos de ficção, certamente Scliar me influenciou a manter uma tênue linha de realidade em toda ficção que a vida pode ter.

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