segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Trocando uma Idéia com Maquiavel

Entre um e outro devaneio, uma cuia de chimarrão. A memória falha pelo pessimismo e tento lembrar-me de coisas simples, dessas que já fizeram alguma diferença; Coisas que hoje ocupam algum lugar empoeirado na prateleira, ou em algum cantinho escuro da memória. É engraçado como as lembranças vão se acumulando desordenadas em nosso arquivo mental e mesmo empoeiradas e esquecidas, influenciam nossa vida.

Tudo isso acaba moldando nosso caráter. Apesar da ciência tentar atribuir isso às hereditariedades genéticas, não acredito que caráter seja uma informação latente ao DNA do individuo. Não acredito que as pessoas nasçam boas ou más. Quem faz isso, quem molda essa argila é a vida. Se a física diz que toda ação resulta uma reação, a vida também reflete isso nas pessoas. Mas a vida nunca foi e nem nunca será ciência exata. Das certezas que temos, quem sabe a morte. E ainda assim, da certeza sobre as certezas que temos, ainda questionamos se é possível ir alem da morte.

Entendo onde Maquiavel queria chegar quando disse que é melhor ser temido, que amado. Alimentei inconscientemente essa pratica durante muitos anos. E em algumas situações isso funcionou realmente, pelo ponto de segurança que se cria. Mas o cotidiano vai quebrando a rigidez dos nossos nervos de aço. Ninguém é absolutamente forte pra manter essa armadura espinhosa o tempo todo. E até mesmo eu que sempre me fechei na segurança do casulo, percebi que o mesmo casulo que afasta o perigo, afasta também o afago. Hoje acredito em uma trindade regida basicamente pelo Respeito.

Não quero ser amado por fé cega. Acho muita responsabilidade vestir uma roupa de herói afim de defender os oprimidos. Mesmo que durante anos esse tenha sido meu maior desejo. No fundo colocar-se nessa condição de herói protetor é só reflexo da necessidade de proteção. É quase um apelo de quem se sente tão frágil que precisa acreditar ter força de salvar o mundo, pra assim, salvar a própria pele.

Nunca salvei ninguém, nem a mim mesmo. E acho justo que alimentem ódios e rancores contra mim. Sempre fui humano a ponto de enlouquecer sem me importar com a imagem arranhada. Imagem mais que arranhada é a minha. Aos que alimentam algum ódio por mim, exijo apenas um bom motivo. E pra isso me encarrego de garantir que motivos não faltarão. E ainda assim com um bom motivo, em reciprocidade peço como gesto de cavalheirismo, que respeitem minha condição de humano errante, de caráter duvidoso, de qualidades e defeitos expostos feito carne crua.

No fundo nunca pensei em ser temido, nunca me agradou fazer esse tipo bad boy. Apesar da aparência sempre ter sido favorável, e da minha timidez só aumentar esse mito. Ainda hoje me pergunto se alguém realmente faz idéia de quem é o homem atrás da armadura, quem é a criança escondida no casulo. Mas isso pouco importa, quando as feridas começam a sangrar o seguro é fazer sangrar também quem as causou.

Eu não sei exatamente quem eu sou e se mereço ser temido ou amado. Não acredito que alguém possa responder essa pergunta sem antes ter estado nos mesmos lugares que eu. Ter tido os mesmos sonhos e os diversos pesadelos. Enfim, todos esses caminhos e vivencias que moldaram a ferro e fogo, uma criatura tão estranha. E a sobrevivência de estranhas criaturas depende da infalível capacidade de se isolar, de se esconder e fugir.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

De Volta ao Casulo...

Quem tem verdadeiramente consciência/capacidade de admitir os próprios erros..??? Quem entre nós; Eu, você e aqueles ali do outro lado da rua. Quem verdadeiramente consegue aceitar que é frágil e ingênuo diante dos próprios defeitos.???

Eu queria muito ser assim.

Tenho poucos vícios, assim como tenho poucos amigos. A intensidade sempre foi mais importante que qualquer outra coisa. Por isso afirmo que tenho os melhores amigos e tenho também os mais destrutivos vícios. Meus amigos também têm vícios que certamente vão alem dos vícios de linguagem, e essa característica de sermos humanos e imperfeitos nos aproxima ainda mais. Se sou careta pras chamadas drogas ilícitas, sempre tive um orgulho que beira a ignorância. Orgulho que foi construído pela minha geração de jovens alcoólatras.

Há muitos anos brigo com uma sina quase genética de procurar a melhor companhia, entre meus mais cruéis inimigos. Buscar o isolamento nos dias tristes é como agarrar-se a uma ancora, para salvar-se do naufrágio. Buscar conforto em um bom copo de uísque é a mais patética das fugas. Aquela ilusão nítida e cristalina de liberdade, que na verdade só faz encolher nossa própria jaula. Dizem que a gravidade de um vicio esta na frequencia com que ele coloca em risco as atividades do cotidiano. Eu diria que tambem está na frequencia com que coloca em xeque o nosso carater.

Meus amigos e vícios são responsáveis por grande parte das boas lembranças que tenho na vida. Eles muitas vezes me fizeram ter coragem de dar um passo adiante, ou de recuar quando era o mais sensato. Meus amigos sempre estiveram comigo nos momentos em que eu mais precisei, mesmo que fosse dando a liberdade de escolher o isolamento. Meus amigos, pessoas comuns, que assim como eu tem tantos vícios e defeitos. Amigos que, de fato não sei se mereço.

Meus vícios sempre potencializaram o talento incrível que tenho pra foder com tudo. E se estou escrevendo crônicas hoje, é mais por sorte do que por ter feito boas escolhas.

Mas antes que eu repita isso mais uma vez, e consciente que algumas decisões só chegam tarde demais. Preciso fazer valer esse pouco de caráter que tenho. Apesar de não ter autoestima suficiente pra superar todos os meus defeitos e vícios, há uma encruzilhada vital a minha frente e preciso escolher um caminho. E todos levam a uma grande peleja.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Crônica Anunciada: Muito Alem do Genero...

Para os que preferem a ciência, escreverei sobre o gênero feminino da espécie dos Homo sapiens. Biologicamente cromossomos XX. Assim como as demais criaturas sexuadas, Fêmea; Responsável por produzir gametas femininos e ser o "receptáculo" para a gestação dos filhotes da espécie. Antropologicamente, responsável pela coleta de alimento, pela criação e alimentação da prole. E pelo constante (incessante) enlouquecimento dos machos da espécie.

Mas há quem prefira outra abordagem. Então biblicamente ...

Concebida da costela de um certo boneco de barro chamado Adão. Responsável pela decadência desse mesmo homem, levando com suas voluptuosas formas que Adão caísse na tentação da libertinagem. Infantilmente metaforizada por uma serpente malvada e por uma suculenta maça. Talvez por essa culpa capital, fruto de uma lenga lenga sem fim chamada religião, seja historicamente subjugada como criatura inferior, e até mesmo com capacidade intelectual duvidosa. Já que do ponto de vista religioso, sempre teve um papel secundário ou até mesmo conflituoso.

Historicamente subjugada sem o menor constrangimento. Seja como moeda de troca entre beduínos nômades ou nobres ingleses. Queimada em fogueiras pela inquisição de uma igreja machista e sexista. Impura pela genética de um ciclo menstrual, pecadora por elevar a libido dos homens, e assim, levá-los a cometer loucuras "não inerentes" ao seu caráter.

Em uma crônica, na maioria das vezes, não consigo separar o que é didático do que é lúdico. Mesmo que o tema tenha mais peso pra um ou outro lado na gangorra. Sempre acabo misturando tudo, ironizando o que é didático e exagerando o que é lúdico. Quando aceitei a doce sugestão de escrever sobre um tema tão amplo, tentei imaginar como seria começar a trama dessa conversa. E havia uma idéia que ficava sempre muito clara. "Mulher é algo que vai muito alem do gênero". Ciência e religião são pragmáticos em suas abordagens, e isso deixa toda definição muito extrema. E todo extremismo é patético.

Talvez o melhor seja uma mistura romantizada de tudo que ciência e religião nos impõe. A genética progenitora, protetora ainda que frágil. Essa capacidade de ser mãe, de uma força transbordante, e ser filha, de ternura e graça. A capacidade enlouquecedora de ser a tempestade e ao mesmo tempo ser o melhor abrigo. Ao caralho então, ciência e religião com suas prolixas verdades absolutas. Pois verdadeiramente o único que consegue definir a mulher, é o poeta.