sexta-feira, 20 de julho de 2012

Memórias de Minhas Tristes Cordas de Nylon

Ontem entre um gole e outro de café, trocava as cordas daquele velho violão Crafter de quase 20 anos, de qual já falei por aqui. Pensava então que não gosto do meu café, e que cordas de nylon são um pouco como a vida. Eis minha tentativa humana e por isso, abundante de opiniões pessoais e pequenas ignorâncias, de tentar explicar como nosso lado "corda de nylon" se adéqua a vida.

Quando a gente troca as cordas de nylon de um violão, elas demoram um tempo até aceitar a tensão. Então você afina determinada corda e minutos depois ela cede e muda o tom da afinação. A corda é tensionada com perfeição num Sol e daqui a pouquinho ela já tá num esculhambado Fá sustenido. Até que com o tempo ela aceita a condição de ter sido criada para tal e acaba mantendo a afinação.

Mas não pra sempre... Quando envelhece ela volta a bagunçar as idéias, fica rouca e já não sabe quando é hora de ser Sol ou de ser Fá sustenido.

O individuo que pela própria definição é singular. O ser humano, portanto, é individuo.

Singular em cada uma de suas mais sutis características e único em cada detalhe de sua essência. Capaz de se relacionar com o meio ambiente e inclusive, com outros seres humanos. O individuo que pode ser homem ou mulher. Homem com sentimentos femininos ou mulher com sentimentos masculinos. Seres humanos, de desejos e sonhos; De medos e esperanças; Únicos porem, todos iguais.

E assim como uma corda de nylon, poucas coisas nesse individuo humano, são natas. Quase tudo na personalidade é adquirido pelas experiências de vida, pelas tensões e afinações que lhe foram atribuídas com o passar dos anos, por bem ou por mal. Por isso esse individuo não pode ser julgado pela cor, pelo credo, pelas preferências sexuais e muito menos pela posição que decide tomar perante este ou aquele assunto.

Isso irremediavelmente me lembra um trecho do livro "Memórias de Minhas Putas Tristes", de Gabriel García Marquez. Que diz:

"No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem."

"Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno."

Eis que a corda antes fielmente afinada, caduca suas frequencias, em suas definições mais intimas de certo e errado. E o individuo humano carregado de valores, muda.!!! Isso porque nada consegue ser definitivo quanto são as freqüências de um Sol ou de um Fá sustenido e como é minha falta de talento pra fazer café.

Um comentário:

  1. Perfeita a metafora.
    Esta a cada dia mais lucido... Ou serio o contrario?

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