terça-feira, 19 de julho de 2011

Façamos Silencio Pra Ouvir o Ultimo Suspiro...

Meu desejo maior nestes últimos dias, tem sido um pouco de silencio. Curioso pensar que é o mesmo silencio que me fez praguejar durante os últimos meses. Curioso e irônico, como escapar da morte num deserto escaldante pra morrer afogado ao encontrar um oasis. Talvez seja essa coisa que o Gessinger queira dizer com "Qual a droga que salva, qual a dose letal". Nos últimos meses, escrevi inúmeros poemas e crônicas. Algumas cartas também (dessas que nunca são enviadas ao destinatário). Os motivos que me levaram a escrever sempre foram extremos. Na maioria das vezes pra expressar a represa que se forma quando varias perguntas ficam sem resposta. Hora escrevi com amor, hora com medo, com saudades e com esperança. Não escrevia pensando em mudar o mundo, mas confesso o desejo de mudar o que sinto. Talvez mudar o que sentem algumas pessoas.

Tantas vezes escrevi em tom revolucionário, às vezes até sem acreditar no que escrevia. Na ânsia de contar histórias e vivencias; Milhares e milhares de devaneios de quem nunca fugiu do perigoso ato de pensar. Invoquei Marx (nunca Engels), quando queria entoar com dedo em riste, os discursos calados que me proibiram de fazer. Discursos raivosos de quem têm tanto a dizer, mas já não tem paciência pra "desenhar" suas teorias. Encarnei Che Guevara diante de uma platéia imperialista e capitalista, disfarçando ter forças sobre humanas pra sobreviver ao paredão de fuzilamento, dos olhares acusadores e das línguas afiadas. Sobrevivi, é o que parece, mas já não posso afirmar com total certeza.

Um dia me disseram que uma folha de papel rasgada, sempre será uma folha de papel rasgada. Mesmo que colada, ela nunca volta a ser papel intacto. É uma forma diferente de dizer aquilo que já disse aqui, sobre um homem nunca entrar duas vezes no mesmo rio. Hora muda o homem, hora muda o rio.

Durante os últimos meses, vivi situações novas e inusitadas até. Trilhos de uma estrada que em tantos anos ainda não tinha percorrido. Polaróides especiais de uma vida que, em tantos anos, eu ainda não havia vivido. Conheci pessoas e lugares. Sabores e sensações. O cheiro de novidade, definitivamente, foi uma constante nos últimos meses. Mas o cheiro de mofo, do velho e áspero silencio, das perguntas sem resposta, nunca se foi. Sempre escondido pelos cantos e pairando sorrateiro pelo ar na calada da noite. Não sou tão pessimista quanto pareço, acho até que sou otimista demais em situações extremas. Mas, minha sina sempre será a de acreditar que cedo ou tarde, o passado volta pra te cobrar dividas esquecidas. Não é medo, é força do habito. Eu tenho alguma coragem que me faz seguir desejando os rios de maior correnteza, mesmo sem saber nadar. Eu sei disso, sei que cedo ou tarde vou me foder pelas escolhas que faço, mas deixar de escolher seria deixar de viver.

Então, pra tentar acalmar toda essa angustia por tantas questões, tantas perguntas sem resposta, tantos paradigmas que caem do céu. O melhor seria mesmo um pouco de silencio. Desses de ficar quieto no escuro, mastigando cacos de vidro de um espelho retrovisor da história. Mas o mundo não para pra esperar que a gente resolva sair da cama, ou levantar da lona. Silencio é coisa rara, jóia preciosa que só tem valor, pra quem realmente precisa. O antídoto só salva, depois de ter sido envenenado.

No final de um e-mail que recebi há alguns dias, tinha essa frase:

"A águia voa sozinha, os corvos voam em bando, o tolo tem necessidade de companhia, e o sábio necessidade de solidão"

É bonito... Belas figuras de linguagem essas de águias, corvos, sábios e tolos. Mas é uma puta bobagem. Se em algum momento na vida me senti sábio, certamente não foi sozinho. E apesar de desejar imensamente um pouco de paz, de silencio. Nunca senti tanta necessidade de voltar ao bando. Paradoxal isso. Talvez eu fosse dessa vez, o calado do bando. Esse que busca o quarto mais escuro, pra clarear as idéias.

Um comentário:

  1. Essas são as inquietações da alma, isso significa estar vivo.

    Não há cheiro novo que sobressaia ao cheio do mofo, o mofo faz parte de você e o novo está começando a ser você e um dia será o velho.

    Agora pode ser o momento de absorver as pessoas novas, coisas novas, lugares novos e ao misturar as coisas velhas, faze-las a sua grande experiência que é seu viver... O silêncio faz parte da busca, e estar no meio do bando também, então você está bem vivo.
    E se um dia, você responder todas suas respostas, creio que você jaz neste mundo.

    (Me desculpe a invasão, mas ler seu textos me trazem também inquietações. Seria correto dizer, provocações, pois eles me fazem pensar além do meu normal)

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