segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Insônia e Conversa Pra Boi Dormir

Qual o sentido da vida.? Qual a cor do universo.? Qual o melhor horário pra conversar com as plantas.?

Não sei sobre o que escrever, mas a insônia me jogou pra frente do computador e com uma urgência de dizer alguma coisa importante. Resoluções de fim de ano, metas, promessas, perspectivas.? Não sei, qual a cor da vida, e o sentido do universo.? Tudo parece ter a mesma importância agora.

Na cabeceira da cama, entre a bagunça de carregadores de celular, passaporte e gaitas de boca, há alguns livros. A maioria desses livros eu ainda não li e fico enrolando porque acho que ainda não é hora. Eu não sei explicar qual é a hora certa pra começar a ler um determinado livro, de um determinado autor. Soa tão vago quanto perguntar qual o melhor horário pra conversar com as plantas, ou qual o momento exato de descascar uma laranja. Pra insônia que tem me acompanhado nesses dias, li de novo o "Memórias de minhas putas tristes". Já perdi a conta de quantas vezes li esse livro, e não sei dizer qual é a hora de parar. Tudo parece acontecer na hora errada ultimamente.

Nesse momento estou na casa da minha mãe, e isso traz sempre algumas sensações peculiares. Vivi aqui por alguns anos, mas tá tudo tão diferente que é como estar em um quarto de hotel. Quartos de hotel são sempre diferentes, mas, particularmente iguais. Quase como um suco de laranja que é exatamente igual a todos os outros, sem se parecer em nada com todos os outros. Eu sei, é bobagem. Quartos de hotel e sucos de laranja são como são, depende sempre do ponto de vista.

Nos últimos dias tenho viajado um pouco e os quartos de hotel às vezes se parecem com o quarto em que durmo, na casa da minha mãe. Mas é estranho acordar sem saber exatamente onde você esta. No próximo ano, não sei exatamente onde vou morar e agora fico com a impressão de que, por algum tempo, vou acordar sem saber se é um quarto de hotel ou se é minha casa. Acho que essa é mais uma dessas perguntas que eu não saberia responder e mesmo que soubesse, não teria a menor relevância.

Não costumo ter metas agressivas e complexas no começo do ano. Acho que as coisas se encaixam mesmo no segundo semestre. O primeiro semestre de um ano é só pra arrumar a bagunça do ano anterior. Na teoria, mas só na teoria. Sempre imaginei o ano assim, simétrico. Como um disco de vinil. Lado A e lado B com distintas propostas. Cresci ouvindo discos de vinil e sempre insisto nessa mágica de que ouvir música é algo complexo. Desde tirar o disco com cuidado da embalagem até o acompanhamento passo a passo do encarte. Os discos eram chamados álbuns, porque era a proposta visual da banda aliada à proposta musical da banda. Eu comprei poucos discos na minha vida, quando comecei a trabalhar nos meados de 1995, os discos já estavam saindo do mercado. Mas ainda me encanta perceber que o primeiro semestre de um ano, e o lado A de um disco, são absolutamente diferentes do lado B.

Talvez eu comece a dividir o ano em Lado A e Lado B pra sempre. Mas acho que com o tempo vai ficar complicado demais explicar que em algum momento da história, precisávamos separar as musicas em lados. Assim como fica complicado chamar de álbum um set list de músicas que tu baixa na internet. Acho que envelhecer é aceitar essas mudanças.

É sempre complicado entender, ao menos pra mim, como é o melhor jeito de aceitar que envelhecemos. A única coisa unânime nesse processo é que, não consigo ser otimista com coisas que vi dar errado repetidas vezes. Envelhecer é por certo, sofrer um desgaste nas vértebras e ficar mais baixo. Ter orelhas que nunca param de crescer e um pessimismo que nubla nossa visão do mundo.

Quando comecei o texto estava pensando em Neruda, "El libro de las Preguntas". Eu sei, não faz muito sentido essa minha associação, mas era um livro que deveria estar ali na cabeceira da cama. Pela janela eu vejo o sol nascendo e isso parece o chiado de quando acabou o primeiro lado do disco. Hora de virar, hora de tentar dormir...

Um comentário:

  1. Se o primeiro semestre serve pra arrumas as bagunças do ano anterior e no segundo as coisas se encaixam, no segundo semestre, as coisas não se encaixam tão bem não, logo, no próximo ano não se teriam coisas pra se arrumar.

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