segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Teoria das Verdades Tridimensionais

Das várias coisas que apenas os momentos "mesa de bar" proporcionam. Eis uma teoria que desenvolvi entre um e muitos copos de cerveja.

Verdades não são planas, são tridimensionais.

Para tentar explicar vou usar o seguinte modelo: Imaginamos um dado. Sabemos que o dado é um cubo e em cada um dos seus 6 lados esta gravado um numero de 1 a 6. Consideramos que essa é uma verdade imutável e chamaremos de "O Fato". No dado, o numero oposto ao numero 1 é o numero 6, do numero 2 é o numero 5 e do numero 3 é o numero 4. Esse fator é também é imutável.

Reunimos em uma mesa de quatro lugares, quatro pessoas com o compromisso de não mentir sobre os aspectos que observarem sobre "O Fato". Essa situação também será imutável.

O dado é lançado e o numero 1 fica com a face voltada para cima. Temos então a seguinte ordem sobre "O Fato":

- Nenhum dos quatro indivíduos pode mudar a posição do dado.
- Os quatro indivíduos conseguem ver que a face voltada pra cima é o numero 1.
- O numero 6 ficou com a face escondida e, portanto nenhum dos quatro indivíduos consegue vê-lo.
- Cada um consegue ver a face voltada em sua direção.

Apesar da matemática simples que gira em torno da figura do dado, devemos levar em conta que só vale como informação real sobre "O Fato" aquilo que cada individuo realmente observou. Não podemos considerar como verdadeira nenhuma dedução, por mais obvia que seja. Partimos do principio que cada um tem a seguinte informação sobre o "O Fato":

O Individuo "A" consegue observar a face numero 1 e a face numero 2.
O Individuo "B" consegue observar a face numero 1 e a face numero 3.
O Individuo "C" consegue observar a face numero 1 e a face numero 4.
O Individuo "D" consegue observar a face numero 1 e a face numero 5.

Sob a condição de não mentir e nem usar de deduções, fica claro que cada um dos indivíduos pode observar apenas 2 faces das 6 que representam o dado. Ou seja, apenas 30% dos fatos foram realmente comprovados para que as verdades individuais fossem formadas. Se perguntado sobre a verdade sobre "O Fato", o individuo "A" dirá 1 e 2, e esses são os seus aspectos sobre a verdade. Se esse individuo "A" tiver sua verdade comparada à verdade do individuo "B", apenas 50% das informações serão compatíveis, e isso colocaria sob duvida a veracidade do "Do Fato". Isso prova que a verdade tem aspectos que muitas vezes fogem ao nosso conhecimento, seja por falta de observação ou por estarem realmente ocultas à nossa condição avaliadora.

Ainda analisando as possibilidades sobre o tema, sabemos que é imutável a condição de cada individuo em não mentir sobre as informações que observaram no dado. Mas e se o individuo "C" e "D" omitirem a informação da face que estava voltada pra si? A regra diz que nenhum deles pode mentir sobre o fato, mas omitir tecnicamente seria contar apenas parte da verdade. Para os exemplos seguintes vamos considerar que: O individuo "C" omitiu parte das informações confirmando ter observado apenas a face que estava voltada para si, a face 4. Enquanto o individuo "D", que também omitiu parte das informações, afirma ter observado apenas a face voltada para cima, que era comum a todos, a face 1. A omissão de parte das informações tornaria a veracidade sobre os aspectos do "O Fato" ainda mais difíceis de serem avaliadas e, portanto a construção de uma verdade absoluta e única menos possível.

Várias Variáveis.

Baseado nas informações que cada individuo coletou, temos a seguinte estrutura sobre "O Fato".

Relação Individuo x Informação

Individuo "A" = Faces 1 e 2
Individuo "B" = Faces 1 e 3
Individuo "C" = Face  4
Individuo "D" = Face  1

O aspecto a ser levado em conta agora é a relação de credibilidade que cada individuo têm em seu grupo de convívio. Com observações individuais distintas, como essas informações serão aceitas no meio social. Por isso, ainda sob a condição de não mentir sobre a informação observada, suponhamos que cada um dos indivíduos precise levar a informação observada na mesa de teste, ao seu grupo de convívio.

O individuo "A" tem credibilidade em um grupo de 10 pessoas.
O individuo "B" tem credibilidade em um grupo de 20 pessoas.
O individuo "C" tem credibilidade em um grupo de 50 pessoas.
O individuo "D" tem credibilidade em um grupo de 100 pessoas.

Consideramos então que, apesar de divergirem em parte da informação repassada, os indivíduos "A", "B" e "D" têm em comum a face 1 como verdade. Enquanto o individuo "C" omitiu a face 1 informando apenas a face 4. É claro que, os indivíduos que não omitiram parte da informação tem uma riqueza maior sobre "O Fato", mas o numero de pessoas influenciadas pelos outros dois indivíduos é maior. E se avaliarmos que o individuo "C" tem plena credibilidade e de fato não esta mentindo, um número considerável de pessoas irá ignorar a verdade sobre a face 1, apenas por ela não ter sido mencionada pela sua fonte confiável de informação. Enquanto um numero ainda maior de pessoas, influenciadas pelos indivíduos "A" "B" e "D" supervalorizará a verdade que têm em comum, a face 1.

Esse pensamento serve para imaginar que, sobre um fato qualquer, existem mais aspectos que aqueles que imaginamos como verdadeiros. Nesse teste modelo imaginamos "O Fato" com um numero pequeno e determinado de variantes verdadeiras, e com a consideração de que em momento algum um fato falso foi colocado em questão. Mesmo que a credibilidade dos avaliadores seja imaculada, muitas vezes os fatos ficam muito distantes daquilo que representa o todo. Das 6 faces observadas no dado, apenas uma delas ficou em plena evidencia. Isso prova que o lugar comum de um fato repetido à exaustão nem sempre comprova a sua importância. A face 1 era lugar comum para todos os indivíduos, não mensuramos a importância de cada uma das faces e por isso, o que ficou oculto tem tanto valor quanto o que ficou explicito.

Sobre a omissão de determinadas faces, nesse caso proposital, pode ocorrer fora deste contexto também, se um dos indivíduos supervalorizar a face que lhe é mostrada com exclusividade. Deixando de observar àquela que é comum para todos. E assim também vale para o oposto, caso um individuo supervalorize a face comum a todos ignorando a face que esta voltada apenas para si.

O que podemos considerar, por fim, é que a verdade não depende dos indivíduos que observam ou avaliam. Mas ela jamais será plana o suficiente para que todos os seus aspectos sejam mensurados e levados em consideração da mesma forma, sob o mesmo ponto de vista. A análise individual nunca irá afetar a verdade, mas pode afetar a forma como a verdade será tratada no meio social. E esse aspecto serve desde uma conversa de mesa de bar, ou questões complexas, de como as religiões lidam com suas verdades, ou como a imprensa lida com a informação. Antes de avaliarmos, como indivíduos observadores ou como indivíduos que recebem a informação, devemos tentar mensurar a importância de cada um dos aspectos apresentados. E ainda tentar sempre aceitar que a perspectiva de um determinado individuo pode ser diferente da nossa, sem que ele esteja faltando com a verdade ou mal informado sobre os fatos. O que quase sempre resultará em verdades parciais, e tornando inviáveis as tais verdades absolutas.

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