quarta-feira, 6 de novembro de 2013

A Licença Poética dos Rascunhos Escritos à Lápis

"Pra entender basta uma noite de insônia, um sonho que não tem fim"

Acordar no meio da noite nunca foi um castigo, quando o resultado são momentos positivos de introspecção. Sentar na sacada sem se importar com o frio, sem evitar uma dose de uísque sem gelo; Sem evitar escrever outro poema. Talvez um daqueles rascunhos que nunca será passado a limpo. Cumplicidade talvez seja isso, conseguir em uma única palavra dar o tom pra uma vida toda, sem ao menos dar as caras. Sem a consagração autoral de uma obra escrita a lápis no papel de pão.

Quando criança, pra desespero da minha mãe, eu destruía quase todos os meus brinquedos. Com muita cola e alguma criatividade quase sempre consertava de novo depois, mas destruir/reconstruir sempre foi o melhor jeito de entender como as coisas funcionavam. Ainda faço isso toda vez que planejo uma nova receita de cerveja, ou um poema que precisa de rimas e versos pra virar canção. - Um problema que parece sem solução. Faço a autopsia de quase tudo, e no meio dessas engrenagens, vísceras e sangue, rimas e acordes, encontro o mecanismo que move cada impulso, cada sentimento. Sem a perspicácia ou o preciosismo de que tudo volte ao seu devido lugar.

Não sei se é mania ou particularidade, mas essa perspectiva de olhar pra dentro e procurar respostas ainda é mais efetiva que esperar respostas de fora. Acreditar que o tempo irá mudar a ordem das perguntas e consequentemente as respostas virão pelo correio fazendo toda a diferença. -Ou que tudo continuará sem sentido. O segredo sempre foi esse, construir muros, desconstruir muros. Construir ideais; Sonhos; Defeitos; Qualidades; Desconstruir e reconstruir. Um ciclo 'ad infinitum' de se prender e se soltar. Como se apenas a imagem da chuva molhando a terra, vista pela janela nunca será suficiente. Mania ou não, sempre foi preciso ir até lá e sujar as mãos de barro.

Nos rascunhos perdidos, esses escritos no papel de pão, não há espaço pro peso das vaidades. É preciso apreciar cada erro como se tudo fosse licença poética.

Tenho medo de vaidades; Tenho medo de quem coleciona troféus e não coleciona cicatrizes. Rótulos coloridos pra chamar a atenção e vender aquilo que não tá dentro da garrafa. Talvez seja inocência pensar assim, mas dentro dos muros não tenho consciência das trapaças e não quero ganhar ou perder em jogos de vaidades. Fora do muro, quero procurar os que se parecem comigo, sem julgamentos narcisistas de certo ou errado. Me encantam esses que tem a alma rasgada e cicatrizada. Esses que podem entender a necessidade de gritar alto um sonho ruim, ou de sussurrar um poema de amor. Construir e desconstruir muros me fez perceber o valor dessa sintonia que vai alem da simples comunicação, de palavras ditas a esmo e de conversas vazias. Cumplicidade talvez seja isso, conseguir em uma única palavra quebrar o muro e dar cara a uma vida, sem nem mudar o tom de voz.

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