segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Pensamentos Soltos de Um Saxofone Quieto...

Acho estranho olhar o céu e não ver estrelas. Não, não é o tempo que promete chuva. É toda essa fumaça. As luzes da cidade que vistas de cima deixam as ruas com um estranho tom de fogueira. Daqui de cima, procuro estrelas e só encontro uma cidade que dorme, ou finge que dorme, em sua fogueira de luzes artificiais. De vidas tão artificiais quanto o sabor de queijo na pipoca, que fiz agora de um jeito nada convencional no micro ondas.

Talvez o convencional seja exatamente isso; O artificial.

Tenho um saxofone e me encanta o quanto ele brilha. Um instrumento imponente em sua aura dourada. Tenho um saxofone que não toco. Primeiro porque sou um desastre e segundo porque o barulho incomoda os vizinhos. Sei que incomoda, sei que é um barulho chato. O que faço com ele ta longe de ser música, talvez se fosse música não incomodasse tanto, talvez se eu tocasse com mais freqüência o barulho iniciasse um processo de metamorfose, até sair do casulo, música. Mas estamos ancorados em um cíclico 0x0.

É uma equação simples, mas parece que nenhuma das partes esta afim de quebrar o gelo. Talvez porque quebrar o gelo faria muito barulho.

Sabe uma ironia.? Eu não fumo, mas às vezes fico me imaginando sentado no alto do prédio do lado, fumando enquanto vejo as estrelas. O curioso é que tenho medo de altura, e isso só torna o pensamento ainda mais absurdo. Eu não fumo, não ficaria em paz lá em cima, e eu sei, não da pra ver nenhuma estrela no céu dessa cidade em chamas.

Não tem grama nem aqui e nem nos prédios vizinhos, então talvez seja a capacidade de adaptação me dizendo que o terraço do prédio vizinho é mais legal que o meu.

Ainda sobre o saxofone, sabe o que é curioso.? Por mais imponente que seja esse instrumento dourado e elegante, ele não produz som nenhum sem uma lasca fina e precisa de bambu. Exatamente, debaixo da boquilha fica presa uma peça chamada de palheta. É a vibração dessa palheta que ressoa dentro do corpo do instrumento produzindo som. E por incrível que pareça, essa pequena palheta de bambu, da vida ao instrumento imponente e dourado sem levar a fama.

Os detalhes quase imperceptíveis fazem tanta diferença ás vezes. No dia a dia, estamos tão acostumados às convenções e cordialidades que alguns detalhes ficam escondidos, como a palheta de bambu debaixo do metal dourado. Esquecemos que às vezes um sorriso pode ser mais sincero que um discurso inteiro de frases feitas. Mencionar a importância da palheta de bambu não desmerece a habilidade de quem forjou o metal, muito menos o talento de quem toca o instrumento. Mas valoriza um detalhe fundamental no todo.

Por mais piegas que isso soe, é preciso alguma sensibilidade pra perceber a beleza dos detalhes. Pra entender que uma canção precisa de cada singela nota. Assim como é preciso sensibilidade pra ler um poema e entender o contexto daquilo que a metáfora diz, ou daquilo que a metáfora moldou em uma lasca fina de bambu pra não dizer nada. É preciso entender que o encanto pode estar no silêncio depois do riso, na cara de sono de quem se quer bem, nos detalhes que não podem ser explicados de um bem querer de notas soltas.

Terminando esse texto me dei conta que das tantas metaforas que usei, talvez estar no terraço do prédio vizinho, sem cigarros ou estrelas, seja um jeito interessante de olhar pra dentro da janela de onde surgem todos esses pensamentos. Assim, sentir medo de altura deixa de ser um detalhe importante. Talvez seja só um jeito artificial de estar em um outro lugar.

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