quarta-feira, 14 de maio de 2014

Sobre Sonhos e Medos

Acho que já escrevi sobre sonhos, e continuo sem entender à sua mecânica de criação. Às vezes tenho sonhos que se repetem durante um tempo e eu também não sei explicar seus motivos. Minha avó sempre tem explicações para os sonhos, sempre diz pra ter cuidado com isso ou aquilo, mas eu sempre entendo isso como um derivado do "leve um casaquinho".

Há algum tempo tenho um sonho que se repete. Às vezes com mais clareza de detalhes, outras vezes são apenas as sensações.

Tudo se passa em uma guerra medieval. Eu sigo à frente de uma pequena armada, não mais que 30 homens. Do outro lado um exercito inteiro com seus escudos e espadas. O meu pequeno exército é pífio perto de todos os outros soldados. Mas são eles que têm medo. Em algum momento lhes falo sobre sermos homens livres. Lembro disso com muita clareza "Hoje morreremos homens livres e nos encontraremos nos jardins de Valhalla".

Depois disso eu não me lembro de outras pessoas lutando comigo. Eu sigo caminhando firme, sempre em frente. Vejo meu reflexo refletido nos escudos dos inimigos. Eu não tenho armadura ou escudo, apenas um machado pequeno. Sinto o chão gelado e a cada passo meus pés afundando no gelo. Ainda assim me sinto mais forte. A imagem refletida nos escudos, a neve se agarrando à barba e o frio congelando os ossos. Mas me sinto cada vez mais forte e mais confiante. A cada passo os escudos tremem e é possível ver o medo nos olhos de cada um. Eu sozinho contra um exercito, mas eles é que sentiam medo.

Sinto-me extasiado, não sou soldado ou rei. Não sou herói, nem um deus, mas sou infalível, imbatível. Eu não sinto medo. Sinto cada músculo do meu corpo, sinto o frio e o vento, mas por mais certa a morte, não sinto medo.

Geralmente acordo quando meus pés não conseguem mais ir adiante no gelo, e quando acordo sempre sinto muito frio.

Não perguntei pra minha avó sobre o significado desses sonhos, mas resolvi escrever sobre isso porque na noite passada ele se repetiu, mas hoje, hoje sinto medo.

Fora do fantástico mundo dos sonhos, escolhi enfrentar exércitos muito maiores e eles não sentem medo do meu machado. Aqui fora, quem sente medo sou eu. Escolhi enfrentar minha maior luta, sem armadura ou escudo e sei que meu inimigo não vai tremer, e disso, sinto medo. Escolhi enfrentar o frio, ignorando o gelo sob meus pés, ignorando as possibilidades que certamente não são favoráveis. E a cada passo sei que sentirei medo.

Mas nada disso fugiu do meu consenso. Meu medo pode me tirar o sono, mas não impediu que eu fizesse minhas próprias escolhas. E eu prefiro acordar por não conseguir mais andar no gelo, do que envelhecer com a sensação de que meu medo não me permitiu correr riscos.

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